Mudar ministros? Remodelação não está nos planos de António Costa
Gestão do caso CGD transformou Mário Centeno em ministro remodelável. Mas a aproximação do OE 2017 protege-o
Diz quem conhece António Costa que o primeiro-ministro recusará o máximo que lhe for possível “remodelações a pedido” – mesmo que até reconheça que os múltiplos casos de agosto revelaram muitos acertos a fazer no modo de funcionamento do governo.
Foi Marques Mendes quem, anteontem, no seu habitualmente comentário político noticioso na SIC, aventou a hipótese de uma remodelação governamental que António Costa poderia levar a cabo após a aprovação do Orçamento do Estado para 2017 (o que, se tudo correr normalmente, acontecerá no final de novembro).
Uma remodelação que, segundo disse, poderia envolver três ministros – Mário Centeno (Finanças), Economia (Manuel Caldeira Cabral) e Tiago Brandão Rodrigues (Educação) – e que também implicaria, no entender do antigo líder do PSD, a criação de um verdadeiro número dois num executivo que atualmente funciona em modo “Costa + 17 [ministros]”.
Segundo fontes do PS contactadas pelo DN, do lote dos três ministros referidos por Marques Mendes há pelo menos um em relação ao qual a ideia de remodelação “não tem o menor sentido”. E essa pessoa é Tiago Brandão Rodrigues, o titular da Educação, uma aposta direta e empenhada do próprio António Costa, que o convenceu pessoalmente a deixar uma carreira de investigador em Cambridge.
Tiago Brandão Rodrigues desgastou-se com a guerra com alguns colégios privados por causa dos contratos de associação – mas nesse combate tinha não só o apoio expresso do primeiro-ministro como do BE e do PCP, os partidos que dão suporte parlamentar ao governo minoritário do PS.
Quanto a Manuel Caldeira Cabral, o caso é mais delicado. Este professor de Economia na Universidade do Minho chegou na verdade aos debates programáticos internos no PS muito antes das últimas eleições legislativas. E não foi pela mão de António Costa, antes pela do seu antecessor na liderança do partido, António José Seguro. No último congresso do PS, em junho passado, Costa, na tribuna, classificou-o como um ministro “tímido” na afirmação da sua ação política – o que soou a raspanete em público. O ministro respondeu que só “tímido”na “propaganda” e não na ação. Mas saiu do episódio fragilizado. As palavras do primeiro-ministro sobre o seu ministro da Economia municiaram a oposição.
Caso hiperdelicado é mesmo o do ministro das Finanças – outra aposta pessoal de António Costa, que antes das eleições o colocou a coordenar a preparação do programa económico do partido.
Para Mário Centeno, agosto tem sido um desastre. A nomeação de uma nova administração para a CGD arrastou-se durante semanas devido a resistências várias do Banco Central Europeu. Há dias o ministro emitiu um comunicado di- zendo que tinha luz verde mas depois percebeu-se que afinal o BCE tinha vetado oito dos 19 nomes propostos – tendo em relação a três dos novos administradores executivos aceites (Pedro Leitão, Paulo Silva e João Tudela) recomendado a frequência de um curso de Gestão Bancária no INSEAD, uma escola económica sediada em França e especialista em pós-graduações.
Félix Mourinho, secretário de Estado das Finanças, veio entretanto dizer que o governo poderia mudar a lei de forma a tornar possível a nomeação dos gestores vetados pelo BCE, mas o PCP e o BE fizeram imediatamente saber que não estavam disponíveis para deixar passar (porque isso permitiria aos nomeados acumular as novas funções na CGD com outras que desempenham agora). O caso terá também irritado o Presidente da República, até porque uma das pessoas vetadas é Leonor Beleza, muito próxima de Marcelo Rebelo de Sousa. Ontem, segundo o Expresso, já se admitia um caminho alternativo: formar um conselho consultivo na CGD que encaixasse os vetados. Leonor Beleza, pelo seu lado, mandou dizer que não quer ver mais o seu nome relacionado com este imbróglio.
Este caso e outros – mudanças no IMI, o caso Rocha Andrade/Galp e a assunção de que o Novo Banco poderá ser liquidado no verão de 2017 – deixaram Centeno muito fragilizado. Mas a dois meses e meio da data de entrega da proposta do OE para o próximo ano não há nada mais desaconselhável do que fazer mudanças nas Finanças. E, seja como for, remodelações não se anunciam – fazem-se.