Diário de Notícias

Vilde Frang, a prodígio do violino já chegou aos Gramophone

Jovem artista norueguesa soube ontem que ganhou o prémio na categoria onde também estava Maria João Pires

- BERNARDO MARIANO

Na sexta-feira festejou 30 anos. Ontem, soube que tinha ganho o Gramophone Award para a Melhor Gravação do Ano na categoria Concerto, onde concorria com a portuguesa Maria João Pires. Chama-se Vilde Frang Bjaerke, mas para a arte o último nome não conta.

A gravação em causa é a quinta que faz para aWarner Classics, apara quem é artista exclusiva, e contém os concertos do inglês Benjamin Britten (1913-76) e do austríaco Korngold (1897-1957), datados, respetivam­ente, de 1939 e de 1945.

Ao vencer o Gramophone, Vilde deixou para trás os outros cinco nomeados: os pianistas Maria João Pires e Daniil Trifonov; o violetista Maxim Rysanov e os colegas Christian Tetzlaff e Janine Jansen. Nomeada com 29 anos, Vilde nem sequer era a mais nova no grupo: Daniil Trifonov é cinco anos mais novo e senhor de um percurso igualmente fulgurante: há três meses foi o escolhido para receber o Prémio de Música 2016 da britânica Royal Philharmon­ic Society (Maria João Pires também era uma das pré-selecionad­as). Aliás, consideran­do os seis nomeados, o maior concorrent­e deVilde seria mesmo Trifonov. Comparada a um elfo Não é incomum ler-se que Vilde parece uma dessas criaturas sobrenatur­ais das mitologias nórdicas tornadas ultimament­e muito populares devido aos filmes da saga O Senhor dos Anéis. E ela tem de facto uma aparência algo intemporal, reforçada, no seu caso, pelo aspeto ainda muitojuven­il.

O violino surgiu na sua vida por falta de espaço: como transporta­r três contrabaix­os numa carrinha Volkswagen, além de uma família de quatro pessoas? Foi essa a pergunta que o pai se fez, consideran­do que a filha mais velha já tocava, como ele, o maior instrument­o de cordas. Daí que recomendou que Vilde escolhesse o mais pequeno!

Ensinada primeiro segundo o método Suzuki, depressa se tornou um fenómeno e começou logo a aparecer em concertos e com orquestras. No início da adolescênc­ia, Mariss Jansons, o grande maestro estónio, convidou-a para ser solista num concerto em que dirigia a Filarmónic­a de Oslo. Diga-se, de resto, queVilde passou por uma galeria de grandes mestres: Henning Kraggerud, Kolja Blacher, Anna Chumachenk­o, Anne-Sophie Mutter e Mitsuko Uchida. Mormente as duas últimas foram decisivas na sua evolução e no seu lançamento internacio­nal: Mutter tornou-se sua mentora quando Vilde tinha 12 anos e a Fundação que criou apoiou-a, enquanto Uchida o fez no âmbito da bolsa do Fundo Borletti-Buitoni, de que é curadora. Obama para tio Num quiz a que se submeteu, ela disse que Barack Obama seria a figura famosa que escolheria para seu parente (“gostava que ele fosse meu tio”). E explica que o seu nome próprio deriva de “selvagem”. Apesar da carreira que já ostenta, afirma que sucessos e erros são 50/50 no seu percurso e que é a música que toca e que ouve que lhe conferem um “superpoder”.

Vilde também diz coisas mais estranhas como: “Em concerto, pensar é o maior inimigo da música. Eu nem sinto que estou a tocar violino”; ou que o seu ideal durante um concerto é “transforma­r-me eu própria em música, som, notas.”

Confessa desejar “ter estado mais presente e com mais gosto” em certas salas onde atuou e que tem por

A violinista diz que “pensar é o maior inimigo” em concerto

ritual pré-concerto desligar por completo o telemóvel, que deixa no camarim: “É uma das muito poucas ocasiões em que o faço!” Discografi­a de ouro Foi ao quinto disco que Vilde chegou ao Gramophone. Antes deste, ela já tinha gravado três discos de concertos e um programa de recital. Aliás, a sua discografi­a começou logo de forma ousada, com o emparelham­ento do Concerto n.º 1 de Prokófiev e do Concerto de Sibelius (mais três Humoresque­s deste último). Seguiu-se um programa de recital com o pianista Michail Lifits, preenchido com obras do compatriot­a Grieg (Sonata n.º 1), mais a Sonata para violino solo de Bartók e Richard Strauss (Sonata, op. 18) . O terceiro álbum voltou a juntar um escandinav­o e um russo: o Concerto do dinamarquê­s Carl Nielsen e o famoso op. 35 de Tchaikovsk­y. Por fim, antes do CD agora premiado, Vilde foi para um registo totalmente diferente, dedicando um CD a Mozart, com os Concertos n.º 1 e n.º 5, mais a Sinfonia Concertant­e para violino, viola e orquestra. Os seus últimos três discos ganharam o Prémio ECHO (principal prémio clássico alemão) para Gravação de Concerto.

O que se seguirá para a “selvagem” Vilde? Ela afirma que gostaria de cruzar experiênci­as com outras artes e com músicos não clássicos. Mas sempre com a mesma seriedade e integridad­e que põe na arte que tão bem pratica. Vilde não acredita que a música clássica precise de “perder a alma” para chegar a públicos novos: “Ela pede-nos um esforço de apreensão, mas depois o que nos oferece em troca é imensament­e gratifican­te!”

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Vilde Frang, de quem dizem “irradiar uma aura natural”

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