Diário de Notícias

Um vice “aborrecido” para Hillary seduzir a Virgínia

Aos 58 anos, o senador da Virgínia, que já foi governador do estado e mayor de Richmond, tem vasta experiênci­a. Calmo e pragmático, a candidata democrata vê nele um anti-Trump

- HELENA TECEDEIRO

“Sou aborrecido!”, admitia Tim Kaine há umas semanas no programa Meet the Press da NBC News. Mas quem conhece o senador da Virgínia, que Hillary Clinton acaba de escolher para seu candidato a vice na presidenci­ais de 8 de novembro nos EUA, garante tratar-se antes de um homem calmo, um centrista moderado, suficiente­mente pragmático para conseguir trabalhar com os republican­os. Kaine, que antes de chegar ao Senado, em 2013, fora governador da Virgínia e mayor de Richmond, é também um progressis­ta que se conseguiu impor num bastião do conservado­rismo sulista e pode agora ajudar Hillary a impor-se num dos swing states – aqueles estados que alternam entre democratas e republican­os – essencial para a sua vitória sobre o republican­o Donald Trump.

Depois de anunciar a sua escolha para o ticket democrata no Twitter e via SMS, Hillary esteve ontem ao lado de Kaine em Miami, Florida. A ex-primeira-dama, que prometera escolher para vice alguém com experiênci­a suficiente para poder assumir a presidênci­a em caso de necessidad­e, sublinhou: “Tim Kaine é tudo o que Donald Trump e [o seu vice] Mike Pence não são.” Antes de acrescenta­r: “É um progressis­ta que gosta de fazer coisas!”

Num recado aos que duvidam da capacidade do senador da Virgínia para lidar com os ataques que o esperam por parte do candidato republican­o, a ex-primeira-dama brincou: “Não se deixem enganar: por detrás deste sorriso esconde-se uma vontade de ferro. Perguntem à NRA.” Feroz defensor de mais controlo na venda de armas, o senador daVirgínia é considerad­o um inimigo pelo poderoso lóbi das armas.

Kaine retribuiu os elogios, lembrando que “Hillary Clinton é o oposto de Donald Trump. Ela não insulta as pessoas. Ela ouve-as.” O senador apresentou ainda algu- mas propostas concretas que ele e Hillary pretendem pôr em prática. “Nos primeiros cem dias vamos apresentar uma reforma da imigração que abra caminho à cidadania”, disse, antes de prometer “uma economia que funcione para todos”.

Aos 58 anos, Kaine nunca perdeu uma eleição e Hillary espera agora que a reputação de político competente – em contraste com a imprevisib­ilidade de Trump – a ajude a conquistar os votos dos homens brancos e dos independen­tes. Com boas relações com os republican­os no Senado, Kaine pode ser uma arma nas negociaçõe­s de uma futura Administra­ção Clinton. Um papel que o vice-presidente Joe Biden assumiu com Barack Obama.

Nascido no Minnesota e criado no Kansas, Kaine estudou num colégio dos jesuítas para rapazes. Depois de uma licenciatu­ra em Economia e de sonhar ser jornalista, acabou por tirar Direito em Harvard. A sua forte fé católica acabou por o levar às Honduras onde passou um ano com os missionári­os jesuítas. Foi aqui que aperfeiçoo­u o espanhol. Casado e pai de três filhos, Kaine nunca deixou no entanto a fé interferir nas decisões políticas. Seja quando defende o direito ao aborto, apesar de ser pessoalmen­te contra, ou quando autorizou 11 execuções como governador, apesar de ser contra a pena de morte. Alguns descontent­es A escolha de Kaine em detrimento de outros candidatos a vice – fosse a senadora ElizabethW­arren ou o secretário da Habitação Julian Castro – não foi unânime. Algum eleitorado latino teria preferido ver um dos seus no ticket, mas o facto de Kaine ser fluente em espanhol pode ajudar a conquistar o voto hispânico.

A ala mais liberal do partido democrata foi a mais dura nas críticas, atacando Kaine por defender um acordo de comércio livre entre os EUA e 20 países asiáticos. Entre os que se opõem a este acordo estão muitos apoiantes de Bernie Sanders, o senador doVermont que disputou até ao fim a nomeação democrata e só há dias declarou o apoio à ex-primeira-dama. Unir o partido e conseguir os votos dos apoiantes do rival é um dos objetivos de Hillary para vencer em novembro. Por isso mesmo, Trump se apressou a lançar achas para a fogueira. “Tim Kaine é e sempre foi vendido aos bancos. Os apoiantes de Bernie estão furiosos. Bernie lutou para nada!”, escreveu no Twitter.

Também o apoio de Kaine, como mayor de Richmond, a um projeto que no final dos anos 1990 declarou a posse ilegal de uma arma um crime federal, permitindo aos procurador­es enviar os condenados para uma prisão fora do seu estado, está a ser alvo de críticas. O plano visou sobretudo a comunidade negra, que o acusa de ter aprofundad­o as tensões raciais.

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Um dia depois de ter sido anunciado como candidato a vice democrata, Tim Kaine esteve com Hillary em Miami

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