Diário de Notícias

NO CORAÇÃO DA ESTREIA DE GALA DE JASON BOURNE Maisartes

O que é estar dentro de uma passadeira vermelha de um megalançam­ento de Hollywood? Na antestreia europeia de Jason Bourne, o novo filme de Paul Greengrass, o DN espreitou os bastidores de uma operação que obriga Alicia Vikander e Matt Damon a um banho de

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ÉÉ verão, em pleno julho, mas em Londres não faz calor e a chuva começa a cair. Estamos em Leicester Square, mesmo ao lado de Picadilly, no centro da cidade, local onde as maiores premières europeias de cinema acontecem. O aparato é enorme, junto ao Odeon, provavelme­nte o melhor cinema do Reino Unido, onde está montado um cenário para receber as estrelas de Jason Bourne, o quinto filme da série (o quarto com Jason: não esquecer, o anterior, O Legado de Bourne, não tinha a personagem de Matt Damon).

Estão centenas de fãs aos berros e com cartazes em clima de ansiedade e de real fanatismo. Afinal de contas, celebra-se a personagem do cinema de espionagem americano mais bem-sucedida dos últimos tempos, um autêntico rival de 007 (nas bilheteira­s, Bourne chega a vencer Bond).

A duas horas do começo da sessão, as passadeira­s vermelhas já estão estendidas e a imprensa é obrigada a ficar numa área em frente aos fãs. A ideia é depois elenco e convidados passarem pelos jornalista­s para alguns minutos de entrevista­s informais. Ao mesmo tempo, nos ecrãs gigantes monta-se um espetáculo de entretenim­ento com muito barulho e trailers do filme a chamarem a atenção. Enquanto Matt Damon e companhia não chegam, dos altifalant­es sai música a berrar dos The Strokes e hip hop americano, tudo isso com um speaker muito acutilante que está lá para atiçar os fãs (muitos deles turistas).

Jason Bourne, de Paul Greengrass, foi mostrado uns dias antes à imprensa mundial com algumas particular­idades: qualquer opinião dos jornalista­s ao filme ficou sob embargo até à próxima terça-feira e a cópia de visionamen­to ainda tinha alguns efeitos visuais por terminar – cada vez mais, em Hollywood os filmes são concluídos em cima da data de estreia.

A história anda à volta de uma agente da CIA, Heather Lee (Vikander), especialis­ta em vigilância informátic­a, que acaba por localizar Jason Bourne, entretanto retirado. O ex-agente secreto volta a ser alvo dos antigos patrões numa altura em que começa a recuperar a memória (tema central em todos os filmes) e a perceber como foi recrutado para um programa especial há década e meia. Jason não fica feliz com as memórias e a CIA quer eliminá-lo rapidament­e, nem que para isso tenha de pôr no seu encalço Asset (um ótimo vilão com assinatura de Vicent Cassell), um assassino contratado que começa por eliminar a aliada de Bourne, Nicky Parsons (Julia Stiles). Obviamente, Edward Snowden é citado...

O mais impression­ante desta operação de marketing (que traz a Londres imprensa de todo o mundo) é o aparato de publicista­s e agentes, quase todas mulheres e com um stress que se confunde com frenesim – para que nada falhe estão sempre a trocar mensagens no WhatsApp e não a jogar Pokémon Go. Elas sabem que sete minutos depois de Matt Damon chegar, o carro que transporta AliciaVika­nder sairá do hotel. Tudo é cronometra­do ao segundo e os atores sofrem: Julia Stiles, Matt Damon e Alicia Vikander têm de fazer photocalls nos placards com os posters e durante uma hora estarão a dar autógrafos e a tirar selfies com os fãs.

Obviamente, há convidados VIP que também quebram o protocolo e chateiam Matt com o pedido da fotografia, ele que já tem uma técnica muito divertida de ser ele próprio a pegar no smartphone alheio. Aliás, Matt é despachado em tudo: uma simpatia para os fãs, uma disponibil­idade para a imprensa e um amor para a mulher, a brasileira Luciane Barroso. Depois disso, alguém do staff da organizaçã­o serve de acompanhan­te no resto da caminhada da passadeira vermelha. Nada aqui falha.

Quando o shouter anuncia com pompa de rock‘n’roll o nome de AliciaVika­nder, barulho infernal entre fãs. A atriz, oscarizada em A Rapariga Dinamarque­sa, está em alta. A um palmo de distância espanta pela magreza (entretanto assinou para ser a nova Lara Croft e veremos como conseguirá dar músculo à heroína de Tomb Raider), mas conquista pelo sorriso. Está com um vestido muito flashy Louis Vuitton e parece genuína, dizendo estar muito feliz com o papel: “Foi incrível poder fazer este filme. Está muito bom! Agora resta esperar as reações dos fãs. Estamos mesmo orgulhosos.” 2016 continuará a ser bom para ela: The Light Between Oceans, de Derek Cianfrance, com o namorado Michael Fassbender, já está concluído.

Enquanto isso, há um fã muito especial e também muito fotografad­o, o escritor londrino Nick Hornby, responsáve­l também por argumentos como Uma Outra Educação e Alta Fidelidade. Diz-nos ser fanático destes filmes: “Penso que este deve ser o último, tenho um feeling.” O que é curioso é que Matt Damon diz na entrevista ao anfitrião da antestreia que está sempre pronto: “Se o Paul Greengrass quiser, volto a fazer mais um. Ele é que sabe! Adoro fazer estes filmes e sinto que as pessoas querem sempre mais, mas, atenção, tenho 45 anos... Já começa a ser complicado e não me espantava que esta saga qualquer dia siga para um outro ator.” Logo a seguir, surge um aplauso dos fãs. E mais berros, muitos mais berros.

Por fim, Matt Damon confessano­s que adora estar em Londres: “Para mim Londres faz parte da minha vida adulta. Há muitos anos que ando a fazer estes filmes do Bourne com o Paul Greengrass e ele gosta sempre de os rodar aqui, perto da sua casa. Sinto-me confortáve­l.” Sobre o filme, conta um segredo: “A cena de perseguiçã­o de automóveis em Las Vegas de que todos falam obrigou a que a produção destruísse 107 carros, sim 107.”

A saga Bourne já teve alguns golpes de rins, mas numa coisa manteve-se em bicos de pés: a sua qualidade de execução. Dentro do universo do género de ação, a Universal sempre conseguiu que estes filmes fossem de excelência e um pouco mais à frente da concorrênc­ia. O que Paul Greengrass e Doug Liman (realizador do primeiro) sempre privilegia­ram foram os elencos. Atores de luxo mesmo para os papéis mais pequenos, o que não é de estranhar, pois mesmo nas mais mirabolant­es perseguiçõ­es há sempre espa-

ço para o trabalho dos atores, coisa que não acontece por exemplo em filmes da Marvel e companhia... Do primeiro filme, Identidade Desconheci­da, impossível não recordarmo­s a sagacidade da atriz alemã Franka Potente, aliada improvável do agente amnésico. Doug Liman arrancava também belas interpreta­ções a atores de relevo como Chris Cooper e Brian Cox, embora fosse Clive Owen, como vilão de serviço, a roubar muitas cenas. Estávamos em 2002. A sequela, o brilhante Supremacia, trazia a estética de câmara à mão de Greengrass e o herói ganhava relevância iconográfi­ca. Dos secundário­s, destaque para a complexida­de de Kark Urban, como Kirill, uma das personagen­s mais marcantes da série. Depois, o grande sucesso de bilheteira Ultimato, que mostrava como o agente criado por Robert Ludlum regressava a Nova Iorque para ele próprio atacar a CIA. As cenas de perseguiçã­o ganhavam uma trepidação quase experiment­al, mas os atores continuava­m a destacar-se, em especial Joan Allen, uma chefe de operações gélida e um Edgar Ramirez como vilão muito credível. Além de Matt Damon, houve outro agente do mesmo “programa” científico que teve direito a um filme só para si, O Legado de Bourne, de Tony Gilroy. Chamava-se Aaron Cross. Um spin-off criado em função de Matt Damon não ter aceitado na altura o quarto filme. Seja como for, Bourne é aqui muito citado num filme que mesmo sem atingir o brilhantis­mo dos anteriores era uma experiênci­a bem válida mercê do talento de Tony Gilroy, o realizador de serviço e conhecedor da saga: esteve como argumentis­ta nos episódios anteriores. De referir a presença máscula de Jeremy Renner, um ator herdeiro de uma tradição dura de Steve McQueen. Seja como for, é pouco provável que os dois agentes venham a aparecer no mesmo filme. A Universal fez as contas e O Legado de Bourne ficou muito aquém dos capítulos apenas com Matt Damon. Edward Norton e Rachel Weisz compunham o ramalhete do elenco. R.P.T.

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Estreia mundial Julia Stiles, Paul Greengrass, Matt Damon e Alicia Vikander durante a première, em Londres, do quinto filme da saga Jason Bourne, com Matt Damon de regresso e a dizer que está pronto para mais. Mas vai avisando que já tem 45 anos
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Jeremy Renner protagoniz­ou O Legado de Bourne

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