Ex-ministros, sindicatos e Ordem juntos: é preciso valorizar os médicos
Constantino Sakellarides disse ao DN que há “sangria” no SNS. Oposição rebate a ideia e o PCP escusou-se a comentar
De Arnaut a Leal da Costa, da Ordem aos sindicatos, especialistas apontam como problemas a falta de meios e de financiamento para fixar profissionais . PSD e CDS também concordam com Sakellarides e pedem ao governo “eficiência” para travar sangria no SNS.
Há um acordo de partida em relação aos princípios gerais das palavras de Constantino Sakellarides sobre a atual situação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) deixadas ontem em entrevista nas páginas do DN. Pelo menos para o PSD e CDS, cujos representantes o DN ouviu – o PCP escusou-se a comentar e não foi possível chegar à fala com responsáveis do PS e do BE.
O professor catedrático jubilado de políticas de saúde defendeu que o SNS tem vivido “uma sangria”, sem que as pessoas que nele trabalham tenham “qualquer palavra de apreço” e que se continua “a não cuidar da qualidade das lideranças”.
Miguel Santos, vice-presidente da bancada do PSD e membro da Comissão de Saúde, admitiu ao DN que é possível “concordar na maior parte com os princípios gerais” definidos por Sakellarides. Também João Varandas Fernandes, um dos destacados membros do gabinete de estudos do CDS para a área da Saúde, explicou que esta entrevista “é uma peça importante que merece ser lida e refletida”. No entanto, os dois apontam falhas à atual política de saúde do governo do PS.
Mais médicos, menos enfermeiros O social-democrata rebateu a “perceção” criada de que “nos últimos quatro anos” tenha existido uma diminuição no número de pessoal. “Nos balanços sociais do Ministério da Saúde verifica-se que o número final de médicos e enfermeiros aumentou. É claramente positivo”, defendeu. Os números não dão toda a razão a Miguel Santos: os médicos subiram de 2012 (eram 24 490 – embora o Pordata identifique 25 224 clínicos) para 2013 (24 988) e de novo em 2014 (para os 25 238). Nos enfermeiros já não bate certo a afirmação do deputado: em 2012 eram 39 526, em 2013 foram contados 38 663 e em 2014 já estavam abaixo dos 38 mil (37 928).
Números à parte, Miguel Santos reiterou críticas do seu partido à atual política de saúde, com elogios à ação governativa do executivo anterior PSD-CDS. Nesses quatro anos, defendeu, “nunca houve desinvestimento na saúde, os orçamentos foram sempre maiores do que nos anos anteriores. Houve sim ganhos de eficiência e otimização de recursos”. Agora, contrapõe, “está-se a perder eficiência no sistema”. “O governo está a caminhar a grandes passos para perder essa eficiência.”
Pelo CDS, JoãoVarandas Fernandes sublinhou o “trabalho difícil que o anterior governo fez”, para apontar o que se esperava que entretanto já teria sido feito pelo atual. “Esperávamos uma reforma do SNS” “que incentivasse os profissionais” e que desse “respostas mais rápidas às populações”.
Apesar de admitir “a dificuldade e a complexidade da gestão na saúde”, este médico cirurgião com experiência em gestão hospitalar apontou a “estratégia incorreta” que tem sido seguida, “provocando descontentamento nos profissionais”. Miguel Santos também notou que o setor está “cada vez mais renitente” em relação ao ministro Adalberto Campos Fernandes.
“O SNS para ser mantido – e deve ser mantido – tem de se regenerar e reorganizar e isso ainda não foi feito”, afirmou Varandas Fernandes. Para o CDS, completou, “tem havido uma gestão incompetente em algumas áreas, que é motivo de politização do SNS”. Quando alguém é incompetente, “tem de se ir embora”, disse. Para logo depois indicar, na linha do que Constantino Sakellarides defendeu na entrevista, que devem ser nomeadas “as melhores pessoas para os melhores lugares”.
Segundo João Varandas Fernandes, a “responsabilização” passa “por incentivos ao mérito no trabalho desenvolvido nas organizações”, por “restituir aos profissionais a respeitabilidade que merecem”. As prioridades que o CDS estabelece fixam-se “na prevenção e nos cuidados primários de saúde”, nos “cuidados hospitalares, que precisam de reorganização”, e nos “cuidados continuados e paliativos, que não podem ser só para alguns e têm de ser para todos”.
Outra preocupação sublinhada pelo centrista relaciona-se com “um crescimento da dívida dos hospitais EPE” (entidades públicas empresariais). “O ritmo de crescimento de dívidas dos hospitais EPE ultrapassa os 25 milhões de euros por mês”, apontou.