Diário de Notícias

“A MINHA MULHER TEM MUITO MAIS COMPETÊNCI­A DO QUE EU PARA AS FINANÇAS”

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Um caso que ainda está na ordem do dia é o da falência do BES. Ficou surpreendi­do? Sim, totalmente. Não estava minimament­e à espera de que fosse possível. Os bancos, em todo o mundo, só existem porque as pessoas têm confiança neles. Há muito poucos bancos que possam dizer que as pessoas têm mais depósitos do que empréstimo­s. Em Portugal, creio que só o Crédito Agrícola é que está nessa situação. Quase todos os bancos emprestam muito mais do que têm em depósitos, para não falar do que têm em capital próprio. Portanto, se a certa altura há uma quebra de confiança, isso é fatal para um banco. Mas como é que acha que isto foi possível? As informaçõe­s que tenho é que isto começou com a nacionaliz­ação do banco, em 1975. Quando a família recomprou o banco, acabaram por contrair dí vi das grandes. E, provavelme­nte, essas dívidas é que nunca f oram saldadas e acabaram por ser disfarçada­s e escondidas, exatamente para não se perder a confiança no banco. Foi aí que começou o erro de esconder a verdadeira situação financeira. Se o governo tivesse feito o mesmo que fez com o BPN, a situação não tinha sido tão grave. Agora, o BPN era um banco muito pequeno com pouco interesse e que já custou ao Estado, se não me engano, à volta de 5000 milhões de euros. Esses sim, foram muito mal- empregados. Acha que o Estado devia ter salvado o BES? É difícil dar uma opinião do ponto de vista económico. Mas acho que podia ter pelo menos tentado. Perdeu dinheiro com o BES? Não, não. Tenho uma conta bancária lá mas por causa de empréstimo­s que foram feitos pela questão dos imóveis e isso continua a funcionar muito bem. Nunca tive nenhum problema. Não investiu em papel comercial? Não. Não. Até porque, o meu banco, por razões ideológica­s, é o crédito cooperativ­o, ou seja, o Crédito Agrícola. Em certa medida, considero que tem várias vantagens: uma, é porque é um banco que vai de baixo para cima. Ou seja, os agricultor­es são proprietár­ios das caixas agrícolas locais que, por sua vez, são proprietár­ias de um banco, que é a caixa central, que foi criada por dezenas e dezenas de caixas agrícolas locais. E, portanto, todo o sistema tem uma enorme transparên­cia. Além disso, tem um seguro junto do Banco de Portugal, desde há muitos anos, que garante 100% dos depósitos. E, durante muito tempo, não foi levado muito a sério pelo próprio Estado. Julgavam- no uma coisa de amadores, de agricultor­es e tal. Mas, com a crise, acabou por ver--se que, afinal, é preferível ser mais seguro e menos rentável. E esse é que é o seu banco. É. Desde criança que acreditei muito no cooperativ­ismo. E acredito no cooperativ­ismo em todas as suas formas, inclusive a parte financeira . Ago ra, dito isto, é óbvio que os bancos comerciais são indispensá­veis para a economia, até porque os utilizo também. Se quero construir ou restaurar este edifício, vou a um banco comercial, porque é esse o objetivo deles. Eles acompanham e controlam a maneira como – mais a minha mulher do que eu – gerimos a empresa familiar. A sua mulher é que é a ministra das Finanças. É. Mas a minha mulher é formada em Gestão e Economia, e portanto tem muito mais competênci­a do que eu para isto [ risos]. Mas que fique claro, não estou a pôr minimament­e em dúvida a utilidade e a necessidad­e da banca comercial e da banca privada. O que digo é que, como modelo, prefiro realmente a banca cooperativ­a.

Acredito no cooperativ­ismo em todas as suas formas, inclusive a parte financeira

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