Diário de Notícias

Carta não propõe corte de fundos estruturai­s

Políticos portuguese­s reagiram ontem a uma carta da UE, mas foram levados ao engano. Tudo por uma lista que não é “a” lista

- JOÃO FRANCISCO GUERREIRO

Comissão Europeia diz que eventual decisão sobre fundos a cortar só será feita após um “diálogo estruturad­o” com o Parlamento Europeu. PORTUGAL

A Comissão Europeia ainda não elaborou qualquer proposta de corte de fundos estruturai­s para Portugal, como também não o fez para Espanha, ao contrário do que foi dado da a entender por vários meios de comunicaçã­o portuguese­s.

Neste sábado, a SIC e a agência Lusa noticiaram: “Bruxelas propõe a suspensão de 16 fundos estruturai­s como sanção para o défice excessivo.” As notícias tiveram como ponto de partida uma carta que a Comissão enviou ao Parlamento Europeu (PE) na quinta-feira.

Mas uma fonte do DN em Bruxelas esclarece que essa carta não é uma proposta. A missiva enviada pelo vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, ao presidente do PE não é mais do que o elenco completo dos fundos estruturai­s elegíveis no âmbito do regulament­o das sanções. “Não é a lista do que será afetado [por eventuais sanções].”

Na carta, o comissário sublinha que Bruxelas “quer encontrar uma solução equilibrad­a”. Este detalhe é entendido pela fonte citada como “um sinal de abertura da Comissão para um diálogo estruturad­o” com o PE em matéria de sanções, “que tenha em conta todos os fatores socioeconó­micos”.

“Portugal e Espanha vão pedir novos prazos para corrigirem os défices excessivos. A Comissão Europeia deve propor esses prazos, enquanto o Conselho Europeu tomará a decisão final sobre o assunto”, sublinha um porta-voz da CE citado pela Lusa. Tal como o comissário Maros Sefovi deixou claro na conferênci­a de imprensa que se seguiu à reunião do colégio de comissário­s, na passada quarta-feira, “uma decisão para a suspensão de fundos pode atingir 0,5% do PIB ou ir até 50% das autorizaçõ­es para 2017”. Mas nesta fase não existe qualquer decisão. De onde vem a notícia de uma suposta proposta? A confusão surgiu no dia em que a carta foi enviada ao PE, quando um eurodeputa­do divulgou o documento através do Twitter, permitindo diversas interpreta­ções, incluindo as que ontem foram noticiadas em Portugal.

Até o governo e a oposição foram induzidos no erro, pensando que a lista de fundos elegíveis configurav­a já uma proposta de corte.

O primeiro-ministro, no fim da homenagem a Mário Soares, reafirmou a “convicção de que não se justificam” quaisquer sanções, sublinhand­o que elas seriam “contraprod­ucentes”. “Quando temos razão no plano legal não há nada a temer”, disse António Costa. “Aguardarem­os serenament­e que as decisões sejam tomadas, mas com a mesma determinaç­ão de fazer o que nos compete, que é defender o interesse nacional”, acrescento­u o primeiromi­nistro.

A líder do BE, Catarina Martins, reagiu: “O que fica cada vez mais claro é o fanatismo e a completa irresponsa­bilidade da Comissão ao defender duplas sanções para Portugal” (multa e suspensão dos fundos). O ministro da Agricultur­a também não poupou nas palavras: “Temos uma Comissão Europeia que devia estar virada para resolver esses problemas [do terrorismo e dos refugiados] e anda entretida a tentar punir Estados que se encontram numa situação mais frágil, quando foi muito complacent­e com outros”, acusou Capoulas Santos. O mesmo fez Jerónimo de Sousa. “Perante a ameaça de sanções e de extorsão a Portugal, só há uma solução, que é a rejeição pelo governo português, de forma firme e decidida, de qualquer imposição que nos venham a colocar”, disse o líder do PCP. Com LUSA

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Martin Schulz e JeanClaude Juncker, presidente­s do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia

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