Filhos do embaixador agiram “em legítima defesa”, diz Iraque
Os irmãos iraquianos falaram à SIC e garantem que não vão fugir. Embaixada do Iraque alega que os dois foram agredidos por seis jovens por serem árabes e muçulmanos
RUTE COELHO e PATRÍCIA JESUS O governo iraquiano veio ontem garantir que a agressão cometida pelos dois filhos do embaixador aconteceu em “legítima defesa” e que pretende colaborar para esclarecer o caso. Os dois menores, de 17 anos, também falaram à SIC, numa entrevista que será hoje exibida. Garantem que foram agredidos por seis jovens e negam ter atropelado Rúben Cavaco. Admitem as agressões ao português, mas como reação e dizem estar dispostos a colaborar com a justiça.
“Até que a situação se resolva não vamos a lado nenhum”, disse um dos irmãos à estação de televisão, criticando o empolamento que o caso está a ter. Alegam que após as agressões no bar, regressaram para recolher pertences e então reencontraram Rúben. Asseguram que não atropelaram o português, mas confessam a agressão.
Também na SIC, o ministro Ausgusto Santos Silva admitiu que Portugal pode pedir o levantamento da imunidade. “Se o apuramento dos factos levar a que seja necessário pedir ao Iraque que renuncie à imunidade diplomática dos filhos do embaixador, o Ministério dos Negócios Estrangeiros fará isso”, disse Augusto Santos Silva, que classifica o caso como gravíssimo.
Já o ex-embaixador do Iraque em Portugal, Hussain Sinjari, expressou a “a maior raiva, choque e tristeza por esta violência bárbara” e diz-se “horrorizado” e “envergonhado” pelo caso. Sinjari enviou um e-mail a amigos e colaboradores portugueses e iraquianos, com uma mensagem a que a Rádio Renascença teve acesso
Embaixador do Iraque Saad Ali acredita que filhos agiram em legítima defesa e que o diplomata pediu para ser partilhada.
A Embaixada do Iraque em Portugal divulgou uma versão dos factos que vem justificar o comportamento dos filhos do embaixador Saad Mohammed M. Ali , que deixaram Rúben Cavaco, de 15 anos, entre a vida e a morte. Segundo o comunicado, os filhos de Saad Ali foram agredidos, vítimas de um ataque racista e agiram em legítima defesa, na quarta-feira passada, em Ponte de Sor. Em sintonia com a entrevista que os jovens deram à SIC, cujo excerto foi ontem divulgado.
O comunicado, publicado ontem na página da embaixada, em árabe, diz que pretende “esclarecer” o que se passou na noite de quarta-feira, acontecimentos que acabaram por levar ao internamento de Rúben Cavaco, ainda internado em estado grave no Hospital de Santa Maria.
Na declaração, que data de dia 20, a embaixada diz que os filhos do embaixador foram agredidos por seis pessoas, que os insultaram por serem árabes e muçulmanos, num pequeno restaurante de Ponte de Sor, localidade onde um dos filhos do embaixador frequentava a es- cola de aviação. O comunicado refere ainda que os dois voltaram ao local e que um deles foi atingido e que quando respondeu houve confusão e uma rixa. Ainda segundo o comunicado, os dois jovens foram ao posto da GNR reportar o incidente e testemunhar, além de que a questão foi levantada, por parte do embaixador, junto das autoridades portuguesas. Embaixador recebido no MNE Entretanto, o embaixador do Iraque, Saad Mohamed M. Ali, foi ontem recebido no Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), em Lisboa, pelo embaixador chefe do Protocolo de Estado, António Almeida Lima, que tem neste ministério as competências relativas às imunidades diplomáticas, adiantou o MNE. O DN quis saber se este foi um primeiro passo para concretizar a retirada da imunidade diplomática ao embaixador, uma iniciativa que o ministro Augusto Santos Silva ameaçou poder vir a ter. Mas o MNE não esclareceu o que foi discutido na receção.
O ministério esclareceu ainda o DN de que “não recebeu qualquer pedido por parte das autoridades judiciais relacionado com os acontecimentos que envolveram os filhos do embaixador do Iraque”. A Procuradoria-Geral da República adiantou apenas ao DN que o inquérito decorre e que o processo está em segredo de justiça.