Vieira, mais consensual do que nunca, avança para novo mandato
Presidente anuncia recandidatura às eleições de outubro amparado pela conquista do tricampeonato. Bagão Félix e Toni elogiam o trabalho e a obra feita nos últimos 13 anos de presidência
“Um trabalho em crescendo marcado pela inteligência da experiência.” É assim que Bagão Félix, 68 anos, economista e adepto do Benfica, classifica em traços gerais os 13 anos de presidência de Luís Filipe Vieira, que ontem anunciou oficialmente que é candidato a um novo mandato (o quinto) de mais quatro anos nas eleições que se realizam em outubro.
Vieira chegou à presidência do Benfica em novembro de 2003 (estava no clube desde 1991 com a pasta do futebol), sucedendo a ManuelVilarinho, numa altura em que o clube ainda recuperava da gestão desastrosa de Vale e Azevedo. Os primeiros anos não foram fáceis, sobretudo em termos desportivos, e a contestação fez-se ouvir em vários momentos – nas seis primeiras épocas da sua presidência, o Benfica conquistou apenas um campeonato, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e uma Taça da Liga.
Entre as épocas 2010-11 e 2012-13, o panorama foi também pouco brilhante em termos de títulos para o futebol, com o palmarés a resumir-se a duas Taças da Liga, apesar de a equipa ter atingido a final da Liga Europa que acabou por perder para o Chelsea. É a partir da temporada 2013-14 que o cenário se altera, num trajeto que terminou a época passada – já com Rui Vitória no lugar de Jorge Jesus – com a conquista do tão ambicionado tricampeonato e uma campanha meritória na Liga dos Campeões até aos quartos-de-final.
“É o homem certo para continuar à frente do clube, penso que ninguém tem dúvidas disso e é também por isso que sucessivamente os adeptos o têm escolhido para continuar a liderar o Benfica. E nós só temos de agradecer tudo o que ele tem feito. O antes de Luís Filipe Vieira e o atual Benfica são coisas muito diferentes. Ele devolveu o clube aos adeptos e é sobretudo por isto que o apoio. Não podemos resumir todos os seus mandatos apenas a títulos desportivos, ele deu muito mais que isso ao clube”, resumiu Toni (ex-jogador e treinador do clube) ao DN.
A gestão do clube a nível financeiro foi uma das grandes premissas de Luís Filipe Vieira, responsável por grandes obras como o centro de estágio do Seixal, o Museu do clube, o canal de televisão, entre outras. “O clube estava nas ruas da amargura e hoje é altamente respeitado e temido a nível nacional e internacional. É óbvio que os problemas financeiros não estão resolvidos, mas o clube está no bom caminho e é altamente profissionalizado”, indicou Bagão Félix, que além do bom trabalho a nível financeiro, infraestruturas, marketing e logística e na negociação dos direitos televisivos (contrato com a NOS pode render um total de 400 milhões de euros no espaço de 10 anos), aponta também a aposta na formação como um dos grandes trabalhos de Vieira.
Bagão Félix admite que há 10 anos não tinha esta ideia do presidente do Benfica, “embora não fosse negativa”. Mas destaca a “curva de sabedoria” que Luís Filipe Vieira tem demonstrado, “aprendendo e corrigindo os erros que cometeu” e elogiando a sua postura de “só falar no momento certo e não se deixar levar pela algazarra em que se transformou o futebol português”, como mostrou sobretudo na época passada.
É por isso com “satisfação e naturalidade” que vê esta recandidatura. “E até com algum conforto, pois sei que o Benfica está em boas mãos”, referiu, elegendo a conquista do tricampeonato como um dos grandes momentos destes últimos 13 anos de presidência de Vieira.
Toni prefere não destacar uma obra em especial, elogiando o trabalho na generalidade: “Nem consigo comparar o que era o Benfica quando saí de lá, em 2001, com o que é agora. É um mundo. Há uma televisão, um centro de estágios, um estádio novo e um património gigante. Prefiro destacar esta obra feita. Era fácil vencer um título e
destacá-lo aqui, mais difícil era fazer toda a obra que o presidente fez até ao momento.”
“3+1+50”: a promessa cumprida Ao longo destes 13 anos de presidência o foco mais visível foi o futebol, mas a verdade é que Vieira foi colecionando títulos nas modalidades, cumprindo a equação/promessa que fez antes das eleições de 2012, o “3+1+50”, ou seja, que no mandato seguinte (este que ainda está a cumprir) conquistaria três campeonatos nacionais, chegaria a uma final europeia e ganharia 50 troféus nas modalidades.
Pinto da Costa, presidente do FC Porto, sempre foi conhecido como um grande negociador, mas também neste campo Vieira conseguiu destacar-se. Desde que ocupa a presidência do Benfica, e muito à custa da estreita ligação que a determinada altura criou com o empresário Jorge Mendes, conseguiu um encaixe financeiro com vendas de jogadores superior a 600 milhões de euros (ver quadro ao lado). Também gastou muito dinheiro em reforços – cerca de 360 milhões de euros –, alguns deles que se revelaram verdadeiros flops. Mas neste campo o saldo é positivo.
A época mais rentável com a venda de jogadores foi em 2014-15, com uma receita de quase 105 milhões de euros. Esta temporada, e com o mercado a encerrar a 31 de agosto, já vai em 61,5 milhões de euros, e pode mesmo superar o recorde anterior, dado que estão no horizonte vários negócios. Um mal necessário até porque a SAD apresentou um prejuízo de 9,35 milhões de euros, como o demonstra o relatório e contas enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários relativo aos primeiros seis meses de 2015-16, em que a SAD apresentou capitais próprios consolidados pela primeira vez negativos desde dezembro de 2014, com um passivo de 427,940 milhões de euros, em contraste com os cerca de 420 milhões de ativo.
Para esta época existe já uma boa almofada, pois entra em vigor o contrato com a NOS que vai permitir no primeiro ano um encaixe de 36 milhões de euros, valor que vai aumentando progressivamente nas temporadas seguintes. Com GONÇALO LOPES