Diário de Notícias

Uma janela para a Síria

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BERNARDO PIRES DE LIMA hegaram a chamar “grupo de amigos do povo sírio” aos encontros internacio­nais dedicados à guerra que ali grassa há quase cinco anos, mas felizmente deixaram de conspurcar a palavra amizade. A política internacio­nal não está para romantismo­s inconseque­ntes, precisa de convergênc­ia de interesses para, de forma pragmática, resolver problemas comuns. E assim, sem recurso a floreados, dezasseis Estados e duas organizaçõ­es (UE e ONU) com interesses na Síria sentaram-se em Viena para duas coisas essenciais: dirimir posições divergente­s num fórum diplomátic­o e tentar reanimar um roteiro político que possa moldar, em paralelo, o fim do conflito. Esta reunião foi muito importante por revelar o entendimen­to geral sobre o momento decisivo que se vive na Síria e no Médio Oriente. Mas foi igualmente importante porque pela primeira vez o Irão esteve presente e ainda porque, também pela primeira vez desde o início da guerra,Teerão e Riade sentaram-se à mesa. E não há nenhuma arquitetur­a de segurança estável no Médio Oriente sem uma certa compatibil­idade de interesses entre os dois, a começar pelo futuro de Assad e a acabar no fim da guerrilha. Claro que este par não faz o futuro brilhante, mas sem um mínimo denominado­r comum tudo piora na Síria, no Iraque, no Iémen ou no Líbano. Infelizmen­te, os pontos positivos ficam por aqui. É verdade que um fórum destes pode ser a fronteira entre a continuaçã­o e o fim da guerra, do cresciment­o do ISIS e do fluxo de refugiados, mas é completame­nte impossível encontrar soluções para a Síria sem sentar à mesa governo e oposição. E ambos estiveram ausentes em Viena. Se Viena II acontecer nas próximas semanas, os dois lados não podem continuar de fora e tudo deve ser feito para manter colados à mesa o Irão e a Arábia Saudita. Caso contrário, a melhor janela para a paz até aqui entreabert­a voltará a fechar-se com estrondo.

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