Diário de Notícias

Suíça confisca pinturas de Van Gogh e Monet

Os quadros faziam parte do fundo estatal malaio 1MDB, que também financiou o filme O Lobo de Wall Street, com DiCaprio

- MARINA MARQUES

As autoridade­s judiciais suíças confiscara­m na quinta-feira dois quadros do pintor francês Claude Monet e um do holandês Vincent van Gogh, dando seguimento a um pedido da justiça norte-americana que está a investigar o fundo estatal da Malásia 1MDB, com o objetivo de apreender mil milhões de dólares (cerca de 900 mil euros) em ativos do fundo. As obras, La Maison de Vincent à Arles (1888), de Van Gogh, e Saint Georges Majeur (1908-12) e Nymphéas avec Reflets de Hautes Herbes (1914-17), de Monet.

Em declaraçõe­s à imprensa helvética, na sexta-feira, uma porta-voz do Ministério Público suíço, Ingrid Reyser, confirmou a apreensão das três pinturas e acrescento­u que “a operação está concluída”, mas não avançou qualquer informação sobre o local em que decorreu a operação nem sobre o valor das obras. Ingrid Reyser acrescento­u apenas que se tratou de uma medida preventiva, desencadea­da por um pedido do Departamen­to de Justiça norte-americano. Os Estados Unidos têm agora três meses para fazer o pedido formal às autoridade­s suíças.

Segundo o site da Christie’s, a pintura deVan Gogh em causa fora vendida num leilão em Nova Iorque, em novembro de 2013, por um valor próximo dos 5,5 milhões de dólares (quase cinco milhões de euros). Quanto ao quadro Nymphéas avec Reflets de Hautes Herbes , de Monet, o site da Sotheby’s regista a sua venda em Londres, também em 2013, mas em fevereiro, por nove milhões de libras, valor francament­e abaixo do que a leiloeira esperava alcançar, tendo saído à praça com uma estimativa de venda entre os 12 e os 18 milhões de libras.

A operação junta-se a outras já realizadas nos Estados Unidos e em Singapura. Foi na quarta-feira que o Departamen­to de Justiça norte-americano anunciou a intenção de apreender mil milhões de dólares alegadamen­te roubados ao governo da Malásia. Dia em que também foi revelado que os direitos e lucros do filme de Martin Scorsese protagoniz­ado por Leonardo DiCaprio, O Lobo de Wall Street (2013), fazem parte da lista de bens a serem confiscado­s.

Entre 2009 e 2015, mais de 3,5 mil milhões de dólares (pouco mais de 3,1 mil milhões de euros) terão sido desviados dos cofres malaios. Destes, 64 milhões (58 milhões de euros) terão sido direcionad­os para a produtora Red Granite Pictures que, por sua vez, os terá investido na produção do filme nomeado para cinco Óscares da Academia de Hollywood. Riza Aziz, chefe executivo da produtora em causa, é enteado do primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak. Os fundos que se julgam envolvidos num esquema de corrupção terão sido desviados por altos funcionári­os desse governo, que os colocavam ao dispor do programa 1Malaysia Developmen­t Berhad (1MDB), um projeto de parcerias internacio­nais e investimen­to estrangeir­o cujo principal objetivo era o melhoramen­to do bem-estar do povo malaio.

Durante esse período, o dinheiro terá, no entanto, sido canalizado para empresas de fachada que o terão gasto em obras de Van Gogh e Monet, um jato Bombardier, propriedad­es imobiliári­as em Beverly Hills, Califórnia e Nova Iorque, bem como em negócios no ramo do entretenim­ento como algumas das produções da Red Granite Pictures (incluindo o filme de Scorsese). E se os quadros dos pintores holandês e francês já foram confiscado­s, é de esperar outras operações a curto prazo em relação aos restantes bens listados.

A gigante da área da música, a EMI Music Publishing Group, poderá também estar envolvida no caso, avançava o Business Insider. No entanto, até à data, ainda não foi esclarecid­o como estaria ligada a este esquema.

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Quadro de Monet foi vendido em leilão, em 2013, por nove milhões

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