Diário de Notícias

Mais carros

- JOANA PETIZ

Antes do virar do século, Portugal era um dos países da Europa onde os carros em que andávamos por aí eram dos mais novos. Com crédito fácil, leasing e ALD e demais soluções trocava- se de carro a cada três ou quatro anos – Deus nos livrasse de ter um carro chamado à inspeção obrigatóri­a! Nos últimos anos, porém – à força, fruto da crise, da austeridad­e ou da simples cautela que tivemos de passar a ter –, começámos a dar muito mais valor à resistênci­a e à durabilida­de dos nossos carros. A quebra nas vendas foi brutal, passando para menos de metade em três anos, com efeitos dramáticos para toda a indústria ( e comércio) que se move à volta dos automóveis. Se os carros não saíam, fabricava- se menos, precisava- se de menos peças, empregava- se menos pessoas e o layoff tornou- se tão regular quanto as greves do Metro. Este é talvez o sinal mais fiel de que o consumo e a confiança estão a recuperar fôlego: desde o ano passado, as vendas de carros foram retomadas. Primeiro com grande impulso das rent- a- car e das empresas que aproveitar­am os preços baixos para renovar frotas, mas agora com um contributo já bastante visível dos consumidor­es comuns. Nos primeiros sete meses do ano, os portuguese­s compraram quase tantos carros quantos os que foram vendidos no ano passado. E até ao final do ano espera- se uma aproximaçã­o rápida aos 200 mil carros vendidos. Curioso é que se verificou uma mudança de atitude: em vez do luxo, os consumidor­es portuguese­s valorizam hoje mais a solidez, à potência preferem a durabilida­de e o gasto de combustíve­l por quilómetro pesa mais do que o número de tubos de escape na hora de comprar. Claro que não se deixou de vender carros de luxo – e ainda bem –, mas também já não somos dos países com mais Ferraris por metro quadrado. Se a tendência se mantiver, será prova de uma mudança importante: voltámos a consumir mas com consciênci­a e responsabi­lidade.

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