Um relatório com muitos culpados que inquieta o PSD
Estação televisiva desculpabilizada pela resolução aplicada ao banco. PSD não vai apresentar relatório alternativo, mas fala em “deslealdade” e “narrativa falaciosa” do documento
A lista de culpados do relatório preliminar da comissão de inquérito ao Banif é longa: Banco de Portugal, governo PSD (Vítor Gaspar e Maria Luís), acionistas e administradores do banco e até o BCE. Só o atual governo fica isento de culpas no relatório de Eurico Brilhante Dias (deputado do PS), mas a TVI também tem razões para sorrir: a notícia é considerada “falsa”, mas a estação não terá sido culpada pela resolução aplicada ao Banif.
Longe parece estar, no entanto, o consenso conseguido no relatório da comissão de inquérito ao BES. O PSD ficou surpreendido e furioso com a conferência de imprensa de Eurico Brilhante Dias, ontem, no Parlamento.
O deputado socialista não poupou o anterior governo, mas começou por explicar que “os primeiros responsáveis pela circunstância a que chegou o Banif são os acionistas e responsáveis da administração que conduziram o banco até 2012”.
O elevado rol de culpados não surpreende Eurico Brilhante Dias que colocou a tónica no dinheiro público e no interesse dos contribuintes: “Diria que quando temos quatro mil milhões de euros de ajuda pública, quase tudo falhou.”
Brilhante Dias atacou o supervisor, dizendo que “podia ter antecipado coisas que começou a dizer em abril de 2015”. No relatório preliminar há várias observações nesse sentido, sendo referida uma “radiografia insuficiente”, em que o Banco de Portugal não utilizou “todos os instrumentos ao seu alcance para defender o interesse da estabilidade do sistema financeiro”.
O documento diz ainda que “a intrusividade tardia, ou a light supervision, não antecipou os graves problemas do modelo de negócios do Banif.”
Quanto ao ataque a Maria Luís Albuquerque (e a Vítor Gaspar), o relator disse que com a entrada de dinheiros públicos em janeiro de 2013, o Estado tinha uma “dupla responsabilidade”: “Zelar pelo seu património e pelo que é de todos os portugueses.”
Para o deputado do PSD, “o decisor público, em 2012 e 2013, assim como em 2015, foi posto perante circunstâncias de emergência. E quando assim é, é porque não fomos capazes de antecipar grande parte dos efeitos”.
O PSD, claro, não gostou. Ao DN, o coordenador dos deputados sociais-democratas na comissão de inquérito (ver entrevista ao lado) fala em “deslealdade parlamentar” e lamenta que Eurico Brilhante Dias não tenha seguido o exemplo do deputado do PSD Pedro Saraiva, na comissão do Banif, em que “só o PCP votou contra e PS e PSD votaram a favor”.
Carlos Abreu Amorim considera uma “narrativa falaciosa” de Brilhante Dias o facto de dar entender “que durante três anos nada se fez”. Nessa versão contesta ainda o facto de o deputado do PS ter referido a atuação do governo socialista “como se não tivesse margem de manobra”, não questionando o que foi feito ao plano N+1 (uma solução que acabou por não ser seguida). TVI desculpada A TVI é criticada, mas ganha argumentos para se salvar em tribunal em processos em que sejam pedidas indemnizações. Isto porque o relatório diz que “a notícia não é verdadeira, criou um stress na liquidez do banco, mas não é possível concluir que a notícia da TVI24, por alguma razão, determinou a resolução do Banif”.
Na próxima segunda vai haver uma apresentação do relatório e o PSD – que está a analisar o documento – voltará a atacar o texto de Brilhante Dias. O relatório será votado no dia 28, quinta-feira, sendo necessário que a geringonça funcione para que seja aprovado, já que o PSD não deverá votar favoravelmente o documento.