Novo presidente são-tomense eleito com 54% de abstenção
Evaristo de Carvalho era candidato único na segunda volta. Dados provisórios indicam que teve 42 058 votos
Pelo menos 54% dos 111 222 eleitores são-tomenses não votaram na segunda volta das presidenciais de domingo, em que o candidato único, Evaristo de Carvalho, obteve um total de 42 058 votos, indicam dados provisórios avançados hoje pela Comissão Eleitoral Nacional (CEN).
Numa curta declaração a jornalistas, o presidente da CEN, Alberto Pereira, referiu ainda que houve 7567 votos nulos e 1548 votos brancos.
“Gostaríamos de frisar que são apenas dados provisórios, ficando os resultados definitivos da competência da Assembleia Geral de Apuramentos, que funciona junto do Tribunal Constitucional”, disse, escusando-se a referir se com os dados que apresentou o candidato único, apoiado pelo partido no poder em São Tomé e Príncipe, Ação Democrática Independente (ADI), pode ser eleito ou não Presidente da República.
Evaristo de Carvalho foi o candidato mais votado na primeira volta, a 17 de julho, e foi o único a ir a votos na segunda volta depois de Manuel Pinto da Costa, atual Presidente da República, ter abandona- do a disputa, argumentando que “participar num processo eleitoral tão viciado seria caucioná-lo”.
Patrice Trovoada, primeiro-ministro e líder da ADI, reconheceu que uma segunda volta com apenas um candidato não ajuda à imagem do país. E no dia da votação transmitira a sua preocupação com uma elevada taxa de abstenção. “É uma experiência nova que aconteceu em São Tomé e Príncipe, mas haveremos de esperar para o fim do dia para fazermos as análises sobre o escrutínio, mas estou convencido de que qualquer que seja o resultado, Evaristo de Carvalho será um presidente bem eleito pela vontade expressa dos são-tomenses”, disse.
Os três partidos da oposição parlamentar, numa ação concertada, retiraram os seus membros da CEN e das comissões eleitorais distritais, acusadas de envolvimento na fraude que, de acordo com a oposição, procura “pôr no poder a qualquer custo” Evaristo de Carvalho.
“Eu tenho de ser coerente comigo mesma. Não reconheci os resultados, pedi a anulação dos resultados da primeira volta e eu agora não vou legitimar este ato, não vou legitimar este ato fraudulento, portanto não vou votar”, disse a candi- data Maria das Neves em conversa telefónica com a Lusa.
O protesto estendeu-se à sociedade civil, com a realização de vigílias em frente de tribunais e manifestações organizadas pela oposição a marcarem os últimos dias no arquipélago.
Também o enviado especial do secretário-geral da ONU para a África Central, Abdoulaye Bathili, que terminou na sexta-feira uma visita de três dias ao arquipélago, manifestou-se apreensivo com a situação em São Tomé, e pediu aos atores políticos para encontrarem uma solução para a crise política dentro de uma atmosfera de “diálogo e vontade política”.
Na primeira volta, foram às urnas 71 524 eleitores, que corresponde a 64,31% de afluência, havendo 35,69% de abstenções, equivalente a 39 698 não votantes.
Na hora de votar, no centro da capital são-tomense, Evaristo de Carvalho desvalorizou toda a polémica: “Penso que poderei ser eleito muito claramente.” Jornalista da agência Lusa