Open House abre as portas do velhinho Observatório Astronómico
Arquitetura. Numa viagem ao séc. XIX, este é um dos 70 locais que abrem portas à boleia do evento que mostra a arquitetura de Lisboa
O Observatório Astronómico de Lisboa ( OAL) é uma peça de resistência construída no final do século XIX. Mantido tal como foi desenhado pelo francês Jean Colson e reabilitado há cerca de 15 anos, esconde- se entre a vegetação estudada pelos alunos do Instituto Superior de Agronomia, na Ajuda, atrás de um outro edifício da mesma cor ocre. Chega- se lá por uma estrada curta, porém sinuosa, até se dar de caras com o portão verde de ferro. Essa entrada sumptuosa, de traçado neoclássico, é o ponto de encontro de todos os que queiram visitar este edifício, amanhã, numa das quatro visitas organizadas no âmbito da Lisboa Open House. João Dias, astrofísico que se dedica à divulgação no Museu de História Natural da Universidade de Lisboa ( MNHNAC), fará duas visitas guiadas ao local ( 11.00 e 14.00), e o DN encontrou- o na quarta- feira, com os dois voluntários da Open House, estudantes de Arquitetura, que acompanham os visitantes hoje, às 12.00 e às 13.00.
“Aqui recebiam- se chefes de Estado e visitas oficiais”, explica João Dias, sublinhando a riqueza da sala central. O teto que suporta a cúpula e o maior telescópio deste observatório, os oito pilares pintados imitando mármore, as paredes altas, muitos móveis castanhos, ar pesado, “originais da época”. Há estantes, mesas de trabalho, pêndulos e até uma réplica do primeiro telefone de onde se fez uma chamada em Portugal, em 1877. Desta sala para a Escola Politécnica, onde D. Luís atribuía prémios e ouviu um solo de cornetim.
O edifício é igual ao observatório de Pulkovo, em São Petersburgo, na Rússia, onde trabalhou durante cinco anos o primeiro diretor desta casa, Frederico Tomás Oom, 1. Jean Colson foi o autor deste edifício, semelhante a um russo 2. O telescópio equatorial é o maior de todos os equipamentos que se podem ver no Observatório Astronómico de Lisboa 3. Na sala central, uma marca fixa o meridiano e dela partem os quatro pontos cardeais conta João Dias. O observatório foi instalado na Tapada da Ajuda, lugar de caçadas reais, por ser o melhor sítio de Lisboa para ver o céu.
Uma marca no chão regista o meridiano. É daqui que saem as várias salas do Observatório, rigorosamente orientadas a partir dos pontos cardeais. A norte media- se a latitude e longitude. A este determinava- se o meridiano e ainda é possível ver a cadeira desenhada por Campos Rodrigues para facilitar as observações, com rodas, encosto reclinado e estofado com um brocado carmim e vários instrumentos que ajudaram a melhorar as medições ( que vieram a provar- se, anos mais tarde, muito precisas). A oeste determina- se a Hora Legal. O telescópio ao centro acabaria destronado pelo Patek Philippe de quartzo nos anos 60 e nos anos 80 pelo relógio atómico, cuja localização é o segredo mais bem guardado dos astrónomos.
Cada sala alberga os instrumentos que para aqui foram encomendados ainda no século XIX. “Equipamentos muito bons”, não se cansa de explicar João Dias, mas em diversas ocasiões ultrapassados pelos acontecimentos: a implantação da República, em 1910, que relegou para segundo plano a ciência, tão cara aos reis. “D. Pedro V contribuiu com 50 contos de reis, D. Luís com 10 contos de reis”, conta. O outro revés foi o advento da astrofotografia, mais precisa que a astrometria. Por isso, o telescópio equatorial, a joia da coroa do Observatório, numa sala revestida a madeira no primeiro andar, é, de todos, o menos usado dos equipamentos do observatório. A cúpula abria e girava para se ver todo o céu. Tem 40 toneladas de peso e chegou de barco, da Alemanha.