Erdogan insiste: mudar Constituição turca é uma prioridade
AKP precisa de 13 deputados para referendo constitucional. Presidente turco apela a partidos da oposição para colaborarem
Presidente turco fez ontem o seu primeiro grande discurso após vitória eleitoral do AKP no domingo
PATRÍCIA VIEGAS Encorajado pela maioria absoluta que o seu partido recuperou nas legislativas do dia 1, domingo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, insistiu ontem na urgência de alterar a Constituição do país. Esta permitiria nomeadamente o reforço dos poderes do chefe do Estado, passando o essencial do poder executivo das mãos do primeiro-ministro para as do presidente.
“Uma das mais importantes mensagens das eleições de 1 de novembro é resolver a questão de uma nova Constituição”, disse Erdogan, no seu primeiro grande discurso após a vitória do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) nas legislativas de domingo. Nesse escrutínio, o partido islamita moderado obteve 49,4% dos votos e 317 deputados num total de 550. Precisa de pelo menos mais 13 para conseguir convocar um referendo sobre uma nova Constituição para a Turquia.
No discurso que ontem fez no seu palácio em Ancara, transmitido pela televisão, Erdogan, presidente desde 28 de agosto de 2014, precisou que o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, vai agora encetar consultas com os líderes dos partidos da oposição para averiguar do seu grau de apoio a uma revisão constitucional. Os opositores do AKP temem, porém, que uma alteração da Constituição signifique depositar demasiado poder nas mãos de Erdogan, um líder que consideram sofrer já de excesso de autoritarismo. Ainda antes da intervenção televisiva do chefe do Estado turco, o seu porta-voz, Ibrahim Kalin, sugeriu que a questão constitucional poderia ser resolvida através de consulta popular. “Procuraremos os conselhos do povo. Se o mecanismo para aí chegar é um referendo, então será esse o caso”, indicou Kalin, citado pela agência noticiosa Reuters. Bloqueio dará julgamento Em jeito de recado à oposição, o presidente turco afirmou: “Espero que os partidos da oposição não falhem em contribuir para o trabalho sobre este assunto. Se tentarem bloquear o processo serão julgados por isso nas próximas eleições, dentro de quatro anos.” Nas eleições legislativas em que o AKP conquistou o primeiro lugar, o Partido Republicano Popular ficou em segundo, com 25,4% dos votos e 134 deputados eleitos para o Parlamento da Turquia. Em terceiro ficou o Movimento Nacionalista MHP, com 11,9% e 40 eleitos, seguido do Partido Democrático Popular (HDP), pró-curdo, com 10,7% dos votos e 59 deputados.
Na intervenção que fez, Erdogan garantiu que a luta do Estado turco contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, PKK, vai continuar. “Quem quer tornar a nossa vida insuportável fique ciente de que nós é que vamos tornar as suas vidas insuportáveis”, garantiu, numa aparente referência aos confrontos entre as forças de segurança turcas e os rebeldes do PKK na zona do sudeste da Turquia. Erdogan prometeu que a luta contra o grupo considerado terrorista pela UE e pelos Estados Unidos vai prosseguir até que o último rebelde do mesmo seja “liquidado”.
A Turquia iniciou ataques contra as posições do PKK ao mesmo tempo em que começou os bombardeamentos contra os terroristas do Estado Islâmico na Síria em julho. Desde então têm-se sucedido os confrontos entre as duas partes. Ontem, no sudeste do país, 17 pessoas, na maioria militantes do PKK, morreram nos combates entre as forças turcas e os rebeldes. Foi ainda decretado o recolher obrigatório em 22 aldeias de dois distritos provinciais daquela zona.