Diário de Notícias

Absolutely Fabulous. Fazem-nos rir mas apenas com moderação

Na Inglaterra, é um dos maiores sucessos de sempre. Em Portugal, o filme de Mandie Fletcher estreia-se em setembro no Queer Lisboa. O DN foi a Londres espreitar o fenómeno

- RUI PEDRO TENDINHA

Cinema ligeiro e popular com uma uma missão clara: agradar ao público hardcore da série televisiva de Jennifer Saunders. O “problema” é que os fãs da sitcom estavam com umas saudades tão grandes que os resultados de bilheteira de Absolutely Fabulous. The Movie foram espantosos (segunda abertura maior de sempre de uma obra do cinema inglês e um fenómeno de apoio que gerou quase um debate nacional), aliás, os fãs eram tantos que poucos previam esta adesão.

Na verdade, longe de ser uma comédia de excelência, esta extensão para cinema do universo das duas dondocas fashion britânicas quer precisamen­te apenas matar saudades de ambas. O resultado dos gagues não é tão fulminante como na série, mas há meia dúzia de gargalhada­s bem fortes e a loucura saudável do conceito não é diametralm­ente oposta àquela que já conhecíamo­s. Aliás, há uma sensação de conforto que neste caso não é nociva.

Escrito e controlado por Saunders, o filme começa quando a dupla das tias Patsy Stone e Edina Monsoon torna-se fugitiva da polícia por supostamen­te uma delas ter empurrado a modelo Kate Moss para o rio Tamisa. Em seguida, as duas fashionist­as partem para Cannes, onde vão tentar o golpe do baú com estilo. Não vai faltar muito champanhe, algumas linhas de coca e o luxo habitual. Ao mesmo tempo, em Londres, a filha de Edina está apaixonada pelo detetive da polícia que conduz o caso de perseguiçã­o à sua mãe, transforma­da numa das pessoas mais odiadas no mundo pela possível morte da modelo ídolo.

Pelo meio, um sem-número de peripécias acontecem às duas amigas, cada vez mais decadentes mas sem vergonha nenhuma. Dir-se-ia até que estão mais endiabrada­s.

Apesar de a realização mostrar uma guinada quase permanente para a trapalhada (problema das comédias mais populares...) e não haver bom senso narrativo, é de aplaudir uma aposta num humor físico bem descarado – as sequências na Côte d’Azur são bem divertidas. Acima de tudo, esta versão para cinema é pródiga no seguinte: deixa as personagen­s à solta e é refrescant­e vermos duas mulheres maduras a portarem-se deliciosam­ente mal. Aliás, Edina e Patsy já são ícones britânicos e este projeto amplificad­o de Saunders não belisca em nada esse estatuto. Talvez por isso seja fácil perdoarmos todos os defeitos que aqui se encontram. Tomara muitas comédias terem coragem para assumir esta dimensão amplificad­a de caricatura social.

Todos a fazerem deles próprios O capital de simpatia de Saunders é tão notório que foi possível um elenco de cameos verdadeira­mente demente. Nesse aspeto fica renhida a luta contra Zoolander 2, de Ben Stiller, que também brincava com o mundo da moda (infelizmen­te Stiller não acertou no tom e as Absolutely Faboulous ficam a ganhar o duelo). Além de Kate Moss (que não é boa a fazer de Kate Moss), encontramo­s também Jon Hamm (da série Mad Men), a cantora La Roux, a ex-modelo Jerry Hall, a atriz mítica Joan Collins, a atriz-modelo Lily Cole, o apresentad­or e humorista Graham Norton, os estilistas Stella McCartney e Jean-Paul Gaultier, a ex-Spice Girls Emma Bunton, o blogger Perez Hilton ou a modelo Alexa Chung.

Outro dos pontos de atração do filme é a banda sonora, perfeita para qualquer filme com rebordo de silly season. Uma misturada muito agradável que inclui Leonard Cohen, La Roux, Kylie Minogue, Santigold, Serge Gainsbourg e Jane Birkin, Nancy Sinatra e, claro, o clássico de Peter Sarsdet, Where DidYou Go (To My Lovely), que fecha com chave de ouro uma obra que pisca o olho à cultura queer.

Não é por acaso que será o filme de abertura do Queer Lisboa, em setembro, e do Queer Porto, em outubro. Aliás, Joana Lummley e Jennifer Saunders fizeram questão de promover este blockbuste­r inglês no desfile Pride, em Londres. Não só está cheio de um humor saudável com a comunidade gay, como Absolutely Fabulous para cinema inclui um discurso aberto sobre as questões de género.

É de aplaudir a aposta num humor físico bem descarado

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Edina Monsoon e Patsy Stone: o sucesso das tias passou para o grande ecrã

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