Obama junta o clima ao legado. Mas não se livra de duras críticas
Presidente quer reduzir em 32% as emissões de gases poluentes até 2013 em relação aos dados de 2005. Setor do carvão e republicanos prometem bloqueio no Congresso e tribunais
Uma vez que “este é o momento certo para deixarmos um mundo melhor para os nossos filhos”, Barack Obama decidiu agir. O presidente dos EUA anunciou ontem um plano para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 32% nos próximos 15 anos, em relação aos níveis de 2015. Para isso vai promover a redução das centrais elétricas a carvão, favorecendo as energias renováveis, como a eólica e a solar. Mas se com este plano Obama – que deixa a Casa Branca em janeiro de 2017 – pretende inscrever o Clima no seu legado como presidente, a verdade é que para aplicar as propostas tem pela frente uma longa batalha, tanto com o setor do carvão como com a oposição republicana.
À frente do segundo maior poluidor mundial ( atrás da China), Obama lembrou ontem na Casa Branca que “só temos uma casa. Só temos um planeta. Não há plano B”. Diante de uma plateia cujos aplausos o interromperam várias vezes, o presidente admitiu: “Vai haver críticas, vai haver cínicos que vão dizer que não pode ser feito.” Mas Obama considerou essas críticas como “desculpas para a inação”.
A verdade é que ainda Obama não apresentara o plano já as reações choviam. Vários governadores, sobretudo republicanos, ameaçaram não aplicar os cortes nas emissões. Com as centrais movidas a carvão a produzir 39% da energia nos EUA, o setor promete recorrer aos tribunais para travar as propostas. Além de tentarem o bloqueio no Congresso, onde os republicanos têm maioria nas duas câmaras. O seu argumento? Estas medidas não vão só prejudicar a indústria do carvão, vão aumentar a conta da eletricidade dos americanos. E a associação da energia rural garante que os mais prejudicados pelo que diz ser um aumento “de 10%” nos preços, serão “os mais vulneráveis”. Obama rejeitou estas acusações, garantindo que o seu plano “vai poupar aos americanos em média 85 dólares por ano na fatura da energia”. A Casa Branca prevê ainda benefícios para os estados que apostem nas renováveis antes do fim do prazo de implementação, em 2022.
Com este plano, Obama tenta não só juntar o ambiente à lista dos seus legados – do Obamacare à aproximação a Cuba ( ver caixa) – como colocar o tema na agenda da campanha para as presidenciais de 2016. E se a favorita democrata, Hillary Clinton, já prometeu defender as medidas agora apresentadas, os republicanos preferem acusar Obama de estar a prejudicar o país. Para o senador Ted Cruz é simples: o aquecimento global não existe e os dados da temperatura provam- no. O também senador Marco Rubio preferiu não contestar os dados científicos, dando antes destaque ao facto de os americanos irem pagar mais pela eletricidade. Já o ex- governador da Florida Jeb Bush garantiu que o plano de Obama é inconstitucional e não irá resistir em tribunal.
Em 2014, Obama e o presidente chinês, Xi Jinping, anunciaram que EUA e China se comprometiam a reduzir significativamente as emissões de gases com efeito de estufa. E no início de 2015, o presidente americano prometeu adotar novas medidas para tornar mais limpas as centrais elétricas movidas a carvão de forma a facilitar um acordo sobre o ambiente na ONU. Mas o facto de nunca terem ratificado o Protocolo de Quioto veio pôr em causa nos últimos anos a credibilidade dos americanos no que toca ao ambiente.
Com a conferência de Paris sobre o Clima agendada para o fim do ano e com a ONU a trabalhar numa resolução que a BBC diz ainda ter mais de 80 páginas, o esforço de Obama pode ser essencial para pressionar os países mais reticentes a reduzir as emissões. “Nenhum país vai resolver o aquecimento global sozinho”, lembrou o presidente.