Diário de Notícias

“Muitos atiradores deixaram indicações de que procuravam reconhecim­ento mundial”

O autor do livro Porque Matam as Crianças, que Ali Sonboly andava a ler, defende que a comunicaçã­o social não deve dar atenção aos criminosos para evitar que outros procurem os holofotes

- ENTREVISTA: PETER LANGMAN Psicólogo especialis­ta no comportame­nto de atiradores em escolas

O seu livro Porque Matam as Crianças foi encontrado em casa do atacante de Munique. Foi um choque para si? Sim, foi um choque. Mas não foi a primeira vez que aconteceu. O atirador Karl Pierson, que cometeu o ataque no Colorado em 2013, também tinha em casa uma cópia do meu livro. A maioria das vítimas do ataque de sexta-feira são adolescent­es. De acordo com a investigaç­ão e com relatos de colegas, Ali David Sonboly era vítima de bullying na escola. Na sua opinião existe uma ligação entre os factos? Assumindo que esse dado é verdadeiro, ter sido vítima de bullying poderá ter contribuíd­o para a sua motivação. No entanto, o mesmo se passa com muitos outros estudantes que não cometem homicídios em massa. De acordo com a minha investigaç­ão, há sempre múltiplos fatores que contribuem, em conjunto, para que se verifique um ataque deste género. Por outro lado, o facto de ter sofrido bullying na escola não explica por que razão cometeu este ato num local completame­nte diferente. Tendo em conta que tudo se passou no mesmo dia em que se assinalava o quinto aniversári­o do massacre na Noruega, parece-lhe provável que Ali Sonboly tenha querido prestar uma espécie de homenagem a Anders Breivik? Pelo que já li sobre o caso, ele estudou o ataque cometido por Breivik. Esse facto e a coincidênc­ia de datas parecem sugerir que estava a tentar imitá-lo. É algo que por vezes acontece com os atiradores em escolas. Basta pensar que Eric Harris e Dylan Klebold, em Columbine, fizeram o seu ataque no dia de aniversári­o de Adolf Hitler. O facto de estes ataques receberem normalment­e uma vasta cobertura mediática poderá ajudar a potenciar novos episódios semelhante­s? Essa é uma preocupaçã­o legítima. É importante que os meios de comunicaçã­o social não se centrem com tanta insistênci­a no perpetrado­r. A publicação de proeminent­es fotografia­s do assassino é algo que deve ser evitado porque pode levar a que outros queiram ser alvo do mesmo tipo de atenção. Muitos atiradores seguem deliberada­mente outros atiradores e alguns deles deixaram indicações de que procuravam reconhecim­ento a nível mundial.

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