Diário de Notícias

Archie Shepp e Maria Schneider regressam ao Guimarães Jazz

A 24.ª edição de um dos mais importante­s festivais de jazz do país arranca hoje pelas 22.00 e é marcada pelo regresso a Portugal de nomes maiores

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JOÃO MOÇO O equilíbrio entre a contempora­neidade e a memória, entre a tradição e as novas correntes que hoje se começam a delinear no vasto mundo do jazz, tem sido uma caracterís­tica basilar na história do Guimarães Jazz, que a partir de hoje volta uma vez mais ao Centro Cultural Vila Flor (mas não só), para a sua 24.ª edição. Um ano marcado por regressos a palcos portuguese­s de artistas que têm feito a história do jazz até aos nossos dias, de um veterano, como Archie Shepp, a um bem mais novo, ainda que com talento já firmado, como Jason Moran, entre outros.

Apesar dos seus quase 80 anos de vida (conta hoje com 78), Archie Shepp atuou apenas por duas vezes em Portugal, nomeadamen­te na Casa da Música, em 2006, e no Algarve, em 2010. Daí que o seu concerto na reta final do Guimarães Jazz, a 13 de novembro, no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, seja, de facto, uma oportunida­de para ver ao vivo uma verdadeira lenda na história do jazz.

O saxofonist­a norte-americano teve um papel fulcral no desenvolvi­mento do free jazz, sendo célebres as suas colaboraçõ­es com outros nomes maiores como Cecil Taylor ou John Coltrane. É também fundamenta­l no seu percurso o abraçar do afrocentri­smo e do espírito da música negra norte-americana, algo que começou a ganhar preponderâ­ncia em meados dos anos 1960, quando lançou o álbum Fire Music (1965), que incluía a leitura de uma elegia para Malcolm X. O seu ativismo político ficou ainda bem demarcado em álbuns como Attica Blues (1972), uma resposta direta aos motins na prisão de Attica, ou The Cry of My People (1972), no qual clamou pelos direitos civis.

Este veterano é um nome fundamenta­l do jazz e em Guimarães estará acompanhad­o de Carly Henry Morisset, no piano, Darryl Hall, no contrabaix­o, e Steve McCraven, na bateria.

O pianista Jason Moran é outro dos óbvios destaques desta 24.ª edição do Guimarães Jazz, sendo considerad­o por muitos como um dos mais virtuosos e criativos pianistas de jazz da atualidade. Tendo já passado por este festival em 2005 (ano em que atuou a solo e ao lado de Ralph Alessi) e em 2010 (como membro do New Quartet de Charles Lloyd), o norte-americano de 40 anos vai apresentar neste sábado no Centro CulturalVi­la Flor o projeto FatsWaller Dance Party, no qual propõe uma revisitaçã­o do repertório de Fats Waller, pianista que marcou o jazz na primeira metade do século XX. Segundo a organizaçã­o, “este espetáculo correspond­e a uma viagem no tempo, recriando a atmosfera de Harlem dos anos 20 e 30 do século passado, época em que o jazz se afirmava como música popular”. Oregon voltam 19 anos depois O arranque do Guimarães Jazz, hoje, pelas 22.00, será feito também com um regresso, ainda que mais longínquo. Dezanove anos depois de terem atuado neste mesmo festival, voltam os Oregon, que, além de dois dos seus fundadores, Ralph Towner e Paul McCandless, contam ainda com Mark Walker e Paolino Dalla Porta. Grupo com mais de 40 anos de história, têm vindo a retomar as ligações a uma música de cariz étnico, como é visível no álbum Family Tree (2012), que será agora apresentad­o em Guimarães.

Mas como o festival vive também do jazz dos nossos dias, além de Jason Moran há que destacar o Chloet Känzig Papaux Trio, formado em 2002, praticante de um jazz de densidade lírica e que acaba por representa­r a Europa nesta 24.ª edição do Guimarães Jazz, a par do trompetist­a Taylor Ho Bynum, nome emergente na cena jazzista nova-iorquina e que já no ano passado marcou presença no festival.

Taylor Ho Bynum vai não só atuar com o seu quinteto, no próximo dia 11, mas também dirigir, ao lado da violonceli­sta e compositor­a Tomeka Reid, uma série de workshops com os alunos da ESMAE. Esses workshops resultarão no concerto da Big Band e Ensemble de Cordas da ESMAE deste domingo. “Das suas composiçõe­s podemos esperar uma ampla liberdade formal e estruturas

Documentár­io

vai contar a história do em Guimarães

Archie Shepp teve papel fulcral no desenvolvi­mento do free jazz heterodoxa­s”, promete a organizaçã­o.

O jazz praticado em Portugal terá ainda representa­ção com o concerto do Projeto Guimarães Jazz/Porta-Jazz. Esta parceria com a Associação Porta-Jazz, estabeleci­da no Porto e dedicada à divulgação dos mais jovens músicos portuguese­s, será materializ­ada com o concerto dos portuguese­s José Pedro Coelho, nos saxofones, e Eurico Costa, na guitarra elétrica, com os franceses Sylvain Darrifourc­q, na bateria, e Nicolas Canot, na eletrónica. Este será também um espetáculo com enfoque nas artes visuais.

Uma das novidades do programa deste ano é a apresentaç­ão do primeiro capítulo do documentár­io Uma História de Jazz, que, segundo a organizaçã­o, “pretende contar a história do jazz em Guimarães”.

O festival termina no dia 14 com o concerto da célebre Maria Schneider Orchestra, sendo a terceira vez que a compositor­a e líder de orquestra atua no festival.

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