Cavaco apoiou moção de rejeição em 1999
MEMÓRIA Alguns dos responsáveis políticos que ontem se opuseram na discussão sobre o programa do governo PSD-CDS estiveram no debate parlamentar que apreciou, em 1999, a moção de rejeição apresentada pelos sociais-democratas ao então recém-empossado executivo socialista de António Guterres.
A 4 de novembro de 1999, num Parlamento em que o PS tinha o mesmo número – 115 – de deputados que toda a oposição junta, o PSD liderado por Durão Barroso decidiu apresentar uma moção de rejeição ao programa de governo de António Guterres – depois de o Bloco de Esquerda ter anunciado que o iria fazer.
Cavaco Silva, sem funções políticas, deu, dias depois, uma entrevista ao DN em que qualificou como “politicamente correta” a moção de rejeição entregue pelo PSD. “Tendo o governo [socialista] apresentado como programa uma fotocópia do programa eleitoral do PS, e perante o resultado eleitoral verificado, estranho seria que o PSD se abstivesse na votação que ocorreu”, explicou o agora Presidente da República.
“Quem no PSD não entende que é assim que o partido pode regressar às vitórias das duas uma: ou tem pouca visão de futuro ou já absorveu a linguagem da pretensa responsabilidade que o PS quer impor à oposição”, acrescentou o antigo primeiro-ministro. Contudo, Cavaco Silva assinalava: “Só haverá crise política em Portugal nos próximos quatro anos se o PS a provocar” – como veio a suceder dois anos depois, quando António Guterres se demitiu na sequência da derrota do PS nas eleições autárquicas.
“Com 115 deputados, a oposição não pode criar instabilidade política em nenhumas circunstâncias”, sublinhou então Cavaco Silva. MANUEL CARLOS FREIRE