Ataque suicida mata 70 na cidade mais violenta do Paquistão
Atentado é dos mais mortíferos este ano. Foi reivindicado pelo grupo responsável pela morte de 75 pessoas em março, em Lahore. Governo local acusa Índia de envolvimento
Um bombista suicida causou ontem 70 mortos no principal hospital público de Quetta, no Sudoeste do Paquistão, quando um grande número de advogados se encontrava no serviço de emergências a acompanhar o corpo de um conhecido jurista local que fora baleado horas antes numa das ruas da cidade.
Além do grande número de mortos ficaram feridas mais de cem pessoas, estimando um responsável do hospital que muitas destas ainda viriam a morrer, devido à gravidade dos ferimentos. Capital da província do Baluchistão, fronteiriça com o Afeganistão e o Irão, Quetta tem uma longa história de violência, assim como toda a região, sendo palco de frequentes atentados e de confrontos entre as forças de segurança e diferentes grupos islamitas. Segundo as autoridades paquistanesas na província, onde vivem mais de oito milhões de pessoas, estarão em atividade mais de 30 organizações terroristas. O atual surto de violência teve início em 2004 e, além da componente sectária re- ligiosa, resulta da existência de um movimento independentista.
O atentado de ontem foi reivindicado por uma das organizações mais violentas, a Jamaat-ur-Ahrar, que é parte do movimento talibã paquistanês. Além de elementos das forças de segurança e das comunidades xiita e sunita, outro dos alvos frequentes são os advogados e juízes.
Imagens divulgadas pouco depois do atentado, que sucedeu durante a manhã, mostravam dezenas de corpos espalhados pelo chão, muitos apresentando sinais de queimaduras, sendo visíveis grandes poças de sangue e vidros estilhaçados. De acordo com uma estimativa da unidade antiminas local, teriam sido usados nove quilos de explosivos no engenho.
A maioria das vítimas eram advogados que se tinham concentrado no local pouco depois de ter chegado o corpo do presidente desta ordem profissional na província, Bilal Anwar Kas, que viria a morrer vítima dos ferimentos. O anterior presidente da mesma associação, Muhammad Kakar, também perdeu a vida devido ao atentado.
O chefe do governo da província, Sanaullah Zehri, acusou os serviços de informações externas da Índia, RAW, de envolvimento no ataque, que foi um dos mais mortíferos este ano no Paquistão. A 27 de março, um bombista suicida fez-se explodir junto da entrada do parque Gulshan Iqbal, em Lahore, matando 75 pessoas, a maioria mulheres e crianças. O ataque foi também reivindicado pelo Jamaat-ur-Ahrar.
O atentado de ontem foi o terceiro sucedido em Quetta este ano. A 13 de janeiro, uma bomba explodiu junto de um centro de vacinação contra a poliomielite, matando 15 pessoas. O Paquistão é um dos raros países no mundo onde esta doença, que afeta particularmente as crianças, tem ainda carácter endémico. Sucessivas campanhas para a erradicarem têm sido alvo de ataques dos terroristas islamitas. Um curso de ação adotado desde que foi conhecido que a CIA organizara uma campanha de vacinação em Abbottabad na tentativa de capturar Osama bin Laden, que seria morto em maio de 2011.
O outro atentado de que Quetta foi palco em 2016 sucedeu a 6 de fevereiro, quando um bombista suicida se fez explodir à passagem de um veículo das forças de segurança. Perderam a vida nove pessoas, duas delas elementos das forças de segurança.
O anterior líder dos talibãs afegãos, Akhtar Mansour, foi morto em Quetta, a 22 de maio, num ataque de um avião não tripulado dos EUA.