Diário de Notícias

“Agora todos perceberam que esta ideia faz sentido”

Na ressaca da segunda edição do Festival de Marvão, o diretor artístico faz um balanço e desvenda os planos para o futuro

- B E R NARDO MARI A NO

Ainda sem números oficiais, mas com certezas e convicção – e a memórias das “casas cheias” da véspera – Christoph Poppen é perentório: “Foi preciso muita coragem para lançar um festival desta dimensão, este ano, mas o r isco acabou por render, porque estou agora certo que todos percebem que esta ideia faz sentido!”

A “ideia” é o Festival de Música de Marvão que criou no ano passado. “Eu quero fazer as pessoas felizes e julgo que consegui, pois todos ficaram perfeitame­nte esmagados pela atmosfera de Marvão e pela combinação do impacto visual com música ao mais alto nível. Por isso, as pessoas deixaram Marvão felizes”, diz ao DN. E “música ao mais alto nível” é, para ele, a resposta à pergunta fundamenta­l: “Porquê atrair pessoas a Marvão para um evento destes?”

Christoph f ala de “um nível mu sical mesmo muito alto em que todos os artistas estiveram realmente ao seu melhor” e a sensação, agora, é de que “não houve um único evento que não me transmitis­se a sensação de que valera a pena incluí- lo no programa”, algo que é “ótimo”, pois “a se- gunda edição ainda é uma f ase experiment­al”.

Christoph ouviu quase tudo e afirma que “Clara Jumi Kang foi quem mais impression­ou”, por haver nela “uma junção rara de muitas qualidades” que a tornam “a mais notável violinista da atual geração mais jovem”.

Um maior envolvimen­to da população local e da zona é, crê, “um processo de crescente confiança nos eventos que lhes propomos” mas, em paralelo, há “a determinaç­ão séria de fazer mais eventos de entrada livre, futurament­e”. Mas já sente, agora, “quando passeio pelas ruas, como todos se me dirigem e expressam o seu orgulho, satisfação e gratidão por ter criado este festival aqui”.

Outra área que o deixa satisfeito foi a educativa: “Correu cem por cento bem. Os dois concertos [ Quarteto de Matosinhos e Teresa Gentil] estavam cheiíssimo­s – eu nem sabia que havia tantas crianças em Marvão!”, diz, rindo. Agora “é para prosseguir nesta via e introduzir variantes simples, como ensaios abertos com interação entre crianças e músicos”.

Variantes também nos locais dos concertos: “Nas ruínas romanas de Ammaia [ onde houve dois concertos], estou a pensar num outro local

Plateia cheia e uma centena nas muralhas no concerto final que integre mais as ruínas na cenografia; também descobri um novo local ao ar livre, muito próximo da vila, que tem excelente acústica e pode receber já em 2016 concertos de orquestras pequenas.”

A sala de honra do festival – o pátio do castelo – verá também mudanças: “Temos ideias concretas que espero se tornem em breve em planos e que passam por instalar uma estrutura sobre o palco, que proteja os músicos do vento e melhore a acústica do espaço.” Outro plano passa por “retomar a ideia, que tivemos de abandonar neste ano, de utilizar a praça de touros de Santo António das Areias”.

Quando lhe falam de este ser já o maior festival de música clássica em Portugal, responde: “Não estou aqui para competir nem roubar nada a ninguém. Faço este festival, porque não há para mim local mais atraente do que este no mundo pa - ra fazer algo assim.” Mas “a magia do local e o alto nível musical são uma dupla difícil de igualar”, reconhece. O maestro alemão que se apaixonou pela vila diz que organiza o festival “pela ambição de obter satisfação artística pessoal, a qual não terei se o nível musical não for o mais elevado possível”.

Instalado na vila com a família ( mulher e três filhos), Christoph Poppen vai agora “fazer o trabalho de casa desta edição e começar já a preparar a próxima”, mas sem que tal o impeça e à família de “apreciar o silêncio de Marvão”. Mas não será por muito tempo: daqui por duas semanas, irá dirigir na Coreia do Sul a Nona de Beethoven.

E para o ano cá estará: “Posso adiantar oficialmen­te que as da - tas do 3. º Festival são de 22 a 31 de julho.”

Quero Cantar para a Lua, Até ao Fim belíssimo Asas.

O último dia começou com uma Missa de Mozart integrada na missa dominical, que encheu a igreja; à tarde, noutra igreja também repleta, Clara Jumi Kang tocou Grieg, Debussy, Hubay e Vianna da Motta. Só pudemos ouvir Debussy ( a Sonata) e Hubáy ( Fantasia Carmen), mas o contraste que estabelece­m deu para ver bem a “massa” de que é feita Clara. O Debussy, então, foi um assombro!

Ao cair da tarde, a despedida com um concerto- festa dirigido por Christoph Poppen, num pátio do castelo a rebentar pelas costuras ( cerca de 500 pessoas). Lembramos um belo Octeto de Mendels - sohn pelos quartetos Signum e Hugo Wolf, os andamentos 1 e 3 da kleine Nachtmusik de Mozart, pela Kölner Kammerorch­ester, e a aparição- reedição- surpresa do violonceli­sta Danjulo Ishizaka.

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