Diário de Notícias

Nova gafe de Trump: confunde os super-heróis

- FERREIRA FERNANDES

Em Cleveland, Donald Trump lá fez o discurso a aceitar o emprego temporário. Sim, aceita ser candidato por três meses, e em novembro saberá se foi despedido ou se há uma promoção. A América é assim, os empregos podem ser efémeros como um estalar de dedos, mas chegar ao topo também pode ser instantâne­o, e até para presidente da empresa USA. O discurso foi, como sabem, sobre Gotham, a cidade do crime. A América que Trump descreveu é Gotham City, um horror. Tiros, assassínio­s, violações e tacos deixados no lugar dos crimes, porque estes são sempre cometidos por mexicanos. Ao menos podiam deixar sombreros, não cheiram tanto como a paprica e o chili.

O discurso de Trump prometeu: “Tenho uma mensagem para vocês: o crime e a violência, cedo – e eu quero dizer muito cedo – vão acabar.” Podia ser conversa barata de vendedor de imóveis na Quinta Avenida, mas ele garante a data de entrega: “A partir de 20 de janeiro de 2017 [dia da tomada de posse do novo presidente americano], a segurança será restaurada.” Ele não falou sobre o que fará com os tacos, mas sobre o resto, tiros, assassínio­s e violações, Trump acaba e rápido. Como a América é um continente e essas coisas têm leis e agentes próprios – que são locais (câmaras) ou estaduais – deduz-se que o presidente Trump vá dedicar-se exclusivam­ente à Baixa de Gotham City, a cidade do crime. Que ele descreveu tão bem no seu discurso.

Ora, é o meu medo, não está garantido que Donald Trump seja eleito. Por exemplo, em novembro, Cleveland não vai votar nele, garanto. A cidade da convenção nunca lhe perdoará a afronta. Invocar – ou, pelo menos, descrever – Gotham City como sua prioridade é um grosseiro deslize. Seria, sei lá, o mesmo que Melania Trump chamar ao seu filho Barron, num discurso, Malia Ann ou Natasha, os nomes das filhas de Michelle Obama. De facto, Gotham City é a cidade do Batman. E em questão de banda desenhada Cleveland tem maiores pergaminho­s: foi lá que nasceu o Super-Homem.

Terá sido, mais uma vez, o amadorismo de Trump que o levou a preferir Batman? De todos os super-heróis, Batman é o único que não tem nenhuns superpoder­es. Ele veste-se com uma aparência exótica, um fato de licra com um morcego ao peito, mas só pode confiar nos seus conhecimen­tos de artes marciais. Ora, se a América está tão dominada pelo crime como Trump a pintou, precisava de um super-herói a sério. Há uma explicação pessoal para a escolha do Batman: na sua identidade secreta, ele é um playboy, magnata de negócios e filho de milionário. Se lhe mudarem a mascarilha com orelhas de rato voador e puserem uma esvoaçante melena loura, é Donald Trump chapado. Aliás, ele, o republican­o, parece ainda mais homem-morcego do que o próprio Batman, quando põe a boquinha de quem suga sangue. Compreende-se agora aquele cortejo de filhos a discursar na con- venção republican­a. Toda junta a sua prole de betos deve dar a Trump a ideia de que tem o jovem herói Robin a ajudá-lo.

Depois, há outra explicação – política, desta vez – para o candidato não ter escolhido o Super-Homem: este um imigrante! Ele nasceu no longínquo planeta Krypton, o pai chamava-se Jor-El, pôs ao filho o nome de Kal-El e mandou-o para a América de foguetão – se isto não parece um complô de terrorista­s islâmicos... Acresce que, só por existir, o SuperHomem é a prova de que as soluções do candidato republican­o não são infalíveis: um muro, por mais alto que seja, nunca conseguirá separar a América de Krypton. Em todo o caso, Trump, que é um adepto ferrenho do sucesso, poderia ter preferido aquele que no Top 100 dos “Melhores Heróis da Banda Desenhada”, está em 1.º lugar, o Super-Homem (Batman é mero 2.º). Mas para o repúdio talvez tenha influencia­do o facto de o Super-Homem ser na vida civil Clark Kent, um jornalista.

Seja como for, foi para Cleveland um insulto ter visto preterido o seu filho querido. O Super-Homem nasceu em 1938, escrito por Jerry Siegel e desenhado por Joe Shuster, naturais de Cleveland, Ohio. Em Glenville, bairro da cidade, as casas de ambos estão marcadas por um grande “S” dentro dum triângulo ao contrário. O símbolo que por vezes nos faz gritar, quando olhamos para o ar: “É um pássaro! É uma avião! It’s Superman!”

E num parque vizinho há uma “placa histórica” assinaland­o o nascimento do herói, ali. Em 2011, a placa foi roubada, mas os bandidos devolveram-na dias depois – era de alumínio, material sem valor. Diga-se, em abono de Donald Trump, que não era com esse tipo de pequeno crime que ele ia assustar a América para lhe caçar o voto. Seja, Gotham City, a cidade do crime, dá mais jeito.

Donald Trump faz um discurso dizendo que a América é como Gotham City, a cidade do crime (e também onde nasceu o Batman). E faz esse discurso em Cleveland, a cidade onde nasceu o Super-Homem

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