Diário de Notícias

Uma viagem pelo mundo com os bonecos de pano da Mandrágora

Integrado na Festa da Marioneta da Arte em Rede, o espetáculo Descobrido­res destina- se a bebés e crianças até aos 5 anos. Acontece numa tenda e tem uma única intérprete

- MARI A J OÃO C A E TA NO

“Aqui não há pressa. Respirem. E se ele chorar? Não há problema, ficamos a aguardar. E se ele quiser, podem sair e voltar a entrar. Respirem. Aqui não há pressa.” Pais e filhos, de pé, nos carrinhos, ao colo, estão todos à volta de Filipa, à entrada para o auditório. “A viagem já começou, há muito tempo, quando ele nasceu.” Filipa fala- lhes calmamente, quase em sussurro, mas as crianças não querem saber o que ela está a dizer, só têm olhos para o “bebé” que tem ao colo e que aconchega com tanto carinho ao mesmo tempo que começa a cantar- lhe uma cantiga de embalar. E é assim, com passos vagarosos, que caminhamos para o palco e entramos na tenda azul onde nos aninhamos todos, uns sentados nos bancos, nas almofadas ou ao colo, uns encostados, outros ainda encolhidos pela timidez, enquanto Filipa continua o embalo e canta “um abraço nos meus braços”.

Descobrido­res é um espetáculo do Teatro e Marionetas de Mandrágora que se estreou na semana passada, no Montijo, e que nos próximos dois meses vai andar em digressão nos arredores de Lisboa, integrado na Festa da Marioneta. Organizada pela Arte em Rede, esta festa apresenta oito espetáculo­s, duas oficinas e uma exposição em onze municípios – Abrantes, Al - cobaça, Almada, Barreiro, Moita- Baixa da Banheira, Montijo, Oeiras- Carnaxide, Palmela- Poceirão, Santarém, Sesimbra e Sobral de Monte Agraço. Há espetáculo­s estrangeir­os, como o Paper Bubbles, da companhia catalã Múcab Dans, e há outros que são para meninos mais velhos, como Peregrinaç­ão, da companhia Lafontana – Formas Animadas, baseado no livro de Fernão Mendes Pinto, e há espetá -

Filipa Mesquita criou e interpreta Descobrido­res, um espetáculo “como se fosse um abraço” culos que cruzam as técnicas tradiciona­is com a animação digital, como Por Este Rio Acima que a S. A. Marionetas – Teatro e Bonecos fez a partir do disco de Fausto Bordalo Dias ( toda a programaçã­o em www. artemrede. pt).

E há Descobrido­res, um espetáculo para crianças muito pequenas – há sessões pensadas para bebés até aos dois anos e outras para os que têm até cinco anos – que acontece dentro de uma tenda onde só cabem 40 pessoas. Filipa Mesquita, a criadora e única intérprete, pensou nele “como se fosse um abraço”, explica. “É uma experiênci­a de afetos. Para que pais e filhos saiam do seu quotidiano e vivam uma experiênci­a conjunta, artística, sensorial.” Com a ajuda da música de Fernando Mota e do universo de pano criado pela artista plástica Vânia Kosta ( a tenda, o vestido, todas as marionetas cosidas com mil pormenores), Filipa Mesquita convida os espectador­es para uma viagem “pelos diferentes território­s onde se fala português através da maternidad­e e dessa relação especial entre mãe e filho. A tenda é como um ventre materno. Seguro, íntimo, acolhedor”.

A narrativa é muito simples, dando apenas pistas para esta viagem – a cor da pele das marionetas, o batuque do samba, o dragão chinês – que vai passar por Portugal, África, Brasil, China, Índia e Timor. “E depois os pais poderão, se quiserem, desenvolve­r este tema em casa.” No final do espetáculo, os miúdos visitam a exposição de Vânia Kosta e podem explorar melhor todo aquele universo de pano, mexer e brincar com alguns bonecos, sem pressas. Como verdadeiro­s descobrido­res. “Não há aplausos. Não há fim. A viagem continua fora do palco.”

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