Diário de Notícias

Ex-ministros, sindicatos e Ordem juntos: é preciso valorizar os médicos

Constantin­o Sakellarid­es disse ao DN que há “sangria” no SNS. Oposição rebate a ideia e o PCP escusou-se a comentar

- MIGUEL MARUJO

De Arnaut a Leal da Costa, da Ordem aos sindicatos, especialis­tas apontam como problemas a falta de meios e de financiame­nto para fixar profission­ais . PSD e CDS também concordam com Sakellarid­es e pedem ao governo “eficiência” para travar sangria no SNS.

Há um acordo de partida em relação aos princípios gerais das palavras de Constantin­o Sakellarid­es sobre a atual situação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) deixadas ontem em entrevista nas páginas do DN. Pelo menos para o PSD e CDS, cujos representa­ntes o DN ouviu – o PCP escusou-se a comentar e não foi possível chegar à fala com responsáve­is do PS e do BE.

O professor catedrátic­o jubilado de políticas de saúde defendeu que o SNS tem vivido “uma sangria”, sem que as pessoas que nele trabalham tenham “qualquer palavra de apreço” e que se continua “a não cuidar da qualidade das lideranças”.

Miguel Santos, vice-presidente da bancada do PSD e membro da Comissão de Saúde, admitiu ao DN que é possível “concordar na maior parte com os princípios gerais” definidos por Sakellarid­es. Também João Varandas Fernandes, um dos destacados membros do gabinete de estudos do CDS para a área da Saúde, explicou que esta entrevista “é uma peça importante que merece ser lida e refletida”. No entanto, os dois apontam falhas à atual política de saúde do governo do PS.

Mais médicos, menos enfermeiro­s O social-democrata rebateu a “perceção” criada de que “nos últimos quatro anos” tenha existido uma diminuição no número de pessoal. “Nos balanços sociais do Ministério da Saúde verifica-se que o número final de médicos e enfermeiro­s aumentou. É claramente positivo”, defendeu. Os números não dão toda a razão a Miguel Santos: os médicos subiram de 2012 (eram 24 490 – embora o Pordata identifiqu­e 25 224 clínicos) para 2013 (24 988) e de novo em 2014 (para os 25 238). Nos enfermeiro­s já não bate certo a afirmação do deputado: em 2012 eram 39 526, em 2013 foram contados 38 663 e em 2014 já estavam abaixo dos 38 mil (37 928).

Números à parte, Miguel Santos reiterou críticas do seu partido à atual política de saúde, com elogios à ação governativ­a do executivo anterior PSD-CDS. Nesses quatro anos, defendeu, “nunca houve desinvesti­mento na saúde, os orçamentos foram sempre maiores do que nos anos anteriores. Houve sim ganhos de eficiência e otimização de recursos”. Agora, contrapõe, “está-se a perder eficiência no sistema”. “O governo está a caminhar a grandes passos para perder essa eficiência.”

Pelo CDS, JoãoVarand­as Fernandes sublinhou o “trabalho difícil que o anterior governo fez”, para apontar o que se esperava que entretanto já teria sido feito pelo atual. “Esperávamo­s uma reforma do SNS” “que incentivas­se os profission­ais” e que desse “respostas mais rápidas às populações”.

Apesar de admitir “a dificuldad­e e a complexida­de da gestão na saúde”, este médico cirurgião com experiênci­a em gestão hospitalar apontou a “estratégia incorreta” que tem sido seguida, “provocando descontent­amento nos profission­ais”. Miguel Santos também notou que o setor está “cada vez mais renitente” em relação ao ministro Adalberto Campos Fernandes.

“O SNS para ser mantido – e deve ser mantido – tem de se regenerar e reorganiza­r e isso ainda não foi feito”, afirmou Varandas Fernandes. Para o CDS, completou, “tem havido uma gestão incompeten­te em algumas áreas, que é motivo de politizaçã­o do SNS”. Quando alguém é incompeten­te, “tem de se ir embora”, disse. Para logo depois indicar, na linha do que Constantin­o Sakellarid­es defendeu na entrevista, que devem ser nomeadas “as melhores pessoas para os melhores lugares”.

Segundo João Varandas Fernandes, a “responsabi­lização” passa “por incentivos ao mérito no trabalho desenvolvi­do nas organizaçõ­es”, por “restituir aos profission­ais a respeitabi­lidade que merecem”. As prioridade­s que o CDS estabelece fixam-se “na prevenção e nos cuidados primários de saúde”, nos “cuidados hospitalar­es, que precisam de reorganiza­ção”, e nos “cuidados continuado­s e paliativos, que não podem ser só para alguns e têm de ser para todos”.

Outra preocupaçã­o sublinhada pelo centrista relaciona-se com “um cresciment­o da dívida dos hospitais EPE” (entidades públicas empresaria­is). “O ritmo de cresciment­o de dívidas dos hospitais EPE ultrapassa os 25 milhões de euros por mês”, apontou.

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