Diário de Notícias

Plano de Domingues para a Caixa considerad­o “irrealista” pelo BCE

Futuro presidente da CGD pede 5,1 mil milhões para reforçar banco público, mas valor é demasiado elevado, dizem técnicos

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Equipa de Mario Draghi obrigou a revisão do plano inicial que o futuro presidente da CGD pensou

ANA MARGARIDA PINHEIRO rotundo não. Foi assim que o Banco Central Europeu recebeu o primeiro esboço desenhado por António Domingues para a capitaliza­ção da Caixa Geral de Depósitos. O gestor pediu 5,1 mil milhões e apresentou os futuros administra­dores do banco, mas nada foi visto com bons olhos.

Os técnicos da joint supervisor team – um grupo formado por técnicos do BCE e do Banco de Portugal – considerar­am o plano pouco credível e irrealista. E levantaram dúvidas sobre várias matérias. Desde logo em relação ao valor pedido por Domingues para capitaliza­r o banco, sublinhand­o que 5,1 mil milhões é um valor demasiado elevado e acima das reais necessidad­es. Também levantaram dúvidas em relação às provisões de 2,8 mil milhões, justifican­do que o valor não está de acordo com a realidade. Para chegar a este número, a equipa comparou a CGD com o resto do mercado e concluiu que, afinal, o banco público está numa situação razoável.

No documento, Domingues faz referência à saída de 2600 funcionári­os, para as quais reserva 500 milhões de euros, e também este valor é visto como “irrealista”. Definição semelhante foi atribuída à estimativa de custos para limpar os problemas com fundos imobiliári­os – 600 milhões de euros, que o BCE acredita estarem longe da realidade portuguesa. O banco central diz mesmo que o cenário apresentad­o adequa-se mais ao mercado espanhol do que ao nacional.

As críticas não se ficam apenas pelos números que envolvem a capitaliza­ção. Ao BCE, Domingues relata os nomes dos 19 administra­dores que o banco público irá receber. E o BCE responde que o número é demasiado elevado, levantando inclusivam­ente dúvidas sobre cinco elementos que diz estarem pouco preparados para a função.

“O plano industrial para a CGD tem sido discutido regulament­e tanto com o BCE como com a Direção-Geral da Concorrênc­ia europeia. Fruto das várias interações, o plano tem vindo a ser aperfeiçoa­Um do, incorporan­do os contributo­s dos reguladore­s e ajustando as críticas que vão sendo feitas”, esclareceu fonte oficial das Finanças ao semanário Expresso, assegurand­o que “neste momento as duas instituiçõ­es reconhecem como credível o plano apresentad­o”.

Questionad­o pelo Expresso, Domingues diz desconhece­r esta avaliação negativa do BCE, por não ser ainda oficialmen­te o presidente da Caixa, não tinha obrigação de ser notificado.

Certo é que o plano está a ser refeito e já motivou inclusive a ida de Elisa Ferreira, nova administra­dora do Banco de Portugal, a Frankfurt, na semana passada. Também Domingues está a ser recebido ao longo dos últimos meses pelas autoridade­s. Em todo o caso, o Expresso sublinha que a veemência com que este primeiro relatório chumbou o plano para o banco público levou ao início de um processo duro de negociação entre o BCE e a DC Comp. Estas mesmas negociaçõe­s, adianta, atrasaram a tomada de posse da nova administra­ção da Caixa.

A assessorar o futuro presidente da Caixa Geral de Depósitos está a consultora McKinsey, que terá tido também a seu cargo este primeiro documento.

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