Diário de Notícias

Pai de Magda Goebbels era judeu

Mulher do ministro da Propaganda nazi seria filha de empresário que morreu num campo de concentraç­ão.

- SUSANA SALVADOR

Numa entrada datada de 1934 no diário de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda nazi, lê-se que a mulher tinha descoberto algo “horrível” sobre o passado. Agora, um historiado­r alemão revelou qual podia ser o segredo: Magda Goebbels seria filha biológica de Richard Friedlände­r, um empresário judeu que morreu no campo de concentraç­ão de Buchenwald, em 1939. Caso a verdade tivesse sido conhecida na altura, teria abalado a ideia de que os Goebbels eram a família ariana “ideal”.

Johanna Maria Magdalena, conhecida como Magda, nasceu em Berlim a 11 de novembro de 1901 e foi registada só com o apelido da mãe solteira, Behrendt. Até agora pensava-se que o pai seria o engenheiro Oskar Ritshel, que teria engravidad­o Auguste antes de se casar com ela, no final desse mesmo ano. Contudo, Magda nunca teve o seu apelido. Em 1905, o casal divorciou-se e três anos depois Auguste voltou a casar-se, com Friedlände­r.

O documento de residência do empresário judeu, encontrado nos arquivos de Berlim pelo historiado­r Oliver Hilmes e publicado no jornal alemão Bild, lista Magda como sua filha biológica. Até agora sabia-se apenas que ele a tinha adotado, dando-lhe o seu apelido. Pensa-se que o facto “horrível” que Goebbels menciona no diário podia ser que Magda descobrira que a mãe e Friedlände­r tinham tido um caso antes de ela se casar com Ritshel. O segundo casamento de Auguste também não durou, com o divórcio a surgir em 1914, quando Magda ainda era adolescent­e.

Não se pode dizer que Magda era judia, já que tradiciona­lmente essa denominaçã­o só é atribuída às filhas das mulheres judias ou a quem se converte de acordo com a lei judaica. A mãe dela era católica. Magda Friedlände­r, que tinha sido educada num colégio de freiras, voltou a adotar o apelido Behrendt antes de se casar com o industrial alemão Günther Quandt – que tinha o dobro da sua idade, era viúvo e foi o fundador do império que inclui hoje a BMW. Os dois casaram-se no início de 1921 e em novembro nascia o único filho do casal, Harald.

Mas seria pelo apelido Goebbels que Magda ficaria conhecida. Em 1929, Quandt terá descoberto que a mulher tinha um caso e divorciou-se dela. No ano seguinte, Magda aderiu ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhado­res Alemães, o Partido Nazi. Acabaria por se cruzar com Joseph Goebbels nos escritório­s de Berlim e entre o início da relação de ambos e o casamento, no final de 1931, não passou um ano. Hitler foi o padrinho.

Entretanto, os nazis estavam a ganhar força na Alemanha, vencendo as eleições de 1933. Goebbels foi nomeado ministro da Propaganda nazi e, como Hitler queria manter a sua relação com Eva Braun em segredo, Magda surgia quase como a “primeira-dama” do Terceiro Reich. Ela era o rosto feminino do regime antissemit­a nazi, o exemplo que as outras mulheres deviam imitar. O casal teve seis filhos e era a família ariana “ideal” (apesar das infidelida­des de ambas as partes).

Desde o primeiro casamento com Quandt que Magda teria cortado relações com o antigo padrasto (cujos documentos revelam que afinal era o pai biológico), que estaria então na pobreza. A 15 de junho de 1938, Friedlände­r foi detido e enviado para o campo de concentraç­ão de Buchenwald, onde acabaria por morrer em fevereiro do ano seguinte, ainda antes do início da II Guerra Mundial (1939-1945). Magda não terá feito nada para o ajudar. Homicídio e suicídio Com a entrada do exército soviético em Berlim, em abril de 1945, os Goebbels refugiaram-se com os seis filhos num bunker com Hitler e os principais dirigentes nazis. “Temos agora um único objetivo: lealdade até à morte com o líder”, escreveu Magda na carta de despedida para o filho Harald, que tinha sido capturado pelos aliados em Itália em 1944 e que seria o único a sobreviver. Na missiva, explica que quis ficar com a família apesar de Hitler ter sugerido que fugisse.

“A nossa ideia gloriosa está arruinada e com ela tudo o que de lindo e maravilhos­o conheci na minha vida. O mundo que vem após o Führer e o nacional-socialismo não é algo pelo qual vale a pena viver e, portanto, levo as crianças comigo, pois eles são muito bons para a vida que se seguiria, e um Deus misericord­ioso vai entender quando eu lhes der a salvação”, lia-se na carta. Magda e Joseph suicidaram-se a 1 de maio de 1945 depois de matarem os filhos, com cápsulas de cianeto.

Richard Friedlände­r casou-se com a mãe de Magda quando ela tinha 7 anos

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