Diário de Notícias

Victor Ponta demite-se após incêndio em clube noturno

Primeiro-ministro deixa poder depois de protesto pela morte de 32 pessoas e críticas à forma como são concedidas licenças

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ROMÉNIA Victor Ponta sobreviveu a duas moções de censura, a acusações de corrupção e à hostilidad­e pessoal de dois presidente­s. Mas o primeiro-ministro romeno não sobreviveu a um incêndio num clube noturno de Bucareste, que matou 32 pessoas e levou outras 20 mil a exigir nas ruas responsabi­lização política. “Posso enfrentar qualquer batalha política, mas não posso lutar contra as pessoas”, disse Ponta quando anunciou a demissão.

O incêndio no clube Colectiv começou na sexta-feira à noite, quando o fogo-de-artifício usado num dos espetáculo­s incendiou a espuma isoladora de um pilar e se espalhou rapidament­e, causando uma debandada. No interior estavam cerca de 400 pessoas e além dos 32 mortos houve quase 200 feridos. Os romenos, há muito críticos da forma como as licenças de utilização destes espaços são aprovadas, acusaram as autoridade­s locais de falhas nas inspeções. Nas redes sociais, espalhou-se a hashtag #Corruption­Kills (a corrupção mata). E 20 mil saíram à rua para mostrar o seu descontent­amento.

“Espero que a demissão do governo satisfaça os manifestan­tes”, acrescento­u o ex-primeiro-ministro. Ponta foi o primeiro líder do governo acusado de falsificaç­ão, lavagem de dinheiro e cúmplice de evasão fiscal durante os anos em que foi advogado. Deverá responder em tribunal ainda neste mês, tendo negado os crimes. Eleito em 2012, liderou uma tentativa de afastar o ex-presidente Traian Basescu e acabou derrotado nas presidenci­ais de 2014 frente a Klaus Iohannis.

“Ontem [terça-feira] à noite, a indignação transformo­u-se em revolta. Não podemos acreditar que uma simples mudança de governo vá resolver os problemas dos romenos. Há mais a fazer”, disse Iohannis, que vai começar hoje a ouvir os partidos para nomear o novo primeiro-ministro. O Partido Social-Democrata, apoiado pela União Nacional para o Progresso da Roménia, tem a maioria no Parlamento. Segundo a Constituiç­ão, o escolhido tem de passar um voto de confiança. A hipótese de eleições antecipada­s (as próximas estão marcadas só para dezembro de 2016) não está em cima da mesa, mas será a opção caso o Parlamento não aprove dois nomes apresentad­os pelo presidente.

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