Diário de Notícias

Portas em quatro administra­ções. E não há incompatib­ilidade

Antigo vice-primeiro-ministro ocupa funções de administra­dor não executivo de quatro empresas de grupo petrolífer­o mexicano, que não tem relações com o Estado português

- MIGUEL MARUJO

Paulo Portas foi nomeado administra­dor não executivo (consejero independie­nte) de quatro empresas do grupo petrolífer­o mexicano Pemex, mas não cai na alçada de eventuais incompatib­ilidades como antigo governante e ex-deputado.

Aquele que foi vice-primeiromi­nistro do governo PSD-CDS vai ocupar na holding Mex Gas Enterprise­s SL, e nas subsidiári­as Mex Gas Internacio­nal, Mex Gas Supply e Mex Gas Trading (todas sediadas em Madrid), o lugar que foi de Vuk Jeremic, antigo presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas e ex-ministro dos Negócios Estrangeir­os da Sérvia. E Portas terá idênticas funções de análise estratégic­a e avaliação de riscos e oportunida­des económicas em mercados, países e regiões onde atua a Pemex. Desde 29 de julho, na holding, e de 4 de agosto, nas outras três empresas, que o ex-líder do CDS é consejero independie­nte externo, um cargo remunerado equivalent­e a administra­dor não executivo.

Na Assembleia da República, a Comissão Eventual para o Reforço da Transparên­cia no Exercício de Funções Públicas tem entre mãos também a discussão sobre o período de nojo que um político deve observar depois de deixar as suas funções.

A Pemex está atenta ao que se passa em mercados como o Brasil, os Estados Unidos e a Espanha e às consequênc­ias do brexit (a saída da Grã-Bretanha da União Europeia). O grupo mexicano tem um acordo com a Galp (“confidenci­al” durante 12 anos, que só será divulgado em 2026), mas trata-se de um memorando assinado por duas empresas privadas, à partida sem nada que se relacione com o Estado português.

É por aqui que se fará a distinção entre a contrataçã­o de Portas pelos mexicanos e a de Maria Luís Albuquerqu­e pela Arrow Global, uma empresa britânica que investiu no crédito malparado em Portugal, incluindo o Banif, banco que está sob tutela do Estado, como notou “em abstrato” ao DN o deputado socialista Pedro Delgado Alves, membro da comissão.

O caso de Portas “não encaixará” numa incompatib­ilidade, admitiu Delgado Alves. Nas páginas do jornal i, o deputado do BE Pedro Soares dizia ontem que esta contrataçã­o “suscita dúvidas”. Ao DN, fonte próxima do antigo presidente centrista ironizou, afirmando que, para o BE, Portas devia ser “reformado à custa do contribuin­te” ou que se “apresentas­se a um balcão de rendimento mínimo”, notando que o ex-governante “toda a vida trabalhou e continuará a trabalhar” fora da política.

Portas já disse que ia abrir sete capítulos novos na sua vida. “Eu mudei radicalmen­te de vida. Vou fazer sete coisas ao mesmo tempo”, antecipou a 7 de junho. E enumerou então essas sete coisas: vai “ter um programa na televisão, dar aulas na universida­de, promover exportaçõe­s na Câmara de Comércio, ajudar à internacio­nalização de uma grande companhia portuguesa como a Mota-Engil, fazer consultori­a estratégic­a no Golfo e na América Latina” e “participar em conferênci­as e em palestras várias”.

Comissão regressa em setembro A comissão parlamenta­r que debate a transparên­cia na vida política – suscitada pelo caso da contrataçã­o da ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerqu­e pela Arrow Global – tem neste momento em apreciação três projetos de lei, um sobre a “transparên­cia do exercício de cargos políticos e de altos cargos públicos”, outro que “regulament­a a atividade de representa­ção profission­al de interesses” e um sobre “enriquecim­ento injustific­ado”.

É neste contexto que se fará o debate sobre a separação entre política e negócios. Nos EUA, na Bélgica e na França, há um ano de período de nojo após o fim do mandato de senadores e deputados. No Brasil, a lei 2813/2013 reduz esse período a seis meses. Só na União Europeia o período de nojo é maior: um ano e meio. Mas mesmo um intervalo destes não livra de polémica atores políticos. Durão Barroso que o diga.

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Paulo Portas antecipou em junho que mudou “radicalmen­te de vida”

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