Mais carros
Antes do virar do século, Portugal era um dos países da Europa onde os carros em que andávamos por aí eram dos mais novos. Com crédito fácil, leasing e ALD e demais soluções trocava- se de carro a cada três ou quatro anos – Deus nos livrasse de ter um carro chamado à inspeção obrigatória! Nos últimos anos, porém – à força, fruto da crise, da austeridade ou da simples cautela que tivemos de passar a ter –, começámos a dar muito mais valor à resistência e à durabilidade dos nossos carros. A quebra nas vendas foi brutal, passando para menos de metade em três anos, com efeitos dramáticos para toda a indústria ( e comércio) que se move à volta dos automóveis. Se os carros não saíam, fabricava- se menos, precisava- se de menos peças, empregava- se menos pessoas e o layoff tornou- se tão regular quanto as greves do Metro. Este é talvez o sinal mais fiel de que o consumo e a confiança estão a recuperar fôlego: desde o ano passado, as vendas de carros foram retomadas. Primeiro com grande impulso das rent- a- car e das empresas que aproveitaram os preços baixos para renovar frotas, mas agora com um contributo já bastante visível dos consumidores comuns. Nos primeiros sete meses do ano, os portugueses compraram quase tantos carros quantos os que foram vendidos no ano passado. E até ao final do ano espera- se uma aproximação rápida aos 200 mil carros vendidos. Curioso é que se verificou uma mudança de atitude: em vez do luxo, os consumidores portugueses valorizam hoje mais a solidez, à potência preferem a durabilidade e o gasto de combustível por quilómetro pesa mais do que o número de tubos de escape na hora de comprar. Claro que não se deixou de vender carros de luxo – e ainda bem –, mas também já não somos dos países com mais Ferraris por metro quadrado. Se a tendência se mantiver, será prova de uma mudança importante: voltámos a consumir mas com consciência e responsabilidade.