Aparelho afasta Mota Pinto e relator do BES do Parlamento
Ex- vice- presidente de Ferreira Leite deixará de ser deputado mas mantém- se no conselho de fiscalização das secretas até 2017. Pedro Saraiva não sobreviveu à força da estrutura
Um foi escolhido pelo Parlamento para fiscalizar as secretas, outro foi relator da complexa e mediática comissão de inquérito ao BES. Paulo Mota Pinto e Pedro Saraiva têm em comum o facto de já não integrarem as listas de deputados do PSD, apesar de se terem destacado na legislatura. O DN apurou que estavam disponíveis para continuar. Mas nem sempre a competência é o suficiente e o aparelho laranja levou a melhor. Enquanto relator da comissão de inquérito ao BES, Pedro Saraiva foi elogiado por todas as bancadas. Até o coordenador do maior partido da oposição, Pedro Nuno Santos, confessou acerca do relatório: “Dificilmente teria feito melhor.” Mas isso de nada lhe valeu. Contactado pelo DN, Pedro Saraiva não quis comentar o assunto.
No PSD chegou a circular que Pedro Saraiva tinha pedido para sair, mas o DN apurou que o social- democrata demonstrou disponibilidade para continuar em lugar elegível. Nos últimos anos, havia si - do o número dois pelo círculo de Coimbra. Porém, ficou à margem das jogadas de bastidores na distrital e acabou por ficar de fora. Os lugares já são poucos e ainda há que contar com o CDS. No conselho nacional de quinta- feira, Passos Coelho pediu compreensão, lembrando não haver lugar para todos.
Ao DN o secretário- geral Matos Rosa – um dos que integraram a comissão que coordenou a escolha dos candidatos – adverte que “ser deputado não é uma profissão”. Sobre o caso de Pedro Saraiva em específico, o secretário- geral do PSD lembra que “houve muita gente que também teve elogios e fez um grande trabalho no Parlamento que também não está nas listas, caso do António Rodrigues ou do Nuno Reis, por exemplo”. Matos Rosa defende mesmo que “as listas correram muito bem, o processo foi transparente”. Paulo Mota Pinto também não quis comentar o motivo que levou à sua saída, limitando- se a dizer: “Espero que a coligação vença as eleições em outubro.”
Ao contrário do que t ambém chegou a circular, Paulo Mota Pinto não manifestou publicamente ( nem em privado) a intenção de não continuar. Foi mais uma vez preterido pelos nomes apresentados pelo aparelho: concelhias e distritais. Incluindo, claro, as cedências tácitas que são feitas às estruturas pela cúpula do partido.
Paulo Mota Pinto – que foi vice- presidente do partido com Ferreira Leite e chegou a ser cabeça de lista por Coimbra – saltou das listas apesar de ter sido nomeado pela Assembleia da Re pública para o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa ( CFSIRP). O mandato no CFSIRP vai até março de 2017 e Mota Pinto garantiu ao DN que, embora deixe de ser deputado em outubro, estará no cargo até ao fim. Mota Pinto também foi na última legislatura dos menos alinhados com a direção da bancada e do partido. Demarcou- se algumas vezes da posição oficial, alertando para a inconstitucionalidade de iniciativas legislativas como a “lista de pedófilos” e o crime de “enriquecimento injustificado”. Voltando às listas, o partido aprovou nos órgãos nacionais uma “regra geral” que impedia autarcas e dirigentes públicos de serem candidatos. Daí que tenham causado estranheza em alguns setores afetados algumas escolhas finais. O facto de o cabeça de lista por Évora, António Costa Silva, ser administrador do Inalentejo ( organismo que gere projetos no Alentejo), aprovado pela Cresap, e de Sandra Pereira, candidata por Lisboa, ser vereadora com pelouros em Odivelas pareciam exceções à regra. Mas não são. António Costa Silva justifica que não foi “sujeito a concurso público” e que o seu “mandato termina com a legislatura”. Logo, a regra não se aplica. Já no caso de Sandra Pereira, Matos Rosa justifica que a social- democrata “é vereadora na oposição, não sendo executiva”. Ou seja: “Não se furou a regra em nenhum caso.” Mesmo os que se sentem injustiçados optam pelo silêncio, pois não querem prejudicar o partido. Só o presidente da distrital de Leiria, Fernando Costa, confessou “mágoa” por não integrar as listas. A versão oficial é que não teve o apoio de nenhuma concelhia para integrar a lista de Leiria ( nem sequer a das Caldas da Rainha, seu antigo reduto, que preferiu Conceição Pereira). Ainda assim foi a votos na comissão política em disputa com Conceição Pereira, que venceu por 18 votos contra apenas dois nulos. Além disso, em virtude de ser vereador em Loures, é administrador da Valorsul.
Na autarquia onde está coligado com a CDU de Bernardino Soares, Fernando Costa tem sido contra a privatização da EGF, entre outras afrontas ao governo – situação que o próprio acredita ter influenciado esta decisão. O presidente do PSD- Leiria terá dito no conselho nacional tratar- se de retaliação por enfrentar Jorge Moreira da Silva.