Esquerda pretende ter acordo fechado já nesta semana
PS, BE e PCP querem estar em condições de apresentar documento a Cavaco após a moção de rejeição ao governo de Passos
As negociações entre António Costa e Catarina Martins ainda não estão fechadas
NEGOCIAÇÕES O programa de governação das esquerdas deve estar fechado já nesta semana. Pelo menos, é isso que PS, BE e PCP pretendem e é nesse sentido que as três forças políticas estão a trabalhar, apurou o DN.
Embora o tempo seja agora um fator de menor pressão – uma vez que o Presidente da República indigitou Pedro Passos Coelho e o líder do PSD terá de tomar as diligências para formar o executivo e depois apresentar o programa de governo na Assembleia da República –, os três partidos tencionam estar em condições de levar a Belém, caso Cavaco Silva não feche liminarmente a porta a um governo de esquerda, um acordo escrito, com as traves mestras para a próxima legislatura.
Com o ónus de formar governo e a pressão da corrida contra do tempo do lado da coligação, ontem não houve qualquer encontro entre as equipas negociais dos partidos, cenário que hoje se deverá manter. Isto porque, apurou o DN, neste momento está a ser feito o trabalho de casa – contas e mais contas, leia-se –, em particular nas hostes socialistas para acomodar algumas das pretensões do BE e do PCP.
À esquerda existe a profunda convicção de que Cavaco jamais dará a sua bênção a um executivo liderado por António Costa com os apoios de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa sem que as condições acordadas lhe sejam apresentadas preto no branco, motivo pelo qual, como o DN escreveu ontem, estará até em equação uma sessão pública para a sua formalização.
Já quanto à rejeição do executivo PSD-CDS, já prometida por socialistas, comunistas e bloquistas, há dois cenários em cima da mesa: ou um texto único ou documentos diferentes com muitos pontos em comum que prenunciem o entendimento à beira de acontecer. Ou, como sinalizou ontem Catarina Martins, um primeiro sintoma dessa “convergência”.
Numa sessão pública na Amora, concelho do Seixal, a porta-voz nacional do Bloco referiu que a rejeição de um governo é um sinal de que existe uma alternativa. “No momento em que BE, PS e PCP rejeitarem um governo de minoria de direita, estão a dar um sinal ao país de que existe uma alternativa de convergência para quebrar o ciclo de empobrecimento. Uma moção de rejeição é mais do que isso, é também o momento de se afirmar que existe capacidade de fazer a convergência necessária para responder à emergência do país”, explicou.
Mesmo perante a iminência de um entendimento, a líder bloquista garantiu que o partido vai manter “toda a sua identidade” e vincou que nas conversas tripartidas têm sido abordadas questões como garantir que os rendimentos do trabalho não fiquem congelados, as privatizações ou o Estado social. Lugares de governo, acrescentou, não são tema de discussão – versão corroborada por Jerónimo de Sousa, em entrevista à TVI 24.
“Não andamos à procura de lugares de poder nem de favores de ninguém”, disse o secretário-geral comunista, que assegurou igualmente que a identidade marxista-leninista do partido não está a ser posta na gaveta.
Com muitas cautelas em relação ao acordo, Jerónimo lançou ainda a ideia de que o seu partido não tem contactado o BE. Apenas o PS. Catarina critica Cavaco Também ontem Catarina Martins aproveitou para lançar mais um ataque a Cavaco. Para a porta-voz do BE, o Presidente “vai ter de viver” com uma solução que respeite a democracia, referindo que foi o Chefe do Estado a lançar o país “na mais completa instabilidade”.
Sobre o teor da comunicação de Cavaco, foi perentória: “Não se limitou a indigitar Passos Coelho. (...) Disse que há partidos em que as pessoas votaram, mas que a opinião não pode valer. Só pode haver a democracia que o Presidente da República acha confortável. Isolou-se dos milhões em Portugal que, da esquerda à direita, acreditam na democracia.” OCTÁVIO LOUSADA OLIVEIRA e PAULA SÁ