Quase 300 militares ajudam no combate aos incêndios
Porto ativou plano distrital de emergência. O fogo que devorou a serra da Freita, em Arouca, durante mais de 46 horas, estava praticamente dominado ao final da tarde de ontem
Quase três centenas de militares tiveram ontem de ajudar os bombeiros a combater incêndios florestais, que causaram grande destruição em especial nas regiões norte e centro e obrigaram mesmo a ativar o plano distrital de emergência (PDE) do Porto e Arcos de Valdevez. Uma decisão “inédita”, como a qualificou o presidente daquela comissão distrital da Proteção Civil, Marco Martins, e que envolveu 120 militares do Exército. Ao todo, mais de cinco mil bombeiros tiveram de combater cerca de 600 fogos no dia de ontem.
Segundo soube o DN, foram destacados 12 pelotões de militares e três destacamentos de engenharia do Exército, num total de 274 efetivos, ao abrigo do Plano Lira – que abrange ações de rescaldo dos fogos e apoio logístico aos bombeiros. Barcelos, Viseu, Águeda, Paredes, Estarreja, Vila Nova de Cerveira, Ponte de Lima, Gondomar e Cinfães foram as localidades onde os militares estiveram empenhados ontem em ações de combate indireto – com máquinas de rasto – e no apoio e salvaguarda de pessoas e bens, bem como na vigilância ativa na fase pós-incêndios e nas ações de rescaldo, adiantaram as fontes. Quanto a viaturas, estiveram envolvidas 46.
Arouca arde desde sábado O distrito de Aveiro tem sido dos mais fustigados pelos fogos dos últimos dias. Ontem, ao final da tarde, os incêndios de Arouca e Águeda continuavam a ser considerados “ocorrências importantes” no site da Autoridade Nacional de Proteção Civil.
Poucos conseguiram dormir durante a noite de ontem em Provisende, freguesia de Rossas, concelho de Arouca, onde as chamas lavram desde o final da tarde de sábado. “Quando o fogo anda à volta das casas ninguém descansa. Já ardeu tudo desde a serra da Freita”, lamentou Manuel, habitante da localidade, que viu as chamas chegarem bem perto da sua habitação. “Se o povo se entendesse para abrir estradas, os bombeiros tinham mais acessos”, disse.
Embora as casas não tenham sido atingidas, as chamas deixaram um rasto de destruição e consumiram currais e palheiros. Munidos com mangueiras de jardim, baldes, garrafões e ramos de árvores, os populares ajudavam a combater o fogo que começou na serra da Freita e se estendeu para o concelho vizinho de Vale de Cambra.
Ao início da tarde, Áurea Rodrigues, 68 anos, tentava apagar o incêndio que chegou ao seu pinhal, na localidade de Fuste, Arouca. “Já não há nada verde aqui na zona. Pensava que este se safava, mas ardeu tudo”, contou ao DN.
O incêndio que chegou a ter sete frentes ativas evoluía favoravelmente ao final da tarde de ontem. “Na serra da Freita está finalmente sob controlo, mas ardeu praticamente tudo”, disse ao DN José Artur Neves, presidente da Câmara Municipal de Arouca, ressalvando que não houve vítimas mortais nem casas ardidas. Mas vivia-se ainda uma situação “muito difícil, descontrolada”, depois de ter deflagrado mais um fogo na freguesia de Janarde.
Por esta altura, ainda não foi contabilizada a área ardida, mas num concelho em que “80% do ter- Em Águeda (foto principal), quase 300 operacionais combatiam as chamas ao final do dia de ontem. Em Arouca, o fogo deixou os bombeiros exaustos e levou Áurea Rodrigues a tentar salvar o seu pinhal ritório é floresta”, “os incêndios têm um impacto muito negativo na paisagem e na economia”. Todos os anos há fogos, destaca, “mas não com esta dimensão”. A vegetação foi destruída, o que acarreta ainda um outro problema: os animais deixaram de ter alimentação nas pastagens.
Fogo descontrolado em Águeda Às 20.00, a situação mais complicada vivia-se em Águeda, onde 298 operacionais, apoiados por 99 viaturas e dois meios aéreos, combatiam um fogo que deflagrou cerca das 04.00 de ontem na localidade de Préstimo. Cidália Oliveira, moradora no lugar de A-dos-Ferreiros, acordou com as sirenes. “Só depois é que me comecei a aperceber da gravidade da situação”, contou ao DN. Com as casas rodeadas por colunas de fumo denso, Cidália e os vizinhos viveram momentos de grande angústia. “Estou numa aflição enorme há horas. Não me lembro de nada assim”, afirmava, de máscara, enquanto observava o fogo a devorar a floresta em frente à sua casa. “E já destruiu tudo o que era mato nas traseiras.” Ao início da noite, o terceiro incêndio com mais operacionais (232, 79 viaturas e dois meios aéreos) decorria no concelho de Barcelos, no distrito de Braga.
Ao longo do dia foram 616 os incêndios florestais no país. No combate às chamas estiveram 5150 operacionais, apoiados por 1643 veículos e dez meios aéreos. Pelas 20.00, mais de 1700 bombeiros ainda combatiam os 12 principais incêndios no continente. Com RUTE COELHO