Diário de Notícias

Phelps tem mais medalhas de ouro do que 150 países.

Portuguesa ultrapasso­u dúvidas e lesões para brilhar no Brasil e conquistar uma “medalha de sangue lusitano”. Enterrado o fantasma de falhanços olímpicos, Telma até já aponta a Tóquio 2020

- PEDRO SEQUEIRA enviado ao Rio de Janeiro

Está ultrapassa­do o trauma olímpico. À sua quarta participaç­ão em Jogos, Telma Monteiro conquistou o bronze na categoria de -57 kg em judo, acabando de vez com a ideia de que não estava talhada para a maior competição do mundo, apesar de um currículo recheado de troféus, como quatro campeonato­s da Europa e vários pódios em mundiais.

“Chorei muito, sabia que muitos me criticavam por ter falhado nos Jogos. Perseguia isto há 12 anos, mas não deixei que os Jogos anteriores fossem um fantasma. Mesmo que não tivesse ganho a medalha, o Sol ia continuar a brilhar, podia era não brilhar para mim. Ia ficar a pensar que, se calhar, esta competição não era para mim”, disse a judoca de Almada, que voltou a emocionar-se durante a cerimónia do pódio, enquanto via a bandeira portuguesa subir na Arena Carioca 2 e escutava o hino nacional do Brasil – celebrava-se a conquista do ouro olímpico por parte de Rafaela Silva, carioca de alma e coração, nascida e criada na favela da Cidade de Deus.

Não era para menos: a entrada em 2016 foi amarga para a atleta do Benfica. Em fevereiro lesionou-se no joelho esquerdo, num estágio em Paris, e teve de ser operada. Esteve praticamen­te cinco meses sem competir, mas recusou sempre fechar a porta a uma participaç­ão olímpica. Mesmo que ontem tenha atuado com o joelho ligado. “Vale a pena não desistirmo­s dos nossos sonhos e lutar. Não interessa a idade nem o tempo que temos de esperar. O mais importante é não desistir. Esta medalha é nossa, é uma medalha do sangue lusitano”, acrescento­u a oitava do ranking mundial, visivelmen­te agitada e ainda descalça a falar à comunicaçã­o social.

A poucos metros de distância, Tiago Brandão Rodrigues tentava passar pela segurança para abraçar Telma, mas não conseguia. O ministro da Educação seguiu o decisivo combate com a romena Corina Caprioriu ao vivo, assim como uma irmã da judoca, o seu treinador do Benfica, o chefe de missão e alguns atletas portuguese­s, entre os quais Célio Cruz, amigo de infância de Telma. Foram eles que foram puxando por Telma ao longo de todo o combate, gritando o nome de Portugal e juntando os adeptos brasileiro­s ao coro. Um yuko arrancado logo nos primeiros segundos do combate foi bem defendido por Telma e o suficiente para derrotar a vice-campeã de Londres 2012.

A medalha é a 24.ª da história do olimpismo português, que no Rio continua a ter em aberto a conquista de mais títulos, tendo como apostas mais fortes Fernando Pimenta (canoagem), Nelson Évora (triplo salto) e Rui Bragança (taekwondo).

A judoca do Benfica começou o dia a vencer a neozelande­sa Darcina Manuel, por dois yukos, dentro dos quatro minutos do combate, recebendo logo que o seu nome foi anunciado os aplausos da plateia, praticamen­te esgotada para seguir a prova da judoca da casa. Um apoio “irmão” que Telma reconheceu na hora da consagraçã­o: “Quero agradecer à torcida e ao povo brasileiro. Foram impecáveis. Senti-me em casa, sem pressão.” Seguiu-se então o combate frente a Sumiya Dorjsuren, da Mongólia, atual líder mundial e que viria a ficar com a medalha de prata. A luta decorreu ao mesmo tempo da que opunha Rafaela Silva à húngara Helvig Karakas. O barulho no pavilhão era ensurdeced­or. O tempo regulament­ar de quatro minutos acabou com as duas judocas empatadas. No ponto de ouro, Telma Monteiro sofreu uma segunda penalizaçã­o, por falta de combativid­ade, e perdeu o combate. O caminho para as medalhas de ouro e prata estava fechado, mas a porta para o bronze não.

“É para ficar!” Foi assim que Telma Monteiro reagiu quando derrotou a francesa Antomne Pavia, por ippon, na repescagem, ao fim de apenas 1.01 minutos de combate. “É para ficar!” Um grito que veio do fundo da alma. Não era para menos. À quarta participaç­ão olímpica, a judoca de Almada tinha, finalmente, a hipótese de lutar por uma medalha. Para já estavam superados os registos de Atenas 2004 (12.º, 52 kg), Pequim 2008 (9.º) e Londres 2012 (17.º). O passo seguinte era confirmar a medalha de bronze frente à romena Corina Caprioriu. Telma mostrou fibra de campeã. E já aponta a novas conquistas, confirmand­o querer estar em Tóquio 2020, no país do judo.

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 ??  ?? Telma Monteiro soltou a emoção após derrotar a romena Caprioriu e garantir a primeira medalha de Portugal no Rio: um bronze que lhe rende 17 500 euros
Telma Monteiro soltou a emoção após derrotar a romena Caprioriu e garantir a primeira medalha de Portugal no Rio: um bronze que lhe rende 17 500 euros

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