E agora Espanha?
Nada como devolver a voz ao povo para resolver os impasses políticos. É essa a regra que a democracia impõe e por isso, de Portugal ao Reino Unido, de Itália à Grécia, passando por França ou Bélgica, a história europeia das últimas décadas está recheada de casos de eleições antecipadas ou repetidas. Costumam resultar numa solução de governo, embora nem sempre para quatro anos, a duração mais habitual de uma legislatura.
Mas em Espanha está a perpetuar-se o impasse mesmo depois das novas eleições realizadas a 26 de junho. Em vez de resolver a situação herdada das legislativas de 20 de dezembro de 2015, a última ida às urnas manteve-a: vitória insuficiente do PP, segundo lugar do PSOE com o pior resultado de sempre em deputados, Podemos em terceiro, Ciudadanos quarto. Mariano Rajoy, no poder desde 2011, quer continuar primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez recusa permiti-lo e assim nem há grande coligação nem nada que se pareça. Irresponsabilidade total, já escreveu o El País em editorial. Que resistem a negociar porque são egoístas é a opinião de muitos espanhóis sobre os atuais líderes partidários. E o jornal El Mundo noticiava ontem que uma maioria de votantes socialistas preferia ver Rajoy de novo primeiro-ministro do que ir às urnas uma terceira vez em um ano.
Assim, sem uma solução de governo, o país até pode ir funcionando e a economia continuar a crescer, mas a democracia desacredita-se e os problemas estruturais não se resolvem. Por exemplo, a dívida pública espanhola ultrapassou os 100% e está no valor absoluto mais alto num século. Passa-se aqui ao lado e pode dar-nos ensinamentos sobre política e políticos, mas sobretudo a economia portuguesa está tão interligada com a espanhola que se algo correr mal lá o efeito será sempre muito sentido deste lado da fronteira.