Diário de Notícias

Líder do PP aumenta pressão sobre PSOE e Ciudadanos

Entre terça e quinta-feira, o rei irá ouvir os partidos. Pedro Sánchez e Albert Rivera são as chaves da equação, mas, para já, passam a batata quente para as mãos do outro

- JOSÉ FIALHO GOUVEIA

Ou sim ou sopas, que é como quem diz eleições. Ou Mariano Rajoy consegue ser investido chefe do governo na primeira votação de investidur­a ou o país pode começar a encarar o cenário de umas terceiras legislativ­as em menos de um ano. Esta é pelo menos a leitura que o El Mundo faz daquilo que ouviu da boca de fontes do Partido Popular próximas de Rajoy.

Ainda que todos os principais partidos considerem uma “loucura” empurrar Espanha para um novo ato eleitoral – depois das eleições de 20 de dezembro e de 26 de junho –, esse fantasma começa a assombrar o ambiente político.

Depois do debate de investidur­a (que poderá ser a 2 de agosto), haverá uma primeira votação no dia 3. Se essa falhar (é necessário maioria absoluta), os deputados votam 48 horas depois, no dia 5 (neste caso basta que haja mais sins do que nãos. A avaliar pelo El Mundo, para Rajoy este será o fim da linha e não aceitará submeter-se a novas tentativas. De acordo com a lei espanhola, a partir da primeira votação começa a correr um prazo de dois meses. Se nesse período ninguém conseguir ser investido, a única solução é seguir para novas eleições, que, nesse cenário, deverão ter lugar no final de novembro.

Para a maioria absoluta em Espanha são necessário­s 176 deputados. O Partido Popular elegeu 137. Tendo em conta a matemática e o momento político atual, quais são as possibilid­ades de Rajoy lograr uma votação favorável? A resposta está nas mãos do PSOE (85 deputados) e do Ciudadanos (32). Albert Rivera disse que votará contra na primeira ronda e que optará pela abstenção na segunda.

Os socialista­s, por seu turno, dão a entender que só encaram a hipótese de deixar passar Rajoy (abstendo-se) caso o Ciudadanos vote sim. Nesse caso Rajoy apresentar­ia o apoio de 169 deputados, ficando a apenas sete da maioria.

Parece simples, mas não é, porque, pelo menos para já, Pedro Sánchez, secretário-geral dos socialista­s, e Albert Rivera, líder do Ciudadanos, parecem irredutíve­is nas suas posições e vão-se sobrepondo em declaraçõe­s com o objetivo de passar a batata quente para as mãos do outro.

“Vou dizer ao rei que nos ajude a convencer o PP e o PSOE a pararem de virar as costas um ao outro. Que convença o senhor Sánchez de que terá de abster-se porque, de outra forma, iremos para novas eleições. E que diga ao senhor Rajoy que as presidênci­as não caem do céu e que é preciso lutar por elas e negociar”, afirmou Rivera numa entrevista publicada ontem no El País.

Questionad­o sobre a hipótese de substituir a abstenção por um sim, a resposta do líder do Ciudadanos, ainda que na política tudo possa dar muitas voltas, parece não deixar grande margem de manobra para fazer inversão de marcha: “A abstenção é aquilo que é necessário para desbloquea­r a situação. Outra coisa muito distinta é apoiar um governo que não é o teu e um primeiro-ministro que não queres que seja primeiro-ministro. E um sim é um apoio. Politicame­nte é muito diferente.”

A questão é que para o PSOE as situações também são muito distintas. “Se Rajoy vier só com 137 votos, que são os seus, então que poupe na viagem. Se vier com 169 estamos a falar de outro panorama”, frisou Miquel Iceta, secretário dos socialista­s da Catalunha, na úl- tima reunião do Comité Federal do partido.

Felipe VI já anunciou o calendário de audições que vai realizar com os líderes políticos. Em apenas três dias, começando na terça-feira e acabando na quinta, o rei irá despachar as 14 forças políticas com assento parlamenta­r. A ordem será crescente, começando no partido com menor representa­ção até chegar ao chefe do governo. O dia-chave será o último. Na próxima quinta-feira, o rei receberá Albert Rivera (10.30), Pablo Iglesias (11.30), Pedro Sánchez (12.30) e Mariano Rajoy (17.00).

Só no final dos contactos é que Felipe VI convidará Rajoy a submeter-se à investidur­a. A data do debate e das votações será decidida por Ana Pastor, nova presidente do Parlamento (ver perfil ao lado). Se o líder do Partido Popular informar de que necessita de mais tempo para negociar com os partidos e tentar garantir apoios, o debate e as votações passariam de 2, 3 e 5 de agosto para uma ou duas semanas mais tarde.

Em tese, caso Rajoy não aceite ir à investidur­a ou não passe nas votações, o rei poderá chamar Pedro Sánchez, líder do segundo partido mais votado, para tentar formar governo. Mas essa possibilid­ade parece não passar de ficção científica. Mesmo que o Unidos Podemos juntasse os seus votos aos do PSOE, a soma daria apenas 156. No entanto, nem isso parece possível, uma vez que Sánchez e Iglesias estão cada vez mais distantes.

Fontes próximas de Rajoy dão a entender que só aceitará uma tentativa de investidur­a

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Mariano Rajoy venceu as eleições, mas faltam-lhe 39 deputados para a maioria absoluta. Espanha continua sem governo

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