Diário de Notícias

Geocaching: para esta caça ao tesouro só precisa do telemóvel

É a grande moda do século XXI e atrai cada vez mais portuguese­s. Já há mais de 30 mil praticante­s e basta um telemóvel para partir à descoberta das chamadas caches. Mas há perigos como demonstra a morte de um adepto

- JOANA CAPUCHO

O tesouro pode estar na praia, entre as montanhas ou no parque mais movimentad­o da cidade. Para localizar as chamadas geocaches, os praticante­s da caça ao tesouro do século XXI – geocaching – usam a tecnologia GPS. É estimado que sejam já cerca de 30 mil espalhados por todo o país. São pessoas de todas as idades que, com regularida­de, partem à descoberta das caixas, que podem ter diferentes tamanhos e formas e que estão, quase sempre, muito bem escondidas.

Quando começou a praticar a atividade, em 2008, Pedro Santos conhecia quase t odos os geo - cachers portuguese­s. Tratava- se de uma pequena comunidade. “Mas o número de praticante­s tem crescido exponencia­lmente”, diz ao DN. De GPS ou smartphone na mão, os geocachers partem à descoberta das caixas, seguindo informaçõe­s previament­e retiradas do site geocaching. com. Há até quem viaje para outros países à procura de caches.

Por todo o país, Pedro Santos estima que existam já 30 mil caches criadas pelos owners. Em todo o mundo, são mais de 2,5 milhões e aproximada­mente seis milhões de caçadores de tesouros. No interior de cada caixa há um bloco, em que os praticante­s deixam um registo, e podem existir pequenos objetos. Sobretudo em locais movimentad­os, a caça é feita com muita discrição, para que nenhum curioso se aperceba de que ali existe algo camuflado.

As questões relacionad­as com a segurança do geocaching estão na ordem do dia, depois de o geocacher José Andrade, 62 anos, ter sido encontrado sem vida, ontem, na serra de Aire. Decidiu sozinho procurar várias caches na zona, a última das quais a WWI, numa escarpa, uma decisão que, no entender de Pedro Santos, terá sido arriscada. Desde que começou a praticar, o administra­dor do portal geopt. org já descobriu 2200 caches, quase sempre acompanhad­o por amigos. “Não gosto nem recomendo que as pessoas façam geocaching sozinhas”, realça

Quando escolhe a caches, o prati cante ficalogo a saber qual o grau de dificuldad­e do desafio e o nível de perigosida­de do terreno. Varia entre zero e cinco e o mais elevado implica o uso de equipament­o técnico, como material de mergulho ou de escalada. “Não considero que seja uma atividade perigosa, mas a perigosida­de depende da forma como queremos chegar às caches”, sublinha. Muitos geocachers preferem atalhos aos trilhos recomendad­os. “E é aí que os acidentes podem acontecer.” Daí que Pedro não aconselhe ninguém a aventurar- se sozinho, algo que não faz nem mesmo no centro da cidade. “Gosto de partilhar a experiênci­a. Desfruto muito mais se for na companhia de alguém”, ressalva.

Ana Fitas, 26 anos, começou a praticar geocaching em 2012, desafiada por um casal amigo. Já encontrou 744 caches desde então. É sobretudo ao fi m de semana que se dedica à modalidade. “Mas conheço quem pratique todos os dias”, destaca. Quando questionad­a sobre o que a motiva, diz que gosta, sobretudo, de “explorar, de andar ao ar livre.” Quanto à segurança, tem como princípio não andar sozinha. “Há terrenos difíceis e aconselho sempre a que se vá com alguém”, indica. O terreno mais difícil que f ez estava classifica­do como 4.5. “Era uma escarpa e só fiz porque estava inserida num grupo. Há caches que só se conseguem f azer mesmo com ajuda.”

A cada cache está, quase sempre, associada uma aventura. Pedro Santos já andou quatro horas à procura de uma caixa em Mondim de Basto que nunca encontrou. No Gerês, ficou atolado à espera de ajuda até às 04.00. Em Viana do Castelo, subiu a uma chaminé a 75 metros de altura. “A adrenalina e a paisagem são espetacula­res”, afirma. Pelo meio, alguns arranhões provocados por quedas. Gosta de locais mais desafiante­s, onde pode conciliar o geocaching com outras atividades radicais.

Atualmente, destaca o administra­dor do geopt. org, é muito fácil praticar a atividade. Basta ter um smartphone, descarrega­r a aplicação e procurar a cache mais próxima. “E há muitas pessoas que não procuram informação rel acionada com a atividade.” Há regras essenciais como: levar sempre telemóvel e mantimento­s e avisar alguém.

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