Diário de Notícias

Negócio fundado em 1793 fecha portas no final do mês

Negócio de tecidos da Rua dos Fanqueiros vai dar lugar a um supermerca­do e a uma loja de artigos turísticos

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José Carvalho faz questão de mostrar o enorme título, emoldurado, que foi atribuído à Tavares Panos em 1940, por ocasião da Exposição do Mundo Português, e que já então reconhecia a condição centenária da loja de tecidos, fundada em 1793. Passados mais 76 anos, a história da Tavares Panos tem agora o derradeiro capítulo: a loja vai encerrar no final deste mês.

“É a segunda loja mais antiga de Lisboa”, garante o atual proprietár­io, lembrando que há “40 anos a loja tinha sete empregados e dois gerentes”. A evolução dos tempos não lhe foi favorável. “A sociedade tem evoluído de uma tal maneira que não permitiu que este negócio tivesse sucesso”, afirma ao DN, acrescenta­ndo que as mudanças da própria Baixa lisboeta condiciona­ram o futuro de muitos negócios. “Antes passava muita gente por aqui, agora já não. E as pessoas que vinham comprar tecidos foram envelhecen­do.” 100% ao turismo “São outros tempos. A Baixa dedicou-se 100% ao turismo. Os turistas acham muita graça, tiram fotos, mas não compram tecidos”, acrescenta. Como noticiou o jornal online O Corvo, no espaço onde agora a Tavares Panos se prepara para encerrar portas, na Rua dos Fanqueiros, vai surgir um supermerca­do e uma loja de artigos turísticos.

Com 64 anos, 41 passados na loja, José Carvalho admite que a história se poderia contar de outra maneira – “Se eu tivesse capital para investir... É preciso capital. Se não houver capital pode haver boa vontade, umas reportagen­s, nada disso chega.” Na família desde 1886 Mas não houve capital e “agora não dá para continuar mais. Tenho alguma pena, mas a vida é assim mesmo”. A Tavares Panos estava na família desde o seu bisavô, que em 1886 se tornou sócio da firma e um ano depois ficou como único proprietár­io.

Com boa parte da antiga loja já encerrada, resta aberta apenas uma sala onde os últimos rolos de tecido esperam comprador. Nas prateleira­s empilham-se ainda muitas dezenas, senão centenas, de caixas: “pijamas”, “camisolas de senhora”, “ceroulas de homem”. Em cima do balcão repousam livros de contas do início do século XX, da década de 1920, da década de 1940. “Lojas deste género não existem noutros países. Nós, como andamos sempre atrás, estamos agora a chegar a essa fase”, lamenta o proprietár­io.

Funcionári­o da loja há 25 anos, Walter Costa não atira a toalha ao chão. Anda à procura de um espaço para alugar, para continuar com a loja de tecidos. “Não está fácil” – pedem-lhe rendas entre 1800 e 2200 euros por espaços de 50 a 70 metros quadrados. Mas acredita que é possível, “modernizan­do” o negócio, apostando também nas vendas online. “O que é que vou fazer? Sou demasiado velho para me darem emprego e demasiado novo para ir para a reforma.” S.F.

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Negócio estava na família de José Carvalho desde o bisavô

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