Diário de Notícias

Trabalho de herói

- JOANA PETIZ

Odia de domingo foi tudo menos plácido para Alexandre e para o companheir­o de assento na carrinha amarela. Com outros três bombeiros profission­ais e mais uns poucos técnicos e voluntário­s – o total não excede duas dezenas –, durante 24 horas foram eles que assegurara­m que nenhuma emergência da zona de Lisboa abrangida pelo seu quartel ficava sem resposta, sem atenção, sem um gesto de conforto. Para o final do turno, o bombeiro Alexandre e o companheir­o de equipa já tinham planos: novo turno de 24 horas repartido entre a assistênci­a a doentes e feridos e o trabalho de campo num dos incêndios a norte, que não dá sinais de estar perto de ficar controlado. Os homens são poucos e este trabalho não pode ficar para amanhã, por isso vão-se remediando com o que há, dormem aos bocadinhos, comem à vez. Confiam na tensão das tarefas que têm de cumprir para se manterem alerta – não têm outro remédio senão confiar. Até serem traídos pelo cansaço – “quando somos poucos para fazer frente aos incêndios, os que ficam sofrem muito desgaste e arriscam-se mais”, explicou numa entrevista Fernando Curto, o homem que comanda a Associação Nacional de Bombeiros Profission­ais. O problema é que não há alternativ­a. Há poucas mãos para ajudar tanta gente em momentos de tamanha dificuldad­e. Só ontem, para combater os perto de 200 fogos ativos – muitos deles a ameaçar pessoas e casas –, havia mais de quatro mil homens e mulheres embrenhado­s nas florestas e matas portuguesa­s. O número equivale a um quarto de todos os profission­ais que existem no país (aos quais se juntam cerca de 25 mil voluntário­s). O mais injusto é que quase ninguém sabe sequer o nome de pelo menos um destes homens e mulheres que todos os dias salvam vidas. Hoje, o bombeiro Alexandre não está a combater as chamas. Anda por aí, no “amarelinho”, para garantir que feridos e doentes não ficam sozinhos, sem resposta. Que também estes fogos são apagados.

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