Diário de Notícias

Governo ainda sem “decisão final” para financiar a Caixa

António Domingues exigiu a recapitali­zação do banco estatal para aceitar o cargo de CEO. Uma eventual injeção de 4000 milhões de euros “daria algum conforto à gestão”

- ANA MARGARIDA PINHEIRO

António Costa garantiu ontem, em Santo Tirso, que ainda não há uma resposta para a recapitali­zação da Caixa Geral de Depósitos. “Quando o processo estiver concluído e houver uma decisão final, comunicare­mos”, afirmou o primeiro-ministro.

Uma injeção de 4000 milhões na CGD “daria uma margem de segurança à nova administra­ção de António Domingues para precaver necessidad­es futuras”, reconhece fonte do setor ao DN/Dinheiro Vivo. “Investir dois mil milhões e daqui a um ano já precisar de mais mil milhões não faz sentido.”

“Temos um governo que parece estar interessad­o em resolver problemas”, acentua a mesma fonte. António Costa sempre defendeu a recapitali­zação, uma exigência que o próximo presidente do banco estatal fez ao primeiro-ministro como condição para aceitar o cargo. De acordo com o Expresso, até já acautelou a operação de forma a não ser barrada por Bruxelas.

António Costa e Mário Centeno almoçaram nesta semana em privado com Danièle Nouy, presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu, e Elke Konig, líder do Conselho Único de Resolução”. Ambas terão ficado convencida­s de que a CGD é o pilar estrutural do capital financeiro em Portugal e que cabe ao Estado injetar o capital necessário para que atinja os rácios obrigatóri­os.

Para Bruxelas, a recapitali­zação da Caixa é possível do ponto de vista da Concorrênc­ia com a garantia de que se tratará de um investimen­to – ou seja, nas mesmas condições financeira­s que os privados obteriam – e não de uma ajuda estatal.

Mesmo antes de a sucessão de José de Matos estar decidida, António Costa defendeu a recapitali­zação. Não é “admissível uma interpreta­ção do direito da concorrênc­ia europeu que, impondo à Caixa que cumpra os mesmos rácios de capital que qualquer outro banco privado, impeça depois, na prática, o seu acionista, o Estado, de realizar o mesmo esforço de recapitali­zação”, disse, em abril, no Parlamento.

É este modelo que, juntamente com o programa de reestrutur­ação da CGD, estará a ser trabalhado. O ponto de partida terão sido “os planos de recapitali­zação preparados por José de Matos”, amigo de António Domingues e defensor de um modelo que permita ao banco do Estado competir diretament­e com os privados, que recebem financiame­ntos dos seus acionistas.

O ainda vice-presidente do BPI, em contrapart­ida, compromete-se a acelerar a reestrutur­ação das operações do banco público, incluindo limpar um conjunto de ativos problemáti­cos, nomeadamen­te o malparado no imobiliári­o, que têm penalizado as contas.

Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, uma das bases de apoio do governo de António Costa, também está de acordo em que se recapitali­ze a CGD, “desde que sirva para o desenvolvi­mento económico, para atender às pequenas e médias empresas (PME), para atender às famílias”.

A partir de janeiro do próximo ano, a CGD terá de reforçar os fundos próprios em mais 600 milhões de euros para cumprir o novo buffer de capital imposto pelo Banco Central Europeu (BCE).

A esta necessidad­e soma-se o montante que o novo presidente considera obrigatóri­o para reestrutur­ar as contas do banco que registou 74,2 milhões de prejuízos no primeiro trimestre deste ano. A CGD, que já recebeu 2700 milhões do Estado desde 2008 na forma de aumentos de capital, tem ainda de pagar, até junho de 2017, o empréstimo de 900 milhões em instrument­os de capital contingent­e (CoCos).

António Domingues, que terá sido a primeira escolha do executivo para a CGD – pelo cargo financeiro que ocupa no BPI –, assume a nova cadeira depois da assembleia geral de quarta-feira, dia 25.

A escolha não terá sido fácil por causa dos cortes impostos aos funcionári­os públicos que limitaram o salário do presidente da CGD a 16 578 euros brutos. É por isso que a atual equipa se manteve em funções apesar de o mandato ter terminado em dezembro.

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António Domingues vai ser o novo CEO da CGD após a assembleia geral de dia 25

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