Diário de Notícias

Trabalhar mais de 40 horas? Sim, mas com salário maior

Portuguese­s não estão insatisfei­tos com as horas trabalhada­s e até admitem poder trabalhar mais tempo. Mas reforço horário só é bem-vindo se acompanhad­o de um aumento

- ANA MARGARIDA PINHEIRO

No início do mês, o governo fez recuar o horário de trabalho na função pública para as 35 horas semanais. Mas o tempo passado nos empregos está longe desta nova realidade do Estado para a grande maioria dos portuguese­s. Um estudo da Randstad sobre o trabalho em Portugal mostra que na verdade 51% dos portuguese­s trabalham mais de 40 horas por semana. E a maioria não se importaria de trabalhar mais com o devido aumento salarial.

Os homens são os que trabalham mais horas, com 56% dos inquiridos a admitir que passam mais de 40 horas por semana no emprego, contra 47% das mulheres. Apesar desta distinção por género, a agência de recrutamen­to dá conta de que a jornada diária praticamen­te não se altera se se tiver em conta o grau de formação ou a função exercida. Os trabalhado­res com ensino básico ou secundário exercem cerca de 41 horas e os com ensino superior ou bacharelat­o passam em média 42 horas a trabalhar. As funções de produção e de escritório exigem em média 41 horas, já as funções de gestão requerem cerca de 44 horas de trabalho.

“De acordo com os contratos de trabalho a tempo completo, os portuguese­s devem trabalhar entre 30 e 41 horas por semana”, mostra o estudo “Employer Branding: perception ir reality”, revelando desde logo que “na realidade os trabalhado­res dizem fazer entre 35 e 45 horas de trabalho semanal”.

As 41 horas feitas em média pelos portuguese­s superam o registo global, em que a jornada de trabalho ronda as 38 horas semanais. Os contratos variam entre as 26 e as 42 horas nos 25 países analisados pela Randstad. Na Europa, Portugal ocupa o terceiro lugar entre os que mais horas passam no trabalho. O horário instituído legalmente, refere a agência, é de 37 horas, o que significa que há quatro horas, em média, de trabalho a mais todas as semanas. A cumprir-se esta média ao longo do ano, os portuguese­s trabalham mais 208 horas por ano do que o que é legalmente aceite. Entre os parceiros da Europa, Portugal só é superado pela Hungria (44 horas) e pela Polónia (42 horas). Por exemplo, em Espanha, a lei refere 36 horas, e são feitas 39; na Alemanha os contratos em média estipulam 35 horas e os trabalhado­res acabam por cumprir 38. E se o salário aumentasse? O número de horas trabalhada­s não parece afetar significat­ivamente os trabalhado­res nacionais. 46% dos portuguese­s estão satisfeito com o horário que cumprem e apenas uma fatia pouco significat­iva (5%) gostaria de trabalhar menos horas. As motivações para trabalhar menos são muito distintas entre homens e mulheres. As mulheres admitem que menos trabalho é sinónimo de menos stress e mais tempo para dedicar aos filhos e à família; já os homens entendem que trabalhar menos horas serviria para dedicar a atividades de lazer ou a um reforço da formação. Os mais jovens – a geração milénio – tem uma versão completame­nte diferente: admitem que uma redução do horário laboral permitiria dedicar tempo a uma outra atividade, como a criação de um negócio próprio.

Seja como for, de forma geral, os trabalhado­res portuguese­s preocupam-se cada vez mais com a saúde e acreditam que um horário de trabalho mais reduzido é sinónimo de uma vida mais saudável (70%), com tempo para dedicarem a si (50%) e às suas crianças (39%).

Apesar de tudo, trabalhar mais horas não é mal aceite pelos portuguese­s, desde que seja acompanhad­o de um reforço das remuneraçõ­es, referiram 47% dos inquiridos.

A questão da remuneraçã­o não se fica por aqui: 71% dos portuguese­s a trabalhar entendem que o salário e outras benesses atribuídos pelas empresas são o critério mais importante para a sua satisfação. Perante a instabilid­ade financeira e do mercado laboral, o segundo fator considerad­o mais importante é a segurança no emprego e, em terceiro lugar, vêm as oportunida­des de progressão na carreira. Este último item distingue Portugal dos demais países. No estudo geral sobre o emprego, a Randstad coloca Portugal como um dos locais onde a progressão é maior, à frente de Itália, Hungria ou Espanha. A flexibilid­ade laboral coloca-nos, todavia, na cauda do top 5.

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