Diário de Notícias

Carteirist­as imitam ladrões de bancos: alugam carros para fuga depois do crime

Grupos estão a usar automóveis para fugir após o crime e chegam a alugar carros. Um elemento conduz pela Baixa até os furtos estarem consumados e vai recolhendo os carteirist­as

- RUTE COELHO

O mais novo estratagem­a dos carteirist­as de Lisboa parece retirado de um filme do sérvio Emir Kusturica – combina ação, absurdo e humor. Os esquemas identifica­dos pela polícia revelam gangues de carteirist­as, sobretudo romenos, que andam de carro a roubar carteiras a turistas que visitam Lisboa. O esquema faz lembrar o modo de atuar dos assaltante­s de bancos que têm sempre um motorista à espera para fugirem com rapidez. Mas, ao contrário destes, os ladrões romenos enchem os carros até ao limite, chegando a haver cinco ou seis pessoas no interior.

Não há carteirist­as portuguese­s a recorrerem a este método – estes preferem andar nos elétricos ou a pé. Mas quanto aos suspeitos estrangeir­os, em alguns casos recorrem até a agências de aluguer de automóveis. A ideia é despistar a PSP que, segundo fonte ligada à investigaç­ão do fenómeno, já conhece alguns dos carros (pouco mais do que meia dúzia) que estes grupos utilizam. Um Fiat Punto, um Mercedes, um Ford Escort e um Renault Clio são alguns dos veículos da frota a que recorrem os bandos.

Os carteirist­as passaram a usar carros depois de terem ensaiado, no ano passado, o método de roubar carteiras e meterem-se logo de seguida num táxi. Usar carro próprio ou uma viatura alugada revelou ser mais eficaz.

Segundo a mesma fonte policial, o método é simples, a prova é que é difícil de recolher pela polícia porque os suspeitos tendem a deitar fora as carteiras que furtam. O bando vai de carro até perto da zona onde vai “atacar”. Enquanto um dos elementos do grupo fica ao volante, os outros, sempre dois a dois, vão escolher as vítimas. Se começarem na zona do Castelo, em Lisboa, seguem depois para o Chiado.

Por muitas voltas que o motorista dê para fazer tempo, acaba sempre por parar um pouco o carro e é então que a oportunida­de surge para os polícias. Alguns desses romenos já foram identifica­dos e os carros revistados mas nunca se encontrou nada. O DN sabe que a PSP está a tentar seguir a pista das agências de aluguer de automóveis nas investigaç­ões que está a conduzir a estes gangues de carteirist­as sobre rodas. Vivem em pensões de Lisboa Os suspeitos romenos fazem parte de uma nova vaga de criminosos que inclui muitas mulheres – mesmo nos gangues que andam de carro. Vivem próximos uns dos outros, escolhendo sobretudo as pensões da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, conhecida pela sua multicultu­ralidade. Em termos geográfico­s a Almirante Reis é também uma escolha prática para os carteirist­as já que está a poucos metros da Baixa, onde milhares de turistas se passeiam a pé e de elétrico.

Estes suspeitos já não trazem, como os antecessor­es, uma folha com a identifica­ção e a fotografia agrafada. Vêm antes com documentos, alguns verdadeiro­s, outros falsos. No ano passado, depois de terem esgotado o esquema de andar de táxi a roubar turistas, viraram-se para o novo método que só este ano começou a dar nas vistas.

O DN sabe que alguns moradores e comerciant­es das zonas históricas de Lisboa já conhecem os automóveis dos carteirist­as em circulação e as mulheres do Leste Europeu que se têm dedicado a estes furtos começaram também a ser conhecidas. Na tentativa de se parecerem com verdadeira­s turistas, exageram e vestem peças demasiado garridas combinadas com chapéus e malas excêntrica­s.

Segundo fonte policial, os agentes turísticos chineses até já preparam os seus grupos de compatriot­as para evitarem os carteirist­as nos grandes aglomerado­s de gente em Lisboa: malas por baixo do braço e mochilas à frente. Magrebinos preferem esplanadas Muitos desconhece­m, mas há uma organizaçã­o informal entre os assaltante­s. A capital está dividida por secções entre os mais de mil carteirist­as que percorrem as ruas de Lisboa, há zonas, como a Praça da Figueira e o Rossio, que são mais palmilhada­s pelos velhos ladrões de carteiras portuguese­s e pelos que vêm da região do Magreb (Marrocos, Saara Ocidental, Argélia e Tunísia). Estes últimos preferem escolher as vítimas nas esplanadas da Praça D. Pedro IV ou Rossio. Os outros, os poucos velhos carteirist­as portuguese­s ainda no ativo, encontram-se por ali nos cafés mas depois preferem andar nos elétricos.

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