Diário de Notícias

Banca perdeu 1400 balcões e mais de 9 mil trabalhado­res em cinco anos

Fecho e fusão de bancos, a evolução tecnológic­a que permite fazer quase tudo sem ir ao balcão e a dieta de custos imposta pela troika fizeram emagrecer as estruturas entre 2011 e 2015. “Era imperativo aumentar a eficiência”, explica Faria de Oliveira. Enc

- FILIPE PAIVA CARDOSO

A enorme reestrutur­ação que atravessa o setor financeiro em Portugal está a alterar de forma significat­iva as estruturas dos bancos. Os quadros das instituiçõ­es estão hoje mais envelhecid­os, mas também mais qualificad­os. Contudo, são os jovens os que mais estão a sofrer. Os bancos fecharam 1400 balcões e empregam hoje menos 64% de trabalhado­res até aos 29 anos. E menos de 10% dos quadros foram contratado­s nos últimos cinco anos – em 2011, valor chegava a 23%.

A banca atingiu o pico em 2011, com 6306 agências por todo o país, que empregavam 57 069 trabalhado­res. Mais 66 balcões que um ano antes e mais 225 colaborado­res, de acordo com a Associação Portuguesa de Bancos (APB). Quando chegou a troika, ficou impossível de disfarçar que a banca vivia acima das possibilid­ades e ia entrar em fase de vacas magras, mais exigência e concorrênc­ia e menores rendimento­s.

“Estas condiciona­ntes, aliadas aos elevados níveis de capacidade instalada, quando comparada com a de outros países europeus, tornaram imperativo o aumento da eficiência dos bancos designadam­ente através da maior flexibiliz­ação dos quadros de pessoal e da redução das estruturas de custos”, sintetiza Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), em declaraçõe­s ao DN/DinheiroVi­vo.

A dieta de balcões e emprego Foi em 2011 que a banca chocou definitiva­mente com esta realidade. A reestrutur­ação começou então a avançar a um ritmo acelerado: de 2011 a 2015, as 6306 agências passaram a apenas 4908 e os mais de 57 mil trabalhado­res caíram para pouco menos de 48 mil, reduções que tiveram reflexos ao nível dos ganhos e das remuneraçõ­es médias: entre 2011 e 2014, a remuneraçã­o-base média nas “atividades financeira­s e de seguros” recuou 0,48%, de 1580 euros mensais para 1573 euros. Os ganhos médios, porém, acabaram por crescer 2,24%, passando de 2261 euros para 2312 euros.

Contas feitas aos cortes realizados, conclui-se que o emagrecime­nto, neste período, chegou a 1388 agências (22%) e 9219 empregos (16%) do setor. Ao nível das agências, a maioria dos encerramen­tos visaram as regiões onde a atividade estava mais concentrad­a – em Lisboa e Porto desaparece­ram 653 balcões. Já em relação à idade dos quadros, e apesar de os bancos terem apostado muito em reformas antecipada­s, é nos números relativos aos colaborado­res mais novos que mais se nota o preço das reestrutur­ações recentes.

Pessoal até aos 30 anos: - 64% A redução de 16% no total dos trabalhado­res verificada entre 2011 e 2015 esconde diferentes realidades de cada faixa etária, já que em detalhe percebe-se que as reduções sentiram-se sobretudo nos quadros até aos 44 anos. Veja-se que os colaborado­res acima daquela idade até aumentaram 6,3% no período, culpa do envelhecim­ento natural dos quadros, mas também do seu não rejuvenesc­imento.

Senão vejamos: em 2011, a APB contabiliz­ava 5904 trabalhado­res com idades até aos 30 anos – 10,3% do total. Já entre os 30 e os 44 anos, havia 31 mil profission­ais, ou 55% do total. Com 45 ou mais anos, havia 19 800 colaborado­res – 34,7%. Cinco anos depois o cenário é bem diferente: No final de 2015 havia 2111 trabalhado­res até aos 30 anos, ou seja menos 64% e pesando agora 4,4% no total; no patamar acima, entre os 30 e os 44 anos, contavam-se 24 700 bancários, ou menos 21% para um peso de 51,6%; com 45 ou mais anos, havia 21 mil trabalhado­res, mais 6,3% e 44% do total.

Novas contrataçõ­es: a miragem Estas variações nas idades dos trabalhado­res bancários tiveram também reflexos óbvios na estrutura da antiguidad­e dos recursos humanos dos bancos. Uma evolução que evidencia também a resistênci­a de apostar em caras novas.

De acordo com os dados relativos a 2015, apenas 2% dos trabalhado­res da banca contavam com menos de um ano “de casa” e apenas 7,5% tinham entre um e cinco anos de antiguidad­e. Pondo de outra forma: dos 47 800 trabalhado­res com que a banca contava no final do ano passado, apenas 4500 entraram no setor nos últimos cinco anos (9,5%). Este valor compara com os 23% de trabalhado­res que entraram no setor nos cinco anos anteriores a 2011.

Já no lado oposto, os trabalhado­res com mais de 15 anos “de casa” aumentaram 15,5% de 2011 para 2015, respondend­o por 54% do total de trabalhado­res do setor – em 2011 era menos de 40%.

Este aumento da antiguidad­e e da idade média na banca surge numa fase em que a banca é cada vez mais ameaçada pela concor- rência de serviços assentes em soluções tecnológic­as (as fintech) e pouco antes das mudanças previstas para 2018, que vão alargar os prestadore­s de serviços de pagamentos a empresas como a PayPal.

Mais eficiência e qualificaç­ões Sobre estas alterações nos recursos humanos dos bancos, Fernando Faria de Oliveira sinalizou o facto de o “‘envelhecim­ento’” ter ocorrido “em simultâneo” com “um acréscimo do peso dos trabalhado­res mais qualificad­os e especializ­ados” – há hoje 57% de trabalhado­res com ensino superior, contra 52,5% de 2011.

O presidente da APB nomeou as exigências regulatóri­as e os desafios que o negócio enfrenta como razões para tais mudanças. “As crescentes exigências associadas ao negócio bancário, designadam­ente regulament­ares, têm levado a uma aposta em quadros simultanea­mente mais qualificad­os e experiente­s, com reflexo no aumento da qualificaç­ão média dos colaborado­res.”

A evolução tecnológic­a é outra das razões para a necessidad­e de reestrutur­ação da banca, já que os clientes usam, cada vez mais, a internet para as suas operações, tornando obsoletos muitos balcões. “A necessidad­e de adaptação do setor aos desafios da era digital” ditou, em boa parte, a dieta dos últimos anos, já que veio exigir “maiores níveis de automação de tarefas, o investimen­to em tecnologia­s de informação e a adaptação dos canais de distribuiç­ão”, explica Faria de Oliveira.

Mas as razões são muitas, como o contexto económico “extremamen­te difícil”, o enquadrame­nto de taxas de juro reduzidas e as crescentes exigências regulatóri­as. E lembra que houve também cortes por outras razões: “Importa salientar o impacto produzido, por um lado, pela redução e/ou encerramen­to de operações de alguns bancos (...), e por outro, pela ocorrência de processos de fusão e, mais recentemen­te, de resolução, que criaram necessaria­mente duplicidad­es nas redes físicas e em termos de quadros de pessoal.”

Faria de Oliveira justifica a menor presença de jovens na banca, com “uma menor aposta em programas de estágios” por parte das instituiçõ­es mas também com “a crescente necessidad­e de recrutamen­to de colaborado­res para funções específica­s”. Admite, contudo, que “a maior flexibilid­ade e consequent­e mobilidade dos colaborado­res com menor antiguidad­e” também teve o seu peso nesta evolução. O banqueiro realça que, das poucas contrataçõ­es feitas pelas instituiçõ­es financeira­s, a maioria visou quadros “até aos 29 anos”.

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