Rodrigo Maranhão volta a ser feliz com o seu violão
Concertos. Músico brasileiro traz o último disco, Itinerário, para dois concertos: hoje em Lisboa, amanhã no Porto com António Zambujo
Antes de conhecer António Zambujo, o músico brasileiro Rodrigo Maranhão conheceu- lhe a voz. Foi numa das suas várias viagens a Portugal: “Sempre peço para ouvir música portuguesa no carro e quando ouvi a voz do Zambujo fiquei encantado, senti logo que havia ali uma grande ligação.” Iriam conhecer- se pouco depois, cara a cara, e a ligação deixou de ser apenas musical. “Começou uma amizade grande”, conta Rodrigo Maranhão numa conversa telefónica. Além de já terem feito dupla em espetáculos por terras brasileiras, encontraram- se também em disco: Zambujo participou no Itinerário de Maranhão e recebeu- o na sua Rua da Emenda, ambos de 2014. Agora é a vez de se encontrarem num palco português: António Zambujo e Rodrigo Maranhão tocam juntos, amanhã, no Porto, depois do concerto do músico brasileiro, a solo, que acontece nesta noite, em Lisboa.
Rodrigo Maranhão tem 45 anos e este é seu o Itinerário : jogador de basquetebol promissor, na juventude deixou o desporto para se dedicar à música. “Foi um baque familiar”, conta. “Música não é profissão”, disse- lhe o pai. Ele ainda tentou cursar jornalismo mas quando chegava a casa, em vez de se agarrar aos livros agarrava- se ao violão. Não havia volta a dar. “O violão era uma coisa muito só para mim, eu ficava sozinho, no quarto, compondo.” Enquanto estudava música na universidade, também fazia capoeira e foi aí, entre os amigos e as rodas de capoeira, que descobriu o cavaquinho e que percebeu que a música, além de um prazer individual, podia também ser uma fonte de rendimento. “O cavaquinho era o instrumento que me tirava de casa e foi o meu passaporte para eu viver da música.”
De então para cá, a carreira de Rodrigo Maranhão faz- se entre estes dois opostos: desde 1998 que participa nos blocos de Carnaval do Rio de Janeiro, onde toca e canta e dá toda a sua energia quase ao ponto de perder os sentidos de exaustão; ao mesmo tempo, as suas composições começaram a ser gravadas por algumas cantoras, como Maria Rita, Roberta Sá, Fernanda Abreu; e, aos poucos, Rodrigo Maranhão foi ganhando confiança na sua música e lançando discos – Bordado ( 2007), Passagem ( 2010) e agora Itinerário – em que mostra o seu lado mais íntimo e calmo, sozinho com o seu violão.
“Já tive muitas crises por conta disso. Por um lado, eu penso que se me dedicasse mais à minha carreira a solo eu já poderia estar noutro lugar, mas por outro lado talvez já tivesse parado no meio do cami- nho porque não teria dinheiro. Parte da minha renda vem do bloco.” Além disso, diz, “um lado ajuda o outro, um é necessário para o outro. Quando fico muito tempo no quarto compondo fico louco, quero ir para a rua, o que me salva é o bloco, é bando.” Até porque para ele a música está na rua, nas rodas de samba, nas rodas de choro, nas casas de fado quando vem a Portugal. “A música é vida. Gosto muito dessa imersão.”
Neste momento, Rodrigo Maranhão pensa que está pronto para se dedicar por inteiro ao seu violão. No Bangalafumenga, o seu bloco de Carnaval, está a passar o testemunho aos mais novos. E esta nova fase é já visível no Itinerário: “A gente faz tanta coisa para sobreviver como músico que acaba esquecendo a música. Fica uma coisa automática. Neste disco eu quis voltar ao prazer de fazer música, de experimentar, como fazia no início, sem pensar se vai vender, sem pensar em mais nada. Só para ser feliz. Só para me centrar no essencial, que é servir a música, essa minha companheira.” Uma companheira que não vai abandonar mais.