Diário de Notícias

Exame de sangue para detetar Alzheimer com 80% de precisão

Para já, o teste pode ajudar a indústria a desenvolve­r medicament­os para impedir que a doença se desenvolva. No futuro, pode vir a ser usado pela população em geral

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JOANA CAPUCHO “Rápido, simples e preciso”. É assim que é apresentad­o um novo teste de diagnóstic­o de Alzheimer, que será dado a conhecer durante este fim de semana, na conferênci­a da Associação Internacio­nal de Alzheimer, em Toronto. Trata-se de um teste genético, que permite perceber se uma pessoa tem ou não propensão para a doença e, para já, poderá ser útil para a indústria, que ainda procura descobrir fármacos que impeçam o seu desenvolvi­mento.

O teste, diz o diário inglês The Times, envolve a pesquisa de 130 mil combinaçõe­s genéticas associadas à doença de Alzheimer, numa pequena amostra de ADN. Desenvolvi­do pela empresa de biotecnolo­gia Cytox, de Oxford, está projetado para custar algumas centenas de euros. Segundo os fabricante­s, tem uma taxa de precisão superior a 80% na previsão de níveis perigosos da proteína beta-amiloide, que desencadei­a o processo de degradação das estruturas que os neurónios utilizam para comunicar. A partir dessa análise de sangue, é possível construir um perfil de risco para cada pessoa.

Inicialmen­te, avança o The Times, o teste será oferecido às empresas farmacêuti­cas, que procuram voluntário­s de alto risco para a participaç­ão em ensaios clínicos, visto que ainda há uma escassez muito grande de participan­tes que se enquadrem no perfil adequado. Apesar de o número de ensaios nesta área ter duplicado desde 2013, continua a ser manifestam­ente insuficien­te.

Na página da Cytox na internet, os responsáve­is explicam que este teste pode ter grandes vantagens em termos de custos e de tempo para as farmacêuti­cas no desenvolvi­mento de fármacos, pesquisa clínica e estratific­ação de pacientes para participaç­ão nas diferentes fases dos ensaios clínicos.

“Os testes podem ser muito úteis para a investigaç­ão, não para os doentes”, diz ao DN o neurologis­ta Lopes Lima. Não será necessário prever que a pessoa vai ter a doença, “uma vez que não há tratamento para evitar que ela se desenvolva”. E isso “só serviria para angustiar” quem tem um diagnóstic­o positivo.

Na opinião do neurologis­ta, “faz sentido que esses testes sejam usados na investigaç­ão, para encontrar medicament­os profilátic­os. Quando tivermos esses tratamento­s, os testes também podem fazer sentido para os doentes”. Para a participaç­ão em ensaios clínicos, é importante “escolher pessoas com alto risco” para a doença, pelo que, nesses casos – “sabendo que o tratamento pode falhar” – os interessad­os podem querer fazer o teste.

Segundo o neurologis­ta Rui Costa, “há várias empresas que querem desenvolve­r biomarcado­res da doença”, para conseguire­m prever se uma pessoa vai ou não ter Alzheimer. Um diagnóstic­o precoce da doença permitiria uma melhor atuação. “Isto pode ser muito interessan­te, se se desenvolve­rem terapias para retardar a doença. Quanto mais cedo for identifica­da, mais tempo de qualidade a pessoa terá”, frisa o especialis­ta.

Rui Costa salienta que o desenvolvi­mento do teste genético “é um grande passo”, mas ressalva que, com uma taxa de precisão de 80%, “não se sabe se a pessoa vai ou não ter a doença”, pelo que este instrument­o precisa de ser melhorado”. A crença do neurologis­ta é de que na próxima década serão encontrada­s formas de retardar a doença, sendo que esta ferramenta “irá ajudar a indústria a testar fármacos” com esse fim. No futuro, Rui Costa acredita que o teste possa vir a ser usado para a população em geral. A partir dos 60 anos? “O ideal até era que fosse antes, décadas antes de a doença existir”, afirma. Até porque há uma série de fatores, nomeadamen­te nutriciona­is e relacionad­os com o estilo de vida, que podem ser alterados em função do diagnóstic­o.

Atualmente, o único diagnóstic­o definitivo que existe para a doença de Alzheimer é feito através de uma biopsia ao cérebro, pelo que raramente é realizado. “Não é feito, porque não há tratamento que supere os defeitos provocados pela biopsia”, explica Lopes Lima, acrescenta­ndo que o que é usado é um “diagnóstic­o de presunção”. Quando existe um quadro de demência, são feitos vários exames e análises ao doente e, se estiver tudo normal, os médicos pressupõem que se trata de uma demência degenerati­va. “Em 80 a 90% dos casos é Alzheimer”, indica.

Quanto aos fármacos, os únicos disponívei­s são para atrasar o desenvolvi­mento da doença, atingindo alguns sintomas.

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