Eleitores do PSOE preferem governo de Rajoy a eleições
Sondagem mostra que a maioria escolhe deixar PP governar. Pedro Sánchez seria o principal culpado de um regresso às urnas
“Não é não”, defende o socialista Pedro Sánchez em relação à investidura do líder do PP
SUSANA SALVADOR Os espanhóis estão dececionados com a situação política (84,6% dizem ser má ou muito má) e são pessimistas em relação ao futuro, sendo mais os que acreditam que será necessário convocar terceiras eleições (45,9%) do que os que creem ser possível um acordo para formar governo (36%). Questionados diretamente pela sondagem Sigma Dos para o El Mundo sobre qual cenário preferiam, a grande maioria (58,8%) prefere deixar o PP governar a voltar a ir à urnas (29,6%). Até os eleitores socialistas são mais favoráveis a abrir a porta a Mariano Rajoy (55%) do que a ter novas eleições (36,2%).
Oito meses depois do primeiro escrutínio, a 20 de dezembro, Espanha continua sem governo. A falta de acordo entre os diferentes partidos obrigou a realizar novas eleições, a 26 de junho, mas as contas não ficaram mais fáceis. O Partido Popular (PP), do primeiro-ministro em funções, foi o único a melhorar a prestação, mas mesmo assim precisa de um acordo com mais do que um partido para Rajoy poder ser investido – negociações com o Ciudadanos, de Albert Rivera, estão avançadas, mas o PSOE, de Pedro Sánchez, mantém que “não é não” e recusa abster-se para o possibilitar.
O debate de investidura no Congresso é dentro de uma semana, a 30 de agosto, com a primeira votação a ser feita no dia seguinte. Caso o líder do PP não consiga a maioria absoluta – 176 deputados – precisará apenas da maioria simples dois dias depois, a 2 de setembro. O PP tem 137 deputados e o Ciudadanos tem 32. Juntos somam 169 votos positivos, com os populares a negociar também com a Coligação Canária (um só deputado) para poder subir esse número para 170. Precisariam assim da abstenção de pelo menos sete deputados do PSOE (que elegeu 85) para garantir a investidura.
Na sondagem Sigma Dos (mil entrevistas, com uma margem de erro de 3,16%), quando questionados se o PSOE devia abster-se para facilitar a investidura de Rajoy, 60,1% dizem que sim e apenas 26,4% que não – só os eleitores do Unidos Podemos é que defendem a segunda opção (53,6%). Dentro do eleitorado socialista, 53,9% defendem facilitar a investidura, com apenas 34,5% a ser contra essa hipótese.
Mais grave para Sánchez é que 33,6% dos eleitores consideram que se não houver governo o principal culpado será o PSOE. Já os que apontam o dedo ao PP são 24,7%, havendo 31,1% de inquiridos que dizem não saber ou não respondem. O eleitorado do PP e do Ciudadanos aponta o dedo ao PSOE, mas entre os socialistas ainda há 16,9% que culpam o próprio partido.
Sánchez usa como argumento para manter a sua negativa, apesar da pressão de Rajoy ou Rivera, a decisão do comité federal do PSOE, tomada ainda em dezembro e reafirmada em julho. Essa decisão impede autorizar que o PP governe com a abstenção ou voto favorável dos socialistas. Os dirigentes regionais do PSOE defendem contudo a convocação de um comité federal para debater essa posição, mas só após falhar a investidura de Rajoy.