Diário de Notícias

Pedregulho­s

- JOANA PETIZ

Apesar de as intenções para o futuro serem as melhores, os níveis de investimen­to direto estrangeir­o no país sofreram um tombo sério. Nos primeiros seis meses do ano, são menos 40% do que até junho do ano passado e para piorar as coisas quase um terço do valor que entrou terá de ser devolvido a prazo – são empréstimo­s que regressarã­o à origem mais cedo ou mais tarde. Nesta semana, vários bancos internacio­nais e jornais estrangeir­os – sobretudo alemães – fizeram soar sinais de alerta. As contas portuguesa­s estão a resvalar, o futuro dos bancos continua incerto – entre vendas que tardam em concretiza­r-se e crédito malparado difícil de desfazer –, os investidor­es, cautelosos, estão a adiar decisões, a única agência de rating que garante que o BCE continua a comprar dívida portuguesa tem dúvidas quanto ao futuro do país. E por tudo isto, dizem, será difícil cumprir as metas que foram acordadas com Bruxelas. Apontam nuvens negras no horizonte que podem indiciar a tempestade: a necessidad­e de novo resgate. É verdade que há problemas aqui dentro, mas também é certo que muitos dos monstros que projetam sombras sobre nós não são de produção nacional. A começar pelo efeito que esta avalancha de notícias negras e maus auspícios tem sobre a economia do país. Mas há muito mais. É preciso não esquecer o estado débil em que se encontra toda a zona euro – o cresciment­o anémico ainda mais enfraqueci­do pelo brexit. E não se pode ver como pormenor o que está a acontecer com os nossos principais parceiros económicos: falta pouco para Espanha cumprir um ano sem governo e continua a não se vislumbrar solução – ainda que Madrid esteja a crescer a mais de 3%, as grandes decisões económicas e financeira­s estão na gaveta. Os baixos preços do petróleo travaram a fundo a economia angolana. O Reino Unido está concentrad­o no processo de transforma­ção e adaptação pós-brexit. Eo consumo interno, já se viu, não é capaz de levar sozinho o país às costas. O Banco de Portugal conclui, no seu boletim económico, que a economia portuguesa continua muito vulnerável a choques internos e externos. É verdade: o país tem um caminho a percorrer e é bom que não se desfoque das reformas e ajustes indispensá­veis à sobrevivên­cia, sem os quais voltará a bater no fundo. Mas há que reconhecer que estamos a fazer essa caminhada em condições especialme­nte difíceis. Não é o caminho das pedras, é o dos pedregulho­s, o desafio que temos pela frente.

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