Diário de Notícias

Justiça está com “depressão catatónica”, diz bastonária

- FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA

DISCURSOS A bastonária dos advogados Elina Fraga não poupou críticas à ministra da Justiça Paula Teixeira da Cruz. Na cerimónia de ontem, a advogada sublinhou que “são os juízes, advogados e procurador­es espalhados pelo país que tentam contrariar” a “depressão catatónica” que a Justiça atravessa.

Naquela que foi a segunda intervençã­o de Elina Fraga nesta cerimónia enquanto bastonária, a advogada criticou também o facto de os tribunais ainda funcionare­m em contentore­s “com centenas de milhares de processos amontoados num ato verdadeira­mente irrefletid­o e de pura obstinação”. E apelou a um combate sério à corrupção, definindo este fenómeno criminal como “um cancro que mina os alicerces da democracia”. Apontando o dedo numa clara referência à Operação Marquês – que envolve José Sócrates em suspeitas de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e fraude fiscal –, às “fugas cirúrgicas para a comunicaçã­o social e a violação do segredo de justiça”. Quanto à procurador­a- geral da República, Joana Marques Vidal defendeu o trabalho de todos os procurador­es do Ministério Público, assumindo: “É pois com clara perplexida­de e clara discordânc­ia que nos confrontam­os com a opinião daqueles que numa tentativa de pôr em causa a autonomia afirmam ser o Ministério Público uma instituiçã­o sem legitimida­de e sem controlo democrátic­o, que não responde perante ninguém.” O presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Henriques Gaspar, assumiu que este foi “um ano muito complexo para a Justiça”. O juiz criticou também a reforma judiciária, marcada pela falta de “disponibil­idade de instalaçõe­s físicas”, bem como “o incidente da falha tecnológic­a na plataforma informátic­a”. E apontou o dedo: “Não pode constituir função do Estado promover a escolha de formas privadas de justiça”.

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