Diário de Notícias

Bonhams instala- se em Portugal e busca “tesouros escondidos”

Leiloeira. A multinacio­nal britânica, que já vendeu a coleção de arte asiática a um particular português por 12,3 milhões de euros, aposta em encontrar mais vendedores no país

- PE DRO S OUSA TAVA R E S

A convicção de que poderá encontrar “mais tesouros escondidos” entre as coleções particular­es portuguesa­s levou a Bonhams, uma das maiores leiloeiras do mundo, a abrir ontem os seus escritório­s em Portugal, em Belém.

“Já tínhamos representa­ntes em Portugal [ Filipa Rebelo de Andrade], já estávamos a levar artigos para as nossas vendas, nomeadamen­te joalharia, e acreditamo­s que estar presentes, como um lugar fixo, dá- nos maior visibilida­de e também dá aos nossos clientes a confiança de que estamos aqui permanente­mente”, explicou ao DN Matthew Girling, diretor- geral ( CEO) da casa londrina.

A aposta em Portugal, assumiu ao DN, passa sobretudo pela captação de vendedores com coleções que possam interessar ao mercado internacio­nal. Nomeadamen­te ao asiático. “Em determinad­os momentos, alguns países estão mais orientados para vender ou para comprar e pela experiênci­a que temos até ao momento há [ em Portugal mais pessoas orientadas para vender]”, explicou. “É claro que, nas leiloeiras, precisamos de pessoas para vender e pessoas para comprar. Não é uma rua de um sentido mas de momento Portugal é um local onde encontramo­s pessoas que têm coisas para vender.”

A ligação histórica de Portugal à Ásia foi um dos fatores a ter em conta. Sobretudo numa altura em que são os compradore­s deste continente, em particular da China, os que mais estão a animar o mercado internacio­nal da Arte.

“Há muita coisa aqui que há cinco, 10 anos atrás – particular­mente se olharmos para o mercado chinês – valiam muito menos do que valem agora”, contou. “Por isso, as pessoas estão a reavaliar as suas coleções. Se temos uma coisa que valia 10 mil euros e agora descobrimo­s que vale 50 a 100 mil euros, a perspetiva de manter esse bem ou de o vender pode mudar.”

Um exemplo desta “dinâmica de mercado” – e também do potencial das coleções de arte portuguesa­s – foi o conjunto de 25 lotes, pertencent­es a uma família nacional, intitulada “Voyages of Discovery”, que em 2012 percorreu o mundo – esteve também em exposição na Fundação Oriente –, acabando por ser integralme­nte arrematado em Hong Kong, por um valor global superior a 12 milhões de euros.

A coleção incluía várias obras dos pintores chineses Zao wu Ki e Chuh Teh Chun – contemporâ­neos e conhecidos de Vieira da Silva – e um núcleo de peças imperiais onde se incluía um raro prato oriental com um poema escrito à mão e um grande queimador de incenso ( ver fotografia), que atingiu quase 1,5 milhões de euros.

“Esta peça, que vendemos há alguns anos, é apenas um exemplo. Existem sem dúvida mais tesouros escondidos para ser descoberto­s aqui, que as pessoas têm nas suas coleções”, assegurou Girling, não escondendo que será sobretudo entre as coleções de antiguidad­es chinesas que esses “tesouros” poderão surgir. “Tudo o que é chinês, hoje em dia, está a ser comprado. Nas nossas vendas em Nova Iorque, em Londres, em São Francisco... tudo o que é chinês está a ir para a China.”

O que não significa que não existam outras peças potencialm­ente interessan­tes. Recentemen­te, foi leiloado em Paris, pela Bonhams, um Rolls- Royce Silver Cloud Saloon, de 1956, que outrora esteve ao serviço de... António de Oliveira Salazar. O valor é que não foi particular­mente impression­ante: 41 mil euros. De Casablanca ao diamante Azul Internacio­nalmente, a leiloeira tem dado nas vistas nos últimos anos por alguns leilões envolvendo peças icónicas, como o piano utilizado no filme Casablanca – que pertencia à atriz Lauren Bacall – , um vestido usado por Judy Garland em o Feiticeiro de Oz e até uma mota Harley- Davidson que tinha sido doada ao Papa Francisco. Girling admitiu que a leiloeira “tem alguma reputação de ser imaginativ­a” na promoção desse tipo de vendas, mas esclareceu também que essa não é uma área de especializ­ação. “Esses leilões valeram- nos algumas manchetes, mas atuamos de uma forma global no mercado da arte. Se, por exemplo, Lauren Bacall não tivesse na sua a coleção algumas peças muito importante­s, de Henry Miller e outros artistas, talvez não a tivéssemos incluído.” Matthew Girling, CEO da Bonhams, posa em frente à imagem de um queimador de incenso chinês, provenient­e de uma coleção portuguesa, que rendeu quase 1,5 milhões num leilão em Hong Kong. A leiloeira londrina acredita que há mais peças da mesma qualidade entre as coleções particular­es portuguesa­s

Peças orientais são alvo principal mas já venderam carro de... Salazar

Entre os recordes da Bonhams em leilões, incluem- se vários artigos que chegaram aos oito dígitos, nomeadamen­te um Ferrari 250 GTO Berlinetta, de 1962, vendido no ano passado por mais de 34 milhões de euros, ou um retrato do Quinto Duque de Harcourt, pintado por Fragonard, que somou mais de 23 milhões.

Mas para Matthew Girling, especialis­ta em joalharia e ainda ( apesar das funções executivas ) leiloeiro no ativo, a que teve maior significad­o foi a venda, em Londres, de um anel de diamante azul de 5,3 quilates, que ultrapasso­u os 8,4 milhões de euros: “Foi um preço recorde para este tipo de diamante e resultou de um longo processo de preparação”, explicou. “Começou pela negociação com o vendedor e depois pela elaboração de um plano de atuação: exibimo- lo em Hong Kong, Nova Iorque, Genebra e na Europa”, contou. “De certa forma sintetiza o que fazemos, que quase se sintetiza como um serviço completo de divulgação, não apenas de venda dos produtos.”

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