Emprego perde fôlego ao fim de sete trimestres
O salário médio líquido dos trabalhadores por conta de outrem atingiu 829 euros no terceiro trimestre deste ano, mais quatro euros do que nos três meses anteriores. É o valor mais alto desde que a troika chegou a Lisboa. Este valor médio esconde os 1,2 milhões de portugueses que levam para casa no final de cada mês menos de 600 euros.
Quando em 2011 os juros pedidos pelos investidores para comprar títulos de dívida pública começavam a dar sinais claros de que Portugal dificilmente conseguiria escapar a um resgate, a média salarial dos portugueses era de 816 euros. Depois, caiu para um mínimo de 802 euros no arranque de 2014, altura em que iniciou uma subida, que tem sido mais acentuada desde o início deste ano.
Parte da explicação está na descida das tabelas de retenção na fonte do IRS para um milhão de famílias com filhos e na reversão de 20% do corte salarial da função pública. Economistas e analistas contactados pelo DN/Dinheiro Vivo admitem que esta subida reflita também alguma tendência das empresas para regressarem ao pagamento de prémios e outros extras remuneratórios que estiveram congelados na fase mais aguda da crise e quando o desemprego disparou para máximos históricos e o acesso ao crédito estava praticamente vedado.
“As empresas continuam a não mexer nos salários, mas começam a descongelar prémios de produtividade e de desempenho”, afirma Afonso Carvalho, presidente da Associação Portuguesa das Empresas do Setor Privado de Emprego. Tiago Borges, da Mercer Portugal, concorda com esta leitura, mas lembra que a descida da taxa de desemprego veio também impor alguma pressão sobre as empresas para que comecem a subir os salários. “As empresas voltaram a sentir necessidade de introduzir incrementos salariais diferenciados”.
Os dados ontem divulgados pelo INE revelam, contudo, uma estagnação na descida da taxa do desemprego e um abrandamento na criação de emprego (ver texto ao lado). A taxa de desemprego manteve-se inalterada nos 11,9% face ao segundo trimestre (altura em que tinha registado uma expressiva queda de 1,8 pontos), tendo recuado 1,2 pontos percentuais em termos homólogos. Em termos de população isto significa que Portugal chegou ao final de setembro com 618,8 mil desempregados – menos 1,6 mil do que em junho e menos 70,1 mil do que no terceiro trimestre de 2014.
Na comparação em cadeia, o desemprego afetou os mais jovens (com a taxa a subir de 29,8% para 30,8%), as mulheres e as pessoas com ensino superior (o que se deve ao facto de este trimestre coincidir com a chegada ao mercado de trabalho dos recém-licenciados).
O universo de trabalhadores por conta de outrem registou um acréscimo no terceiro trimestre (em termos homólogos e em cadeia), atingindo 3,743 milhões de pessoas, o que leva a que o trabalho dependente represente 63% do emprego total. Segundo o INE, 145,1 mil destes trabalhadores dependentes ganham menos de 300 euros líquidos por mês. Se a estes se juntar os que recebem até 6900 euros, o universo sobe para um terço (32%) daquele total. Com uma remuneração inferior ou próxima da média nacional (829 euros) estão ainda as 1071,6 mil pessoas, que recebem entre 600 e 900 euros por mês.
A análise das remunerações por região mostra, por outro lado, que apenas em Lisboa e Vale do Tejo os salários líquidos superam a média nacional, atingindo 997 euros por mês. A estagnação na descida do desemprego foi acompanhada de um recuo no número de pessoas empregadas, com o INE a dar conta de uma diminuição de 5,5 mil empregos no segundo e no terceiro trimestres deste ano. Na comparação homóloga, o resultado é positivo, mas a variação foi a mais fraca entre as observadas nos últimos sete trimestres.
“Em relação ao trimestre homólogo de 2014, a população empregada aumentou 0,2% (10,2 mil), bastante menos do que as variações homólogas registadas nos sete trimestres anteriores”, refere o inquérito ao emprego ontem divulgado pela autoridade estatística nacional. A queda em cadeia no emprego seguiu-se a um aumento de 2,3% (que se traduziu numa subida de 103,7 mil pessoas empregadas), observada no segundo trimestre deste ano. As mulheres, as pessoas com mais de 25 anos e com escolaridade completa foram as mais afetadas por este decréscimo.
Os dados do INE mostram também que o universo de trabalhadores por conta de outrem aumentou quer na evolução trimestral quer na homóloga, mas a análise dos números permite perceber que uma parte desta subida foi feita à custa de contratos a prazo. No final do terceiro trimestre, contavam-se mais cerca de 20 mil trabalhadores precários do que em setembro de 2014 e mais cerca de cinco mil face a junho. L.T.