Erdogan fecha mil escolas e prolonga detenção por 30 dias
Autoridades libertaram 1200 soldados detidos após tentativa de golpe. Dossiê para extradição de Gülen ficará pronto em dez dias
Para Recep Tayyip Erdogan, as críticas dos líderes europeus à sua decisão de instaurar o estado de emergência após o golpe de Estado falhado do dia 15 revelam “o preconceito” da União Europeia em relação à Turquia. O presidente turco deu uma entrevista à televisão France 24 no dia em que o governo de Ancara decidiu prolongar o período de detenção sem acusação formada para 30 dias.
Sublinhando que o estado de emergência vai permitir às autoridades turcas restabelecer a ordem e lidar com as consequências do golpe falhado, Erdogan garantiu que apenas persegue os que estão “100% identificados” como tendo estado envolvidos na tentativa de o derrubar do poder. Primeiro-ministro entre 2003 e 2014, Erdogan é presidente desde 2014 e já afirmou que gostaria de ficar no poder até 2023, o centenário da fundação da Turquia moderna por Mustafa Kemal Atatürk.
Com mais de 60 mil funcionários públicos detidos ou suspensos na última semana, o governo de Ancara anunciou ontem o encerramento de mais mil escolas privadas e mais de 1200 associações, entre as quais 19 sindicatos, 15 universidades e 35 institutos médicos. De acordo com a agência de notícias turca Anadolu, todas as instituições cujo encerramento foi ontem ordenado estão ligadas a Fethullah Gülen, o clérigo islâmico que Erdogan e o governo turco acusam de estar por detrás da tentativa de golpe. Aos 75 anos, Gülen vive desde 1999 em exílio nos Estados Unidos. É o fundador do movimento Hizmet (O Serviço, em turco), que, entre outras atividades, gere escolas e universidades privadas em mais de 180 países.
Gülen rejeita as acusações que pesam contra ele. Mas Ancara já pediu a sua extradição. E ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, garantiu à estação de televisão privada NTV que o governo espera ter pronto dentro de dez dias o dossiê que vai apresentar às autoridades dos Estados Unidos a justificar o pedido de extradição de Gülen. O chefe da diplomacia turca garantiu que existem provas “muito claras” do envolvimento do clérigo e dos seus seguidores na Turquia na tentativa de golpe de dia 15 e sublinhou que Ancara irá fazer todos os possíveis “política e legalmente” para conseguir a extradição de Gülen. Washington não afastou totalmente a hipótese de aceitar o pedido da Turquia, sua aliada na NATO, mas exigiu provas
Presidente promete “sangue novo” nas forças armadas irrefutáveis do envolvimento do clérigo. Segundo vários advogados ouvidos pela Reuters, o processo pode demorar anos.
Ontem ainda o procurador-geral de Ancara anunciou que 1200 soldados detidos depois da tentativa de golpe tinham sido libertados. Segundo a BBC, tratava-se de militares de baixa patente. Milhares de outros elementos das forças armadas continuam, contudo, detidos, entre eles mais de uma centena de generais e almirantes.
No próximo dia 28, Erdogan deverá reunir-se com o Conselho Militar Supremo da Turquia, num encontro antecipado, para discutir a reestruturação das forças armadas do país. O presidente, que no dia 15 escapou por pouco à captura, prometeu trazer “sangue novo” para um setor visto como o garante do laicismo na Turquia.